Para o tratamento de crianças com doença celíaca (DC), a melhor opção é seguir uma dieta isenta de glúten (DIG), em que alimentos como trigo, centeio e cevada são excluídos. Entretanto, por se tratar de um padrão alimentar restritivo, muitas deficiências nutricionais podem vir à tona.
Ainda não se sabe ao certo qual é o padrão e a frequência com que as deficiências nutricionais aparecem nas crianças celíacas. Por isso, um novo estudo científico buscou identificar a presença de deficiência de micronutrientes nesta população, após a adesão da dieta sem glúten.
Continue lendo para descobrir os principais achados desta pesquisa.
130 crianças com doença celíaca participaram do estudo
Nesta recente estudo retrospectivo, os autores incluíram dados de 130 crianças com doença celíaca, a partir de prontuários de um hospital acadêmico holandês especializado em DC pediátrica.
Nesse sentido, os pesquisadores coletaram os seguintes dados: história médica, medidas antropométricas, exame físico, níveis sanguíneos de anticorpos contra CD, genotipagem HLA e análises laboratoriais.
Os níveis de micronutrientes sanguíneos examinados foram:
- Cálcio;
- Ferro;
- Vitamina B6;
- Vitamina B12;
- Vitamina D;
- Ácido fólico;
- Zinco.
Além disso, os níveis de hemoglobina (Hb) foram avaliados em combinação com ferritina, para determinar a presença de anemia ferropriva (ADF).
Por fim, o desfecho primário (concentrações de micronutrientes no sangue) foi examinado no momento do diagnóstico, após 3 meses, e anualmente até os 10 anos.
Alta deficiência de ferro em crianças celíacas
Após a análise, os autores descobriram uma ampla variedade de deficiências nutricionais nas crianças com doenças celíacas, sejam elas duradouras ou recentemente descobertas.
As maiores frequências de deficiências ocorreram para o ferro (média de 33%) e a vitamina D (2.5%, mais 18.6% de insuficiência). Baixos níveis de ferro e ferritina diminuíram com o tempo, mas ainda permaneceram altas.
Em seguida, houve uma prevalência moderada nas deficiências de zinco (8%), ácido fólico (4.3%) e vitamina B12 (2.4%).
Em contrapartida, os autores não encontraram nenhuma deficiência de cálcio e vitamina B6.
Por que crianças com doença celíaca têm deficiência nutricional?
Existem três razões principais para a alta frequência de deficiências nutricionais em crianças com doença celíaca.
A primeira delas diz respeito ao dano intestinal, e, consequentemente, à baixa capacidade de absorção de nutrientes causada pela doença. Durante o tratamento, espera-se que a parede intestinal se recupere, mas a ingestão de glúten (intencional ou não) pode adiar essa recuperação.
Em segundo lugar, seguir uma dieta isenta de glúten (DIG) equilibrada e completa é um desafio, tanto para os pacientes quanto para os pais. Por exemplo, uma importante fonte de ferro são os produtos panificados enriquecidos com glúten, excluídos da alimentação. Sendo assim, o acompanhamento nutricional é essencial para que fontes do nutriente sejam adequadamente consumidas.
Por fim, não podemos esquecer que grande parte da população pediátrica já lida com deficiências nutricionais, mesmo crianças não celíacas. No entanto, não está claro se as deficiências de micronutrientes têm consequências diferentes para as crianças com ou sem DC.
O que podemos concluir?
Crianças com doença celíaca estão propensas a desenvolver diversas deficiências nutricionais, principalmente de ferro e vitamina D, por conta da restrição à determinados alimentos.
Por isso, é importante que estes pacientes contem com uma boa orientação dietética ao longo da infância, não apenas focada na eliminação do glúten, como também no valor nutricional da alimentação.
Atualmente, não existem diretrizes sólidas sobre o monitoramento nutricional em pacientes pediátricos com DC. Assim, os autores destacam a urgência na criação de tais diretrizes, a fim de prevenir consequências clínicas dos desequilíbrios nutricionais nesta população.
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Referência
Kreutz JM, Heynen L, Vreugdenhil ACE. Nutrient deficiencies in children with celiac disease during long term follow-up. Clin Nutr. 2023 Jul;42(7):1175-1180. doi: 10.1016/j.clnu.2023.05.003. Epub 2023 May 17. PMID: 37246082.
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