O Diabetes Mellitus é uma doença crônica que atinge boa parte da população. Recentemente, a Associação Americana de Diabetes (ADA) atualizou suas recomendações para cuidados primários em diabetes, orientando as melhores formas de diagnóstico e tratamento desta enfermidade. Vamos conferir essas recomendações?
Diabetes: classificação
Segundo a ADA, o diabetes pode ser classificado nas seguintes categorias:
- Diabetes tipo 1: ocorre devido à destruição autoimune das células β do pâncreas, levando à deficiência absoluta de insulina.
- Diabetes tipo 2: ocorre devido a uma perda progressiva da secreção de insulina das células β, no contexto de resistência à insulina.
- Diabetes mellitus gestacional (DMG): diabetes diagnosticado no 2º ou 3º da gravidez, que não era evidente antes da gestação.
- Outros tipos: diabetes que ocorre devido outras causas, como síndromes de diabetes monogênicas, doenças do pâncreas exócrino, ou induzida por drogas/produtos químicos.
Como diagnosticar diabetes?
Os critérios estabelecidos para triagem e diagnóstico de pré-diabetes e diabetes são apresentados na tabela a seguir.
Pré-diabetes | Diabetes | |
Hemoglobina glicada HbA1c | 5.7 a 6.4% (39 a 47 mmol/mol) | ≥ 6.5% (48 mmol/mol) |
Glicemia em jejum | 100 a 125 m/dL (5.6 a 6.9 mmol/L) | ≥ 126 mg/dL (7.0 mmol/L) |
Glicose plasmática de 2 horas durante OGTT de 75 g | 140 a 199 mg/dL (7.8 a 11.0 mmol/L) | ≥ 200 mg/dL (11.1 mmol/L) |
Glicose plasmática aleatória | – | ≥ 200 mg/dL (11.1 mmol/L) |
Pacientes assintomáticos com pré-diabetes devem ser testados anualmente. Já para mulheres diagnosticadas com DMG, os testes ao longo da vida devem se dar por, pelo menos, a cada 3 anos. Para os demais pacientes assintomáticos, os testes devem ser repetidos em intervalos mínimos de 3 anos, considerando testes mais frequentes dependendo da resultados iniciais e status de risco.
Como prevenir o diabetes?
A prevenção do diabetes deve se dar especialmente para indivíduos em alto risco, incluindo aqueles com sobrepeso/obesidade, níveis de glicose mais altos ou histórico de DMG.
Em relação às mudanças de estilo de vida, o risco de DM2 pode ser reduzido em 58% em 3 anos. Por isso, a ADA recomenda um programa intensivo de mudança de comportamento, focado na promoção de uma dieta saudável, redução do peso corporal (ao menos 7%), e ≥150 minutos/semana de atividade física moderada.
Já para as intervenções farmacológicas, os especialistas indicam a terapia com metformina em adultos com alto risco de DM2, especialmente para aqueles:
- Com idade dade entre 25 a 59 anos;
- IMC 35 ≥ kg/m²;
- Glicemia de jejum mais alta, como ≥110 mg/dL;
- Hemoglobina glicada mais alta, como ≥6,0%
- DMG anterior.
Os autores ressaltam que o uso prolongado de metformina pode causar deficiência de vitamina B12. Portanto, há necessidade de medição periódica dos níveis deste nutriente.
Tratamento do diabetes: objetivos e metas glicêmicas
O principal objetivo da terapia nutricional em adultos com diabetes é promover e apoiar padrões alimentares saudáveis, com uma variedade de alimentos ricos e em porções adequadas. Isso ajuda a retardar/prevenir complicações, e atingir metas de peso, metas glicêmicas, de pressão arterial e lipídicas.
A ADA recomenda que os profissionais de saúde forneçam ferramentas práticas para desenvolver padrões alimentares saudáveis, ao invés de focar em macros, micronutrientes ou alimentos individuais.
Em relação às metas glicêmicas, os alvos glicêmicos recomendados são mostrados na tabela abaixo.
Hemoglobina glicada HbA1c | <7,0% (53 mmol/mol) |
Glicemia capilar pré-prandial | 80–130 mg/dL* (4,4–7,2 mmol/L) |
Pico de glicose plasmática capilar pós-prandial | <180 mg/dL* (10,0 mmol/L) |
Apesar destes alvos generalizados, as metas glicêmicas devem ser individualizadas com base em:
- Duração do diabetes;
- Idade/expectativa de vida;
- Comorbidades;
- Doenças cardiovasculares ou microvasculares avançadas
- Considerações individuais do paciente.
Desse modo, metas glicêmicas mais ou menos rigorosas podem ser apropriadas. Por exemplo, HbA1c <8% é indicado quando a expectativa de vida é limitada, ou quando os danos do tratamento são maiores que os benefícios. A menor intensidade do tratamento também pode ser considerada para reduzir a hipoglicemia.
Obesidade e diabetes
Em indivíduos com sobrepeso ou obesidade, a triagem para a diabetes deve ser considerada nos seguintes casos:
- Há parentes de primeiro grau com diabetes;
- Histórico de DCV;
- Presença de hipertensão arterial;
- Colesterol HDL <35 mg/dL e/ou nível de triglicerídeos >250 mg/dL;
- Presença se síndrome dos ovários policísticos;
- inatividade física;
- Outras condições clínicas associadas à resistência à insulina.
A perda de peso retarda a progressão da doença. As perdas leves (3 a 7%) melhoram a glicemia e fatores cardiovasculares, enquanto perdas maiores (>10%) conferem os maiores benefícios, incluindo a remissão do DM2.
O déficit energético recomendado é de 500 a 750 kcal/dia, através de aconselhamento nutricional (ao menos 16 sessões em 6 meses), atividade física e estratégias comportamentais.
Demais recomendações
Além das orientações abordadas até aqui, a ADA comenta sobre as melhores tecnologias para diabetes, retinopatia e neuropatia diabética, cuidado com os pés, orientações para gestantes, crianças e idosos, cuidados hospitalares, entre outros.
Com essas orientações voltadas aos profissionais de saúde do cuidado primário, será possível melhorar a prevenção e o tratamento desta enfermidade que atinge tantas pessoas.
Para conferir a diretriz completa, clique aqui.
Leia também:
- Tratamento do diabetes tipo 1: recomendações ADA e EASD
- Transtornos alimentares na pessoa com diabetes – Diretrizes SBD
Referência:
American Diabetes Association. (2023). Standards of Care in Diabetes—2023 Abridged for Primary Care Providers. Clinical Diabetes, 41(1), 4-31.