Em mulheres, as doenças cardiovasculares continuam sendo subdiagnosticadas e subtratadas. Nesse contexto, os biomarcadores cardiovasculares sanguíneos podem ser fundamentais para identificar e quantificar o risco cardiovascular, além de direcionar intervenções preventivas e terapêuticas mais eficazes.
Dados crescentes mostram uma relação entre a redução da inflamação e diminuição de eventos cardiovasculares. Por isso, marcadores sanguíneos que investiguem a presença de inflamação podem ser aliados valiosos na estratégia de avaliação e manejo da saúde cardiovascular feminina, indo além da simples medição do colesterol.
Um recente estudo buscou investigar a avaliação do risco cardiovascular a longo prazo em mulheres, por meio de biomarcadores inflamatórios. A seguir, confira os detalhes e os resultados dessa pesquisa.
Mais de 27 mil participantes, com até 30 anos de acompanhamento
O estudo em questão acompanhou um total de 27.939 profissionais de saúde saudáveis do sexo feminino nos Estados Unidos, com amostras de sangue colateadas entre 1992 e 1995. Nesse sentido, a investigação contou com um acompanhamento de até 30 anos.
Os biomarcadores investigados foram:
- PCR de alta sensibilidade
- Colesterol LDL
- Lipoproteína(a) – Lp(a)
A população foi estratificada de acordo com quintis para cada biomarcador, sendo o quintil 1 o que apresentava os níveis mais baixos e o quintil 5 o que apresentava os níveis mais altos.
O desfecho primário foi a ocorrência de um primeiro evento cardiovascular maior, composto dos seguintes eventos:
- Infarto do miocárdio incidente, confirmado se o evento estivesse associado a biomarcadores de dano miocárdico ou atendesse aos critérios eletrocardiográficos diagnósticos;
- Acidente vascular cerebral incidente, confirmado se as participantes apresentassem novos déficits neurológicos que persistissem por mais de 24 horas e que fossem classificados como hemorrágicos ou isquêmicos em tomografia computadorizada ou ressonância magnética;
- Revascularização coronária, confirmada por relatórios hospitalares;
- Morte por doença cardiovascular, confirmada com dados adicionais de relatórios de autópsia e certidões de óbito.
A combinação de biomarcadores previu eventos cardiovasculares
Durante o período da pesquisa, ocorreram 3.662 primeiros eventos cardiovasculares maiores. Os achados do estudo mostraram que os três biomarcadores investigados (PCR, LDL E Lp(a)) desempenharam papéis complementares na estratificação do risco cardiovascular em mulheres ao longo dos 30 anos de acompanhamento.
Cada biomarcador contribuiu com informações adicionais ao risco, e a combinação de todos os marcadores forneceu a maior variação de risco, ou seja, foi a mais precisa na previsão de eventos cardiovasculares.
PCR de alta sensibilidade: A PCRas foi fortemente associada ao risco cardiovascular, com um aumento significativo do risco observado a cada quintil mais elevado. Este biomarcador inflamatório forneceu uma predição robusta a longo prazo, demonstrando que a inflamação crônica tem um impacto relevante no desenvolvimento de eventos cardiovasculares.
Colesterol LDL: Assim como a PCRas, o colesterol LDL também esteve diretamente relacionado ao aumento do risco de eventos cardiovasculares maiores. O risco aumentou de forma progressiva em cada quintil, reforçando a importância do controle do colesterol LDL na prevenção de doenças cardiovasculares.
Lipoproteína(a) – Lp(a): A Lp(a) mostrou um impacto significativo no risco cardiovascular, especialmente no quintil mais alto. Embora geneticamente determinada e menos influenciada por fatores modificáveis, a Lp(a) foi um importante preditor de risco cardiovascular, particularmente em mulheres com níveis elevados.
O que podemos concluir?
Em resumo, os pesquisadores descobriram que uma única medida combinada de níveis de PCR de alta sensibilidade, colesterol LDL e lipoproteína(a) em mulheres inicialmente saudáveis nos EUA previu eventos cardiovasculares incidentes ao longo de um período de 30 anos.
Portanto, a combinação desses biomarcadores em uma abordagem multifatorial, que considera tanto inflamação quanto dislipidemia, pode ser essencial para a previsão e prevenção a longo prazo de doenças cardiovasculares.
Por fim, a inclusão rotineira desses biomarcadores no acompanhamento clínico pode melhorar a estratificação de risco e guiar intervenções mais personalizadas, seja por meio de mudanças no estilo de vida ou do uso de terapias farmacológicas.
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Referência:
Ridker PM, Moorthy MV, Cook NR, Rifai N, Lee IM, Buring JE. Inflammation, Cholesterol, Lipoprotein(a), and 30-Year Cardiovascular Outcomes in Women. N Engl J Med. 2024 Aug 31. doi: 10.1056/NEJMoa2405182. Epub ahead of print. PMID: 39216091.
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