Posicionamento ABESO: Tratamento Nutricional do Sobrepeso e Obesidade

Postado em 23 de setembro de 2022 | Autor: Redação Nutritotal

Enquanto a dieta mediterrânea e o déficit calórico são defendidos, a dieta low carb e cetogênica são contra-indicadas.

Recentemente, o Departamento de Nutrição da ABESO publicou um posicionamento com diversas recomendações para o tratamento nutricional do sobrepeso e da obesidade. Com  mais de 200 páginas, o documento visa difundir informações científicas e confiáveis para profissionais de saúde que trabalham com o manejo de pacientes acima do peso. Vamos conhecê-lo?

Tratamento nutricional do sobrepeso e obesidade

Foto: Shutterstock.com

Posicionamento ABESO: qual foi seu objetivo?

De acordo com dados do IBGE de 2019, é estimado que mais da metade da população brasileira (60.3%) esteja com sobrepeso, sendo 25.9% relativos à obesidade. Paralelamente, as comorbidades associadas ao excesso de peso também não param de crescer.

Diante deste cenário, o posicionamento ABESO teve por objetivo discutir as principais evidências científicas sobre os tratamentos nutricionais para sobrepeso e obesidade, de modo a orientar a conduta profissional correta e qualificada.

Para a elaboração deste documento, os autores priorizaram a busca por estudos randomizados controlados, revisões sistemáticas e metanálises publicados em revistas de alto impacto. Os artigos selecionados, com ênfase em estratégias de emagrecimento, foram analisados criticamente para construir as recomendações apresentadas pela diretriz.

A seguir, o Nutritotal PRO apresenta as principais orientações presentes no material.

Estratégias recomendadas

Dentre os diversos métodos para o tratamento nutricional da obesidade e sobrepeso encontrados na literatura científica, alguns deles se mostram comprovadamente eficazes.

Sendo assim, a ABESO se posiciona a favor das seguintes estratégias:

O padrão alimentar mediterrâneo, por exemplo, é defendido por sua grande oferta de polifenóis, que exibem atividade antioxidante e anti-inflamatória. Além disso, em conjunto com o consumo de gorduras saudáveis e alto teor de fibras que essa dieta promove, são inúmeros os benefícios metabólicos para pessoas com sobrepeso ou obesidade.

Estratégias recomendadas, mas com ressalvas

Além dos métodos totalmente comprovados e defendidos pelo Departamento de Nutrição, algumas outras estratégias também são recomendadas, mediante algumas observações. Conheça-as a seguir.

Dietas de muito baixas calorias (VLCDs)

Para a ABESO, as VLCDs (< 800 kcal/dia) não devem ser a primeira opção para tratamento da obesidade, sendo indicadas apenas em circunstâncias limitadas (como naqueles indivíduos cuja obesidade impacta imediatamente na sua capacidade física e funcional). Além disso, deve haver acompanhamento de médicos e nutricionistas.

Substitutos de refeição (SR)

É defendido que os SR podem fazer parte de uma alimentação saudável, principalmente para indivíduos que precisam da conveniência e praticidade. Porém, deve ser uma indicação individual, levando em consideração o custo e efeitos na saciedade (que podem ser diferentes de indivíduo para indivíduo). Além disso, é fundamental ter atenção à composição do produto, evitando aqueles com alto teor de açúcares, gorduras saturadas e/ou trans e baixo teor de fibras.

Dietas plant-based e vegetarianas

Dietas com exclusão de alimentos de origem animal podem ser uma opção para prevenção e tratamento da obesidade, desde que bem orientadas nutricionalmente e compatíveis com as motivações do indivíduo.

Uso da tecnologia

Para os pesquisadores da ABESO, as intervenções baseadas na internet (através de sites, mensagens ou aplicativos) parecem métodos promissores para auxiliar o manejo da obesidade, porém mais estudos são necessários para identificar métodos de manutenção do engajamento dos usuários.

Comer com atenção plena (Mindful Eating)

O Mindful Eating apresenta resultados contrastantes na literatura, acerca da sua capacidade de promover perda de peso. Seus resultados são promissores, mas a ABESO defende que evidências de maior qualidade são necessárias.

Estratégias insustentáveis

Além das estratégias recomendadas acima, a ABESO também se posiciona contra alguns métodos de emagrecimento.

Neste quesito, algumas intervenções citadas podem até promover a perda de peso a curto prazo, mas os resultados não permanecem por períodos mais longos. Ou seja, são estratégias insustentáveis ao longo do tempo. São elas:

Para a dieta cetogênica, por exemplo, os pesquisadores alertam que a perda de peso é advinda da diminuição da massa magra. Além disso, esse padrão não promove a alimentação balanceada e o equilíbrio adequado entre macro e micronutrientes. Portanto, é contraindicada na obesidade.

Estratégias não recomendadas

Por fim, o documento também traz posicionamentos contrários à diversos métodos de emagrecimento populares atualmente, que carecem de evidências científicas mais robustas. Veja a seguir.

Dieta do baixo índice glicêmico

Apesar de se relacionar com maior qualidade de carboidratos, conteúdo de fibras e impactos positivos em desfechos metabólicos, essa dieta não determina a perda de peso e a prevenção da obesidade.

Suplementação de cafeína

A ABESO considera que os efeitos termogênicos da cafeína são modestos, não influenciando a regulação do apetite nem a ingestão alimentar. Além disso, há risco de efeitos adversos severos e aumento da pressão arterial.

Whey Protein

A prescrição do whey protein pode ser recomendada quando há necessidade de suplementar aporte proteico, porém não há indicação para perda de peso.

Fitoterápicos

Segundo os pesquisadores, uma das limitações observadas sobre os fitoterápicos é a presença de metais acima dos níveis de segurança. Além disso, é considerado que não há evidências clínicas para indicação na redução de peso.

Óleo de coco

Por ter um alto nível de ácidos graxos saturados, o consumo de óleo de coco para a perda de peso é considerado falacioso, principalmente naqueles com aumento do risco cardiovascular.

Probióticos

A ABESO confirma as alterações na microbiota intestinal dos indivíduos com obesidade, em relação à menor diversidade microbiana, maior abundância do gênero Firmicutes e diminuição dos Bacteróides. Além disso, também é citada a provável diminuição da Akkermansia muciniphila, bactéria envolvida no turnover da camada de muco intestinal.

No entanto, a indicação de probióticos no tratamento do sobrepeso/obesidade é contestada, devido ao alto número de limitações nos estudos científicos em defesa destes microorganismos.

Adoçantes

Os autores afirmam que não há evidências conclusivas sobre a perda de peso apenas com uso de adoçantes, sem escolhas alimentares saudáveis acompanhada de déficit calórico.

Clique aqui para ler o documento na íntegra.

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Referência:

Posicionamento sobre o tratamento nutricional do sobrepeso e da obesidade. Departamento de Nutrição da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO – 2022). Coordenação Renata Bressan Pepe, Clarissa Tamie Hiwatashi Fujiwara, Mônica Beyruti. 1. ed. , São Paulo, 2022.

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