O atual estilo de vida em que muitas pessoas estão inseridas é reconhecido por aumentar nossa exposição ao estresse crônico, potencializado pela adoção de dieta inadequada (rica em açúcares e gordura), ingestão de álcool e privação de sono. Tais fatores favorecem o aumento dos níveis sanguíneos de cortisol, um glicocorticoide, sintetizado no córtex das glândulas suprarrenais, a partir da estimulação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Os níveis de ACTH são regulados pelo eixo hipotálamo-hipófise adrenal (HPA), que por sua vez é hiperestimulado quando há aumento do estresse, sendo este definido como qualquer estímulo endógeno ou exógeno que ameaça a homeostase interna.
O cortisol possui reconhecida função de regulação endócrina (como controle da sensibilidade à insulina), metabólica e de diferenciação de adipócitos, contribuindo para o processo de adipogênese e aumento da gordura visceral. Existe uma complexa interação em que os glicocorticoides, como o cortisol, afetam o peso corporal e a obesidade podem alterar a atividade do eixo HPA, favorecendo a secreção de cortisol. Sabe-se que, nos seres humanos, o aumento do estresse e a elevação a longo prazo dos níveis de cortisol estão relacionados ao aumento do consumo de alimentos com alta densidade energética, ricos em açúcar e gordura, regido por adaptações neuroendócrinas e que favorece o ganho de peso. Por outro lado, o aumento de peso e, sobretudo, de gordura visceral, aumenta a síntese e liberação de citocinas inflamatórias, como TNF-α e IL-6, aumentando a inflamação crônica e o estresse oxidativo que, por sua vez, estimulam o eixo HPA e favorecem o aumento da secreção de cortisol. O estresse provocado pelo estigma social do excesso de peso, a longo prazo, também estaria relacionado ao aumento dos níveis de cortisol na obesidade.
Além da influencia sobre a ingestão de alimentos, o aumento crônico da secreção de cortisol aumenta o risco de resistência à insulina, síndrome metabólica e doença cardiovascular. Evidências sugerem que o cortisol está envolvido com o metabolismo do zinco, sendo que o aumento do cortisol reduziria os níveis plasmático de zinco, um mineral importante no metabolismo de secreção de insulina. Além disso, a inibição da enzima 11b-dehydrogenase, expressa no tecido adiposo e responsável pela ativação do cortisol, estaria relacionada a melhora da sensibilidade à insulina. O cortisol afeta a glicemia também por inibir a translocação do GLUT-4 para a membrana plasmática.
Assim, a literatura sugere que a mudança de estilo de vida, visando melhora da dieta, redução do consumo de álcool, melhora da qualidade do sono, controle da dor e da inflamação, combinada com intervenções psicológicas e sociais para reduzir o estresse e o estigma da obesidade, e com o uso de medicamentos que controlam os níveis de plasmáticos de cortisol, seria o caminho mais adequado para reduzir os riscos cardiometabólicos e excesso de peso de pacientes obesos que apresentam altos níveis de cortisol.