Segundo estudos, até dois terços das gestantes ultrapassam ou não atingem as metas de ganho de peso na gestação. Como consequência, diversos problemas para a saúde da mãe e do bebê podem vir à tona.
A seguir, entenda qual a importância do ganho de peso adequado durante a gravidez, e quais são as principais recomendações para isso.
Por que ganhar peso na gestação?
A gestação é uma fase da vida caracterizada por diversas alterações direcionadas à formação do feto, sejam elas fisiológicas, metabólicas, hormonais ou psicológicas. Assim, é esperado que ocorra o ganho de peso materno, justamente por conta destas alterações.
Nesse sentido, define-se o ganho de peso gestacional como a diferença entre o peso documentado na primeira e na última consulta pré-natal.
De modo geral, o peso ganho durante a gravidez é importante para apoiar:
- O crescimento fetal;
- O aumento dos tecidos maternos (útero, placenta, tecido adiposo e seios);
- A formação do líquido amniótico;
- A expansão do volume sanguíneo;
- O acúmulo materno de água celular, gordura e proteína.
Como é dividido o ganho de peso na gravidez?
O período gestacional é dividido em três trimestres, cada um conta com seus padrões naturais de ganho de peso.
O primeiro trimestre, que vai até a 13ª semana gestacional, é marcado pelas mudanças biológicas decorrentes da divisão celular e alterações hormonais maternas.
Nesta fase, recomenda-se um pequeno ganho de peso para mulheres com baixo peso (até 1,2 kg) e eutrofia (0,7 kg). Nenhum ganho de peso é esperado para mulheres com sobrepeso ou obesidade. A perda de peso de até 1,5 kg também pode acontecer, devido aos sintomas de náuseas e vômitos característicos deste período, entre outros.
Os dois últimos trimestres, da 13ª até a 40ª semana, são marcados pelo desenvolvimento e crescimento do feto. A partir daí, observa-se um aumento de peso mais acelerado, embora as taxas possam diminuir ligeiramente durante o terceiro trimestre.
Como calcular o ganho de peso da gestante?
A fim de calcular o ganho de peso ideal durante a gestação, recomenda-se que o ganho de peso seja baseado no estado nutricional, definido pelo IMC gestacional.
Para calcular o IMC gestacional, utilize a fórmula abaixo. Caso o peso antes da gravidez não esteja disponível, deve-se considerar o primeiro peso aferido no início da gestação.
IMC gestacional = _Peso pré-gestacional (kg)__
Altura (m²)
Após o cálculo do IMC gestacional, a recomendação para ganho de peso total e trimestral é definida de acordo com a tabela:
IMC pré gestacional (kg/m²) | Ganho de peso cumulativo* (kg) por trimestre | ||
Até 13 semanas (1º trimestre) |
Até 27 semanas (2º trimestre) |
Até 40 semanas
(3º trimestre) |
|
Baixo peso (<18,5) | 0,2 a 1,2 | 5,6 a 7,2 | 9,7 a 12,2 |
Eutrofia (≥18,5 e <25) | -1,8 a 0,7 | 3,1 a 6,3 | 8,0 a 12,0 |
Sobrepeso (≥25 e <30) | -1,6 a -0,05 | 2,3 a 3,7 | 7,0 a 9,0 |
Obesidade (≥30) | -1,6 a -0,05 | 1,1 a 2,7 | 5,0 a 7,2 |
* Trata-se do ganho de peso acumulado ao longo dos trimestres, e não do ganho de peso em cada um dos trimestres.
Tais orientações se baseiam nos dados do Consócio Brasileiro de Nutrição Materno-infantil (CONMAI), adotados atualmente pelo Ministério da Saúde.
Quais as consequências de não seguir as recomendações?
De acordo com as pesquisas, mulheres com sobrepeso e obesidade apresentaram alta prevalência de ganho de peso acima do recomendado (64%), enquanto 43% das mulheres com baixo peso não alcançam o ganho de peso ideal.
O excesso de ganho de peso na gestação é um grave problema de saúde pública, estando associado ao maior risco de bebês grandes para a idade gestacional (GIG), macrossomia, necessidade de cesariana, diabetes e hipertensão gestacional, retenção de peso pós-parto, e obesidade infantil.
Por outro lado, não atingir o ganho de peso recomendado pode aumentar o risco de anemia materna, baixo peso ao nascer, parto prematuro, mortalidade perinatal e óbito infantil.
O que podemos concluir?
A recomendação para ganho de peso na gestação irá depender do estado nutricional da gestante. De qualquer modo, seguir as diretrizes é fundamental para garantir uma gravidez saudável e o bem-estar da mãe e do bebê, evitando complicações a curto e longo prazo.
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Referências:
Brasil. Ministério da Saúde. Guia para a organização da Vigilância Alimentar e Nutricional na Atenção Primária à Saúde [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde. Universidade Federal de Sergipe. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022.
Champion, M. L., & Harper, L. M. (2020). Gestational weight gain: update on outcomes and interventions. Current diabetes reports, 20, 1-10.
Dalfra, M. G., Burlina, S., & Lapolla, A. (2022). Weight gain during pregnancy: A narrative review on the recent evidences. Diabetes Research and Clinical Practice, 188, 109913.
Promoção da alimentação saudável e ganho de peso adequado na gestação: um guia para profissionais da atenção básica [livro eletrônico] / [Maria Beatrix Stern… [et al.]; coordenação Daniela Saes Sartorelli]. — Ribeirão Preto, SP: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 2021.
Surita FG, Souza RT, Carrilho TR, Hsu LP, Mattar R, Kac G. Orientações sobre como monitorar o ganho de peso gestacional durante o pré-natal. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2023
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