Cuidados primários em Diabetes – Diretrizes ADA

Postado em 29 de janeiro de 2025

Confira as recomendações da Associação Americana de Diabetes para o cuidado primário da doença.

O Diabetes Mellitus é uma doença crônica que atinge boa parte da população. Recentemente, a Associação Americana de Diabetes (ADA) atualizou suas recomendações para cuidados primários em diabetes, orientando as melhores formas de diagnóstico e tratamento desta enfermidade. Vamos conferir essas recomendações?

Cuidados primários em diabetes

Diabetes: classificação

Segundo a ADA, o diabetes pode ser classificado nas seguintes categorias:

  • Diabetes tipo 1: ocorre devido à destruição autoimune das células β, geralmente levando à deficiência absoluta de insulina, incluindo diabetes autoimune latente em adultos.
  • Diabetes tipo 2: ocorre devido a uma perda progressiva não autoimune da secreção adequada de insulina pelas células β, frequentemente no contexto de resistência à insulina.
  • Diabetes mellitus gestacional (DMG): diabetes diagnosticado no 2º ou 3º trimestre da gravidez que não era claramente diabetes antes da gestação, ou outros tipos de diabetes que ocorrem durante a gravidez, como diabetes tipo 1.
  • Outros tipos: diabetes devido a outras causas, por exemplo, síndromes de diabetes monogênicas, doenças do pâncreas exócrino e diabetes induzida por drogas ou produtos químicos.

Como diagnosticar diabetes?

A triagem para risco de pré-diabetes e diabetes tipo 2 com uma avaliação de fatores de risco ou calculadora de risco validada deve ser feita em adultos assintomáticos, começando aos 35 anos. 

Porém, o teste para pré-diabetes ou diabetes tipo 2 em pessoas assintomáticas deve ser considerado em adultos de qualquer idade com sobrepeso ou obesidade que tenham um ou mais fatores de risco.

Baixe o infográfico gratuito: Triagem para risco de diabetes tipo 2.

O diabetes deve ser diagnosticado com base nos critérios de hemoglobina glicada ou glicose plasmática. Os critérios de glicose plasmática incluem glicose plasmática de jejum (FPG), glicose plasmática de 2 horas (2-h PG) durante um teste oral de tolerância à glicose com 75 g (OGTT) ou glicose aleatória acompanhada de sintomas hipoglicêmicos clássicos ou crises hiperglicêmicas.

Na ausência de hiperglicemia inequívoca (por exemplo, crises hiperglicêmicas), o diagnóstico requer testes confirmatórios.

Os mesmos testes podem ser usados ​​para rastrear e diagnosticar diabetes e para detectar indivíduos com pré-diabetes. Os critérios estabelecidos para triagem e diagnóstico de pré-diabetes e diabetes são apresentados na tabela a seguir.

Pré-diabetesDiabetes
Hemoglobina glicada HbA1c5.7 a 6.4% (39 a 47 mmol/mol)≥ 6.5% (48 mmol/mol)
Glicemia em jejum100 a 125 m/dL (5.6 a 6.9 mmol/L)≥ 126 mg/dL (7.0 mmol/L)
Glicose plasmática de 2 horas durante OGTT de 75 g140 a 199 mg/dL (7.8 a 11.0 mmol/L)≥ 200 mg/dL (11.1 mmol/L)
Glicose plasmática aleatória≥ 200 mg/dL (11.1 mmol/L)

Como prevenir o diabetes?

A prevenção do diabetes deve se dar especialmente para indivíduos em alto risco, incluindo aqueles com sobrepeso/obesidade, níveis de glicose mais altos ou histórico de DMG.

Em relação às mudanças de estilo de vida, o risco de DM2 pode ser reduzido em 58% em 3 anos. Por isso, a ADA recomenda um programa intensivo de mudança de comportamento, focado na promoção de uma dieta saudável, redução do peso corporal (ao menos 7%), e ≥150 minutos/semana de atividade física moderada.

Os profissionais também destacam o sono como um componente central no gerenciamento do pré-diabetes e do diabetes tipo 2. Uma quantidade em torno de 7 horas de sono por noite parece ser o ideal. A má qualidade do sono foi associada a um aumento de 40 a 84% no risco de desenvolver diabetes tipo 2.

Já para as intervenções farmacológicas, os especialistas indicam a terapia com metformina em adultos com alto risco de DM2, especialmente para aqueles:

  • Com idade dade entre 25 a 59 anos;
  • IMC 35 ≥ kg/m²;
  • Glicemia de jejum mais alta, como ≥110 mg/dL;
  • Hemoglobina glicada mais alta, como ≥6,0%
  • DMG anterior.

A metformina possui os maiores dados de segurança como terapia farmacológica para prevenção do diabetes. Entretanto, os autores ressaltam que o uso prolongado de metformina pode causar deficiência de vitamina B12. Sendo assim, deve-se haver uma  avaliação periódica deste nutriente, especialmente naqueles que recebem uma dose mais alta (por exemplo, ≥ 1.500  mg/dia), uma duração de tratamento mais longa, ou naqueles com fatores de risco existentes.

Tratamento do diabetes: objetivos e metas glicêmicas

O principal objetivo da terapia nutricional em adultos com diabetes é promover e apoiar padrões alimentares saudáveis, com uma variedade de alimentos ricos e em porções adequadas. Isso ajuda a retardar/prevenir complicações, e atingir metas de peso, metas glicêmicas, de pressão arterial e lipídicas.

A ADA recomenda que os profissionais de saúde forneçam ferramentas práticas para desenvolver padrões alimentares saudáveis, ao invés de focar em macros, micronutrientes ou alimentos individuais.

Em relação às metas glicêmicas, os alvos glicêmicos recomendados são mostrados na tabela abaixo.

Hemoglobina glicada HbA1c <7,0% (53 mmol/mol)
Glicemia capilar pré-prandial   80–130 mg/dL* (4,4–7,2 mmol/L)
Pico de glicose plasmática capilar pós-prandial   <180 mg/dL* (10,0 mmol/L)

Apesar destes alvos generalizados, as metas glicêmicas devem ser individualizadas com base em:

  • Duração do diabetes;
  • Idade/expectativa de vida;
  • Comorbidades;
  • Doenças cardiovasculares ou microvasculares avançadas
  • Considerações individuais do paciente.

Desse modo, metas glicêmicas mais ou menos rigorosas podem ser apropriadas. Por exemplo, HbA1c <8% é indicado quando a expectativa de vida é limitada, ou quando os danos do tratamento são maiores que os benefícios. A menor intensidade do tratamento também pode ser considerada para reduzir a hipoglicemia.

Obesidade e diabetes

Em indivíduos com sobrepeso ou obesidade, a triagem para a diabetes deve ser considerada nos seguintes casos:

  • Há parentes de primeiro grau com diabetes;
  • Histórico de DCV;
  • Presença de hipertensão arterial;
  • Colesterol HDL <35 mg/dL e/ou nível de triglicerídeos >250 mg/dL;
  • Presença se síndrome dos ovários policísticos;
  • inatividade física;
  • Outras condições clínicas associadas à resistência à insulina.

A perda de peso retarda a progressão da doença. As perdas leves (3 a 7%) melhoram a glicemia e fatores cardiovasculares, enquanto perdas maiores (>10%) conferem os maiores benefícios, incluindo a remissão do DM2.

O déficit energético recomendado é de 500 a 750 kcal/dia, através de aconselhamento nutricional (ao menos 16 sessões em 6 meses), atividade física e estratégias comportamentais. 

A intervenção nutricional de curto prazo usando refeições estruturadas e de muito baixas calorias (800 a 1.000 kcal/dia) deve ser prescrita apenas para indivíduos cuidadosamente selecionados por profissionais treinados em ambientes médicos, com monitoramento rigoroso.

A farmacoterapia para controle de peso deve ser considerada para pessoas com diabetes e sobrepeso ou obesidade. Nesse sentido, a farmacoterapia preferida inclui semaglutida ou tirzepatida, especialmente considerando seus benefícios adicionais independentes do peso (por exemplo, glicêmicos e cardiometabólicos).

Demais recomendações

Além das orientações abordadas até aqui, a ADA comenta sobre as melhores tecnologias para diabetes, retinopatia e neuropatia diabética, cuidado com os pés, orientações para gestantes, crianças e idosos, cuidados hospitalares, entre outros.

Com essas orientações voltadas aos profissionais de saúde do cuidado primário, será possível melhorar a prevenção e o tratamento desta enfermidade que atinge tantas pessoas.

Para conferir a diretriz completa, clique aqui.

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Referência:

American Diabetes Association Professional Practice Committee; Standards of Care in Diabetes—2025. Diabetes Care 1 January 2025; 48 (Supplement_1): S1–S5. https://doi.org/10.2337/dc25-SINT

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