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Guia Nutritotal: Probióticos e Desordens Mentais

probióticos e desordens mentais

Fonte: Canva

Em 2019, 970 milhões de pessoas ao redor do mundo sofriam com desordens mentais, tais como depressão, ansiedade e transtorno bipolar. Embora o tratamento primordial para estas condições seja a terapia medicamentosa, estratégias auxiliares já foram sugeridas, dentre elas, a suplementação de probióticos.

O uso de probióticos para o manejo dos transtornos mentais é respaldado por recentes descobertas sobre a influência da microbiota intestinal na saúde mental. 

De fato, os micróbios intestinais podem produzir a regular neurotransmissores (como serotonina e dopamina), controlar a função neuroendócrina e a produção de compostos neuroativos, dentre diversos outros mecanismos que os ligam à manutenção da saúde mental.

Fonte: Canva

Neste Guia Nutritotal, você vai entender recentes descobertas sobre o microbioma em transtornos mentais, e as evidências científicas quanto ao uso dos probióticos para o manejo destas condições. Confira!

A microbiota intestinal em desordens mentais

A composição da microbiota intestinal é complexa. Enquanto alguns microrganismos podem proteger a saúde mental, outros podem estar relacionados ao início e desenvolvimento de transtornos mentais.

Abaixo, veja o que os estudos descobriram sobre a composição da microbiota em transtornos mentais comuns.

Ansiedade

Estudos em animais ou humanos com ansiedade demonstraram riqueza e diversidade microbianas drasticamente reduzidas. 

No nível do filo, os Firmicutes aparecem em menor número, mas Bacteroidetes e Fusobacteria estão mais altos. 

No nível de gênero, vários deles foram positivamente correlacionados com a ansiedade, como Prevotella, Lactobacillales, Sellimonas, Streptococcus e Enterococcus, enquanto outros foram inversamente correlacionados com a doença.

Depressão

Em pesquisas científicas, a microbiota intestinal em grupos com depressão difere em composição e abundância daquelas em controles saudáveis. 

No nível familiar, certas microbiotas intestinais foram positivamente correlacionadas com a depressão, como Paraprevotella, enquanto outras foram negativamente associadas à depressão, como Streptococcaceae e Gemella. 

No nível de gênero, vários gêneros de microbiota intestinal, como Prevotella, Klebsiella e Clostridium, mostraram uma relação positiva com a depressão. 

Além disso, a disbiose pode ser um fator crucial na patogênese da depressão por meio da influência da expressão proteica em tecidos relacionados ao eixo intestino-cérebro.

Transtorno bipolar

Em geral, estudos demonstram que pacientes com transtorno bipolar apresentam:

Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Várias espécies de microbiota intestinal foram encontradas apenas em pacientes com TEA, como Clostridium diffiicile e Clostridium clostridiioforme. 

Além disso, certos micróbios intestinais foram aumentadas em pacientes/animais com TEA, como Actinobacteria, Proteobacteria e Bacilli, enquanto algumas foram diminuídas, como Akkermansia muciniphila, Faecalibacterium e Agathobacter.

Esquizofrenia

Algumas bactérias intestinais especiais, como Lactobacillus fermentum, Enterococcus faecium e Alkaliphilus oremlandii, podem ser encontradas apenas em pacientes com esquizofrenia. 

Ademais, algumas microbiotas intestinais foram positivamente correlacionadas à gravidade da esquizofrenia, como Lachnospiraceae, Veillonella, Collinsella, Lactobacillus, Succinivibrio e Corynebacterium, enquanto outras tiveram uma correlação negativa, como Coprococcus, Ruminococcus, Roseburia, Adlercreutzia, Anaerostipes e Faecalibacterium. 

A figura abaixo resume as condições da microbiota em diferentes desordens mentais.

Fonte: Adaptado de Xiong et al, 2023.

Probióticos para o manejo das desordens mentais

Como visto, diversos transtornos mentais associam-se à anormalidades na microbiota intestinal. Portanto, a modulação microbiana através dos probióticos pode ser útil para auxiliar o tratamento destas condições.

De fato, um número crescente de estudos revelou que os probióticos, particularmente o gênero Lactobacillus, podem prevenir e controlar vários transtornos mentais. Entretanto, outros probióticos como Bifidobacterium, Pediococcus acidilactici CCFM6432 e Akkermansia muciniphila também já mostraram efeitos preventivos e terapêuticos na saúde mental.

Além disso, sugere-se que pessoas com sintomas mais leves podem se beneficiar mais da suplementação de probióticos.

Um estudo com 423 mulheres na Nova Zelândia mostrou que o probiótico L. rhamnosus HN001 diminuiu significativamente as pontuações de depressão e ansiedade no período pós-parto. 

Outro ensaio clínico mostrou que o probiótico L. rhamnosus Probio-M9 melhorou as qualidades psicológicas e fisiológicas da vida em adultos estressados, ​​por meio do aumento das abundâncias relativas de certas espécies da microbiota intestinal.

Uma recente revisão científica sugeriu que formulações probióticas multicepas podem ter ações mais eficientes na proteção da saúde mental em comparação com uma única cepa probiótica. 

Um estudo com 156 adultos com sintomas subclínicos de transtornos mentais mostrou que a mistura de Lactobacillus reuteri NK33 e Bifidobacterium adolescentis NK98 melhorou a saúde mental e o sono. 

Já outro tratamento com probióticos multicepa e biotina gerou um efeito benéfico na depressão e aumentou a beta-diversidade, bem como abundâncias de Ruminococcus gauvreauii e Coprococcus 3.

Infelizmente, as evidências mais robustas sobre o uso de probióticos para a saúde mental estão concentradas em casos de ansiedade e depressão, enquanto para outros transtornos, os dados ainda são limitados e requerem mais pesquisas.

Outras estratégias para modular a microbiota intestinal

Além dos probióticos, outros componentes já demonstraram exercer uma influência positiva nas desordens mentais, através da modulação da microbiota intestinal.

Prebióticos e pós-bióticos: os prebióticos (como fibra alimentar, GOS, e alfa-lactalbumina), e os pós-bióticos (como os AGCCs) exerceram efeitos protetores na saúde mental, especialmente na administração combinada. Os prebióticos podem ser um agente potencial para aliviar os efeitos colaterais dos antipsicóticos.

Produtos lácteos: Como as bebidas lácteas fermentadas podem conter alguns probióticos e prebióticos, estes produtos já mostraram efeitos neuroprotetores por meio da modulação da microbiota intestinal, embora os estudos sejam limitados.

Especiarias: Especiarias e seus componentes (como Zanthoxylum bungeanum, curcumina e capsaicina) mostraram efeitos protetores contra ansiedade e depressão por meio da regulação da microbiota intestinal, pelo menos parcialmente associadas às suas poderosas propriedades antibacterianas.

Outros produtos naturais: Várias frutas, vegetais e ervas medicinais podem aliviar a gravidade dos transtornos mentais e melhorar a saúde mental, como, por exemplo, chás de Camellia sinensis (como chá verde e chá preto).

A tabela a seguir demonstra as mudanças na microbiota já relatadas em estudos científicos com o uso destes compostos, incluindo os probióticos.

Aumento Diminuição
Probióticos
  • Firmicutes/Bacteroidetes
  • Lactobacillus
  • Bifidobacterium
  • Blautia
  • Bacteroidetes
  • Butyricicoccus
  • Enterococcus
  • Prevotella
  • Helicobacter
  • Patescibacteria
Prebióticos e pós-bióticos
  • Bifidobacterium
  • Lactobacillus
  • Prevotella
  • Lachnospiraceae
  • Odoribacter
  • Oscillibacter
Produtos lácteos
  • Lactobacillus
  • Phascolaretobacterium
Especiarias
  • Ruminococcus
  • Prevotella
  • Allobaculum
  • Sutterella
  • Oscillospira
  • Lactobacillaceae
  • Bacteroidetes
  • Lachnospiraceae
Ervas medicinais
  • Firmicutes
  • Lactobacillus
  • Lactobacillaceae
  • Prevotellaceae
  • Lachnospiraceae
  • Bacteroidaceae
  • Turicibacter
  • gamma-Proteobacteria
Frutas e vegetais
  • Lachnospiraceae_uc
  • Bifidobacterium_uc

 

O que podemos concluir?

A relação entre a microbiota intestinal e os transtornos mentais é uma área de crescente interesse, com implicações clínicas importantes. A modulação da microbiota, especialmente por meio de probióticos, representa uma estratégia promissora para complementar o tratamento de condições como ansiedade e depressão. 

No entanto, embora as evidências iniciais sejam encorajadoras, a aplicação clínica ainda exige cautela. As intervenções devem ser baseadas em uma análise criteriosa, e ajustadas às necessidades individuais dos pacientes. 

É fundamental que os profissionais de saúde mantenham-se atualizados sobre os avanços nessa área, considerando a necessidade de mais estudos para consolidar essas estratégias na prática clínica.

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Referências:

Xiong RG, Li J, Cheng J, Zhou DD, Wu SX, Huang SY, Saimaiti A, Yang ZJ, Gan RY, Li HB. The Role of Gut Microbiota in Anxiety, Depression, and Other Mental Disorders as Well as the Protective Effects of Dietary Components. Nutrients. 2023 Jul 23;15(14):3258. doi: 10.3390/nu15143258. PMID: 37513676; PMCID: PMC10384867.

Merkouris, E.; Mavroudi, T.; Miliotas, D.; Tsiptsios, D.; Serdari, A.; Christidi, F.; Doskas, T.K.; Mueller, C.; Tsamakis, K. Probiotics’ Effects in the Treatment of Anxiety and Depression: A Comprehensive Review of 2014–2023 Clinical Trials. Microorganisms 2024, 12, 411. https://doi.org/10.3390/microorganisms12020411

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