Esclerose Múltipla e Microbiota Intestinal: Existe Relação?

Postado em 20 de novembro de 2017 | Autor: Marcella Gava Brandolis

O desenvolvimento de esclerose múltipla (EM) possui fatores de riscogenéticos e ambientais, que incluem fumar, pouca exposição à luz solar, infecçãocom virus Epstein-Barr, e recentemente a microbiota intestinal surgiu como umpotencial fator de risco adicional.

Neste estudo, os autores compararam a composição da microbiota intestinalde 34 gêmeos homozigóticos, para não haver influência do fator genético, ondeum dos gêmeos possuía EM e o outro era saudável. Embora não houvesse diferençasimportantes no perfil microbiano fecal entre gêmeos saudáveis e gêmeos de EM, quandoos pacientes foram estratificados segundo a utilização de “drogas modificadorasda doença”, foi encontrado um aumento significativo em algumas concentrações demicroorganismos, sendo principalmente observado o aumento da bactéria Akkermansia muciniphila em pacientes comEM não tratada.

Para avaliar a influência da microbiota intestinal no surgimento e evoluçãoda EM, os autores realizaram tranplante fecal de 5 pares de gêmeos em ratos trangênicosque dependendo de condições específicas desenvolovem encefalomielite autoimuneexperimental espontânea (EAE – modelo animal experimental para doençadesmielinizante do sistema nervoso central com sinais patológicos similares àEM). Os autores observaram maior incidência de EAE em ratos transplantados commicrobiota derivada do paciente com EM do que em ratos colonizados combactérias intestinais de gêmeos saudáveis. Avaliação da microbiota dos ratos mostroudiferanças significativas na composição: gêneros Adlercreutzia e Tannerellamais abundantes em ratos que receberam transplante de gêmeo saudável, menoresconcentrações de bactérias do gênero Ruminococcuse principalmente do gênero Sutterellaem ratos que receberam transplante de gêmeo com EM.

A avaliação do sequenciamento metagenômico mostrou que diversas viasmetabólicas que foram associadas ao statusda EM: fermentação de piruvato; biossíntese de L-tirosina; e degradação dosulfato de condroitina. Esses achados apontam que a microbiota intestinalinfluencia no risco de EM não só por meio da composição bacteriana específica, mastambém por alterar ambiente metabólico do trato gastrointestinal. Por fim, Ascélulas imunes dos ratos inoculados com amostras dos gêmeos com EM produzirammenos IL-10 que as células imunes dos ratos colonizados com amostras dos gêmeossaudáveis.

Dessa forma, Berer e colaboradores, concluem que estes achados trazemevidências de que a microbiota proveniente de indivíduos com EM contém fatoresque aceleram a doença autoimune EAE em ratos. Estes dados oferecempossibilidades para caracterizar o papel e os mecanismos funcionais pelos quaisa microbiota intestinal humana contribui para a patogênese de doençasneuroinflamatórias. Os achados podem implicar não apenas na patogênese, mastambém na terapia e, potencialmente, na prevenção da EM em humanos. Com isso,estes dados encoragam pesquisas detalhadas acerca de componentes microbianosprotetivos e patológicos em indivíduos com EM.

 

Referência:

Berer K, Gerdes LA,
Cekanaviciute E,
Jia X, Xiao L, Xia Z, Liu C, Klotz L, Stauffer U, Baranzini SE, Kümpfel T, Hohlfeld R, Krishnamoorthy G, Wekerle H. Gut microbiota from multiple sclerosis patients
enables spontaneous autoimmune encephalomyelitis in mice.
Proc Natl Acad Sci U S A. 2017 Oct 3;114(40):10719-10724.

 

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