O jejum pré-operatório é uma prática utilizada para minimizar o conteúdo gástrico, diminuindo os riscos de regurgitação e aspiração pulmonar. Entretanto, o jejum prolongado tem consequências adversas bem descritas na literatura, e é muitas vezes mais longo do que o recomendado.
Recentemente, a Sociedade Americana de Anestesiologistas (ASA) buscou revisar suas diretrizes para jejum pré-operatório, com enfoque em temas não abordados anteriormente, incluindo a abreviação do jejum.
Com essa diretriz, os autores visam atingir profissionais de saúde que trabalham com a população saudável submetida à anestesia geral, anestesia regional ou sedação para procedimentos eletivos.
Neste artigo, reunimos as principais recomendações feitas pelos especialistas. Conheça-as a seguir.
Malefícios do jejum prolongado
O jejum prolongado pode trazer alguns resultados adversos significativos, tais como:
- Sede pré-operatória;
- Fome;
- Ansiedade;
- Náuseas e vômitos;
- Hipertensão;
- Sensação reduzida de bem-estar.
Além disso, desfechos clínicos relacionados ao jejum prolongado incluem a desidratação, o desequilíbrio eletrolítico, e a hipotensão na indução da anestesia geral.
Com estes malefícios, a abreviação do jejum é uma prática que deve ser buscada por profissionais, da maneira mais segura possível.
Abreviação do jejum pré-operatório: como conduzir?
A principal recomendação para a abreviação do jejum é a ingestão de até 400 ml de líquidos claros contendo carboidratos (simples ou complexos), em até 2 horas antes da anestesia.
Essa prática serviria para minimizar os danos potenciais do jejum prolongado, incluindo fome e sede. Na literatura científica, não houve incidência de aspiração ou regurgitação com essa estratégia. Portanto, os benefícios são claros.
Em pacientes com diabetes, no entanto, esses líquidos podem impactar a glicemia. Por isso, o acompanhamento do glicosímetro deve orientar a escolha entre líquidos com carboidratos, ou líquidos não calóricos.
Os autores não recomendam líquidos contendo proteínas, devido à falta de evidências científicas.
Goma de mascar: existem benefícios na abreviação de jejum?
O uso de gomas de mascar na abreviação do jejum não possui estudos suficientes, e as pesquisas são inconsistentes. Por isso, essa prática não deve ser incentivada.
Entretanto, para pacientes que mascam chicletes por conforto ou preferência pessoal, recomenda-se não atrasar os procedimentos eletivos, pois evidências de danos também são inconclusivas.
Claramente, a goma de mascar deve ser removida antes da administração de qualquer sedativo ou anestésico.
Mensagem final
Dado aos malefícios do jejum prolongado, a Sociedade Americana de Anestesiologistas (ASA) indica que a abreviação do jejum seja realizada a partir de líquidos contendo carboidratos.
Os autores orientam que as informações da diretriz sejam disseminadas, educando as equipes de atendimento aos pacientes. Para isso, é necessário atualizar as políticas, a literatura impressa e os cartazes de parede no ambiente hospitalar.
Para ler a diretriz completa, clique aqui.
Leia também:
- Abreviação de jejum com carboidrato e whey protein
- Diretriz ESPEN sobre nutrição hospitalar
- Diretriz BRASPEN de Terapia Nutricional no Paciente com Doenças Neurodegenerativas
Referência:
Joshi, Girish P., et al. “2023 American Society of Anesthesiologists Practice Guidelines for Preoperative Fasting: Carbohydrate-containing Clear Liquids with or without Protein, Chewing Gum, and Pediatric Fasting Duration—A Modular Update of the 2017 American Society of Anesthesiologists Practice Guidelines for Preoperative Fasting.” Anesthesiology 138.2 (2023): 132-151.