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Suplementos orais em câncer: importância clínica e econômica

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A desnutrição é considerada um fator de prognóstico negativo no câncer, podendo levar ao falecimento de 20 a 30% dos pacientes afetados pela doença. Neste sentido, o uso de suplementos nutricionais orais (SNO) como forma de prevenção e manejo vem se apresentado como uma ferramenta eficaz para lidar com a desnutrição relacionada ao câncer.

Pensando nisso, o grupo de trabalho “Alliance Against Cancer” (ACC) estruturou uma revisão narrativa, baseada nos dados científicos mais recentes, de forma a apresentar os  benefícios clínicos e econômicos do uso destes suplementos orais no cuidado do paciente com câncer. Confira a seguir.

Fonte: Shutterstock

A relação entre desnutrição e câncer

Em primeiro lugar, a desnutrição é definida como uma nutrição inadequada, que leva a alterações na composição corporal, com consequente redução da função física e mental.

Em particular, a desnutrição associada ao câncer resulta de uma combinação de alterações associadas ao tumor (má absorção, diarreia, catabolismo etc), às reações físicas e psicológicas (como caquexia e metabolismo prejudicado), além dos efeitos colaterais dos tratamentos anticancerígenos.

Pesquisas coletadas pela “Alliance Against Cancer” indicam que o cuidado nutricional de pacientes com câncer é, em grande parte, inadequado. Muitas vezes, a nutrição clínica não é prescrita, ou é prescrita apenas como uma intervenção de fim de vida. Desse modo, a desnutrição relacionada ao câncer vem sendo subdiagnosticada, subnotificada e subtratada.

Para reverter esse cenário, as diretrizes atuais recomendam a avaliação nutricional precoce, e um suporte nutricional adequado para prevenção e tratamento da desnutrição em pacientes oncológicos.

 

Suplementos Nutricionais Orais e câncer

Dados crescentes da literatura científica apoiam o uso de suplementos como parte da terapia nutricional para lidar com a desnutrição relacionada ao câncer.

Estes suplementos devem ser utilizados, preferencialmente, sob supervisão médica ou nutricional, sendo recomendados para pacientes incapazes de digerir, absorver e/ou excretar alimentos, ou ainda pacientes com necessidades nutricionais específicas.

 

Sendo assim, os critérios para a prescrição de suplementos como intervenção nutricional em pacientes com câncer incluem:

 

  1. a) ingestão alimentar inadequada prevista para mais de 10 dias devido a cirurgia, tomografia computadorizada (TC) ou radioterapia (RT);

 

  1. b) ingestão alimentar < 50% das necessidades por mais de 1 a 2 semanas;

 

  1. c) antecipação de que o paciente não conseguirá se alimentar e/ou absorver a quantidade adequada de nutrientes por um longo período de tempo, devido aos tratamentos anticancerígenos;

 

  1. d) quando o próprio tumor prejudica a ingestão oral e a progressão alimentar pelas vias superiores do trato gastrointestinal.

 

Os suplementos podem se dar na forma de líquidos prontos para beber, semi-sólidos, cremes (para pacientes com disfagia), ou ainda pós acrescidos de proteína, maltodextrinas ou lipídios. Se ainda assim a ingestão de nutrientes permanecer inadequada, a terapia nutricional deve ser administrada por via oral, enteral ou parenteral, dependendo da funcionalidade do trato gastrointestinal do paciente.

 

Benefícios clínicos

Dentre os benefícios clínicos do uso de suplementos no cuidado nutricional de pacientes oncológicos, incluem-se:

 

 

Além disso, cada vez mais dados clínicos comprovam os benefícios do uso de suplementos enriquecidos com imunonutrientes, tais como arginina, glutamina, ômega-3, ribonucleotídeos, pré e probióticos.

Segundo as pesquisas, essa estratégia seria capaz de reduzir as complicações infecciosas gerais e o tempo de internação hospitalar em pacientes submetidos à cirurgia de câncer, a partir do estímulo da resposta imune e da melhora na resposta inflamatória.

 

Benefícios econômicos

A desnutrição em pacientes com câncer pode resultar em gastos de tratamento mais altos, com um custo anual estimado de até 120 bilhões de euros na Europa.

Enquanto isso, o uso de suplementos associados ao aconselhamento nutricional tem se mostrado menos custoso e mais eficaz do que o aconselhamento nutricional sozinho, reduzindo as reinternações hospitalares, as complicações de saúde e a mortalidade. Estima-se uma economia líquida média de 12,2% dos recursos, com uma economia de 1.500 dólares por paciente.

Além disso, a análise atual de custo-efetividade da imunonutrição em cirurgia oncológica também tem gerado resultados positivos, que compensam os custos das complicações pós-operatórias, apesar do custo ser geralmente mais alto em comparação à suplementação padrão.

 

Uma maior adesão ao uso de suplementos é necessária

Apesar de todos os benefícios clínicos e econômicos descritos até aqui, o cuidado nutricional, incluindo o uso de suplementos orais, é muitas vezes negligenciado. Isso ocorre, pois seus benefícios nem sempre são imediatos, então a intervenção nutricional é considerada um custo adicional questionável.

Para mudar esse cenário, a Aliança Contra o Câncer destaca a importância da implantação de um aconselhamento nutricional precoce por uma equipe multidisciplinar, incluindo nutricionistas, oncologistas e enfermeiros, além de uma maior conscientização e adesão às diretrizes. Desse modo, ganha-se em qualidade de vida dos pacientes e custo-benefício em saúde.

 

Referência:

Caccialanza, R. et al. Clinical and economic value of oral nutrition supplements in cancer patients: a position paper from the Survivorship Care and Nutritional Support Working Group of Alliance Against Cancer. 2022.

 

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