O tratamento quimioterápico por vezes impacta diretamente na alimentação dos pacientes, seja por falta de apetite ou por dificuldade de comer certos ingredientes. Por isso, é importante adaptar as refeições durante esse período, sempre se atentando a alguns cuidados diários, desde a escolha dos alimentos até a divisão das porções.
Confira agora cinco dicas que podem ajudar:
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1. Consuma vegetais fontes de fitoquímicos
O nome diferente significa algo que você já conhece. É que fitoquímicos são compostos que estão presentes naturalmente nas plantas e que, quando consumidos, proporcionam vários benefícios à saúde. Alimentos de origem vegetal, como frutas, verduras, legumes, nozes e grãos inteiros, são repletos de micronutrientes e fibras, além de fitoquímicos.
Esses compostos podem agir de várias maneiras para proteger a saúde e há estudos que indicam que alguns podem até interromper a ação de agentes causadores do câncer antes que o processo de desenvolvimento da doença aconteça.
Por isso, o Instituto Americano de Pesquisa do Câncer (AICR) recomenda que pelo menos 2/3 do seu prato sejam preenchidos com alimentos à base de plantas. Dessa forma, o corpo fica mais bem nutrido e, consequentemente, os fitoquímicos ingeridos podem ajudar a proteger as células de danos oxidativos.
Veja abaixo as principais fontes e efeitos atribuídos aos fitoquímicos. Vale ressaltar que não existe uma quantidade estabelecida individualmente para consumo diário, no entanto, há diretrizes orientando um consumo mínimo de 500g/dia de frutas e vegetais.
Defina com a sua nutricionista suas próprias metas individuais e como atingi-las:
- Carotenoides (como betacaroteno, licopeno, luteína, zeaxantina). É encontrado em frutas vermelhas, alaranjadas e verdes (incluindo: brócolis, cenoura, tomate cozido, folhas verdes, batata doce, abóbora, damasco, melão, melancia, laranja). Eles funcionam como antioxidantes, compostos que agem na melhora da resposta imune.
- Flavonoides (como antocianina e quercetina). Suas fontes incluem maçãs, frutas cítricas, cebola, soja e produtos de soja (tofu, leite de soja, edamame, etc.), café e chá. Podem inibir a inflamação no organismo; reforçar a imunidade e aumentar a produção de enzimas de desintoxicação no corpo.
- Ìndols e Glicosinolatos (sulforafano). Presentes nos vegetais crucíferos (brócolis, repolho, couve, couve, couve-flor e couve de Bruxelas). Pode ajudar na desintoxicação e atuam diretamente na produção de hormônios importantes para o bom funcionamento do organismo.
- Inositol (ácido fítico). Encontrado no farelo de milho, aveia, arroz, centeio e trigo, nozes, grãos de soja e produtos de soja (tofu, leite de soja, edamame etc.). Assim como os carotenoides, agem como antioxidantes.
- Isoflavonas (Daidzeína e genisteína). Podem ser achadas na soja e em produtos derivados (tofu, leite de soja, edamame, etc.). Ele são capazes de limitar a produção de hormônios e geralmente trabalham como antioxidantes.
- Isotiocianatos. Assim como os índols, são encontrados nos vegetais crucíferos (brócolis, repolho, couve, couve, couve-flor e couve de Bruxelas). Podem induzir a desintoxicação no organismo e também funcionam como antioxidantes.
- Polifenóis (ácido elágico e resveratrol). Presente em chá verde, uvas, vinho tinto, frutas vermelhas, frutas cítricas, maçãs, grãos integrais e amendoim. Podem evitar a inflamação e trabalharem como antioxidantes.
- Terpenos (álcool perílico, limoneno, carnosol). Alimentos como cerejas, casca de cítricos e alecrim são ricos neles. Podem proteger as células, fortalecem a função imunológica, limitam a produção hormonal, combatem vírus e funcionam como antioxidantes.
2. Só coma alimentos bem higienizados
É preciso garantir que os alimentos não causem problemas gastrointestinais. E isso se faz consumindo alimentos seguros microbiologicamente, ou seja, limpos e sem contaminação.
Aprenda o passo a passo para a higienização a seguir:
- Para higienizar frutas e verduras, o ideal é preparar duas bacias: uma com solução clorada e outra com água filtrada ou fervida.
- Você vai deixar os alimentos de molho na solução, podendo usar solução de hipoclorito de sódio (use 1 colher (sopa) para cada 1 litro de água) ou produtos específicos para desinfecção de hortifruti. Mas atenção: lavar com vinagre ou bicarbonato não é suficiente!
- Já na outra bacia com água limpa (filtrada ou fervida), você usará para enxaguar após ficar em solução clorada. Mas vale lembrar: além de higienizar tudo corretamente, é preciso manter o alimento “limpo” até consumi-lo.
3. Consuma uma quantidade de proteínas adequada
O consumo adequado de proteínas está associado com a manutenção de massa muscular e um melhor resultado no tratamento de pacientes com câncer. Na presença de alguns sintomas associados ao tratamento, como redução ou falta de apetite, torna-se difícil ingerir a quantidade de proteínas necessárias vindas de fontes alimentares.
Uma opção para melhorar essa ingestão é realizar o enriquecimento nutricional das preparações ou fazer trocar inteligentes. O nutricionista pode te ajudar nessas ações.
Alguns exemplos:
- Coloque mais ovos nas receitas de bolo e pão caseiro.
- Inclua amendoim torrado ou pasta de amendoim no mingau e na vitamina.
- Substitua geleia de frutas do pão por patê de atum.
Com trocas desse tipo na dieta diária, dá para aumentar significativamente a quantidade de proteína ingeridas e isso pode impactar em menor perda de massa muscular, menor fadiga, e melhor qualidade de vida.
Embora o enriquecimento de preparações possa ser a primeira estratégia adotada, algumas vezes não será o bastante e o uso de suplementos pode ser necessário. Eles podem ser completos nutricionalmente (com carboidrato, proteína, lipídeo, vitaminas e minerais na composição) ou compostos apenas de proteína isolada. Caso não esteja conseguindo se alimentar muito bem, pergunte ao nutricionista ou profissional de saúde que te acompanha se o uso dos suplementos é uma opção válida para o seu caso!
4. Tome cuidado com os efeitos colaterais
O melhor plano alimentar é aquele em que é possível seguir as orientações. E por isso, é importante notar que muitos quimioterápicos têm uma lista ampla de efeitos colaterais.
Portanto, alguns ajustes provavelmente serão necessários a cada ciclo na alimentação. Por exemplo, certos tipos de tratamentos podem gerar desconfortos ou lesões na mucosa (como mucosite) que indicam a necessidade de alimentos em temperatura mais fria e consistência liquida/pastosa para uma melhor aceitação. Nesse caso, você pode lançar mão de cremes de frutas, mingau de aveia com leite de coco, tigela de açaí com frutas vermelhas etc.
Alguns medicamentos levam também a alterações gastrointestinais, e nestes casos, é preciso modificar o teor de fibra da alimentação. Quando a constipação está presente é importante entender junto a equipe médica o motivo do quadro. Na maioria dos casos, adequar a ingestão de fibras ao consumo de água pode ajudar.
Receita de creme laxativo
- 100 g iogurte natural
- ½ laranja lima (sem casca e semente, com bagaço)
- 3 ameixas preta
- 1 colher (sobremesa) de linhaça
- 1 colher (café) de chia
Modo de preparo
- Bata todos os ingredientes no liquidificador até que se tornem uma mistura homogênea.
- Sirva em temperatura ambiente.
5. Fracione as refeições com acompanhamento nutricional
Comer mais vezes ao dia, mesmo que em menor quantidade é muito importante.
Alguns quimioterápicos reduzem o pH e a liberação dos alimentos do estômago para o intestino, fazendo com que a sensação de saciedade se prolongue. Por isso, a orientação está em adotar um fracionamento de 5 a 6 refeições por dia, sem necessidade de grandes volumes em cada refeição.
Esse fracionamento deve ser combinado com o nutricionista e seguido de forma a causar menor desconforto, pensando na qualidade de vida. É importante estar ciente dos horários e tipos de alimentos para melhorar essa divisão.
Por fim, vale ressaltar que os suplementos nutricionais e o enriquecimento de preparações caseiras também podem ser estratégias importantes durante o processo.
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