O uso de suplementos dietéticos é uma estratégia eficaz para atender às necessidades nutricionais dos pacientes, especialmente daqueles que não conseguem obter as quantidades necessárias através da dieta. No entanto, é importante avaliar com cautela e lembrar que os suplementos podem ser prejudiciais em alguns casos.
Ao considerar o processo metabólico de absorção e excreção, por exemplo, a presença de problemas no fígado ou nos rins é um alerta para repensar a suplementação. Isso porque, estudos demonstram que o quadro clínico de pacientes nessas condições pode ser agravado com a suplementação de determinados nutrientes.
As diretrizes de Doença Renal Crônica (DRC) inclusive não recomendam o uso de suplementos proteicos e medicamentos fitoterápicos, pois as evidências revelam riscos aos pacientes. Os efeitos de outros suplementos dietéticos sobre a DRC, no entanto, ainda não tinham sido explorados em uma grande amostra.
Mas, um estudo publicado em fevereiro foi além dos suplementos de aminoácidos e proteínas e descreveu a associação entre DRC e outros 45 suplementos comumente encontrados em farmácias.
Tipos de suplementos alimentares
A partir da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição realizada na Coreia entre 2015 e 2017 (KNHANES), um estudo selecionou uma amostra de 13.271 indivíduos maiores de 19 anos que participaram da pesquisa de suplementos alimentares feita no KNHANES.
Entre os selecionados, 2.752 usaram suplementos dietéticos e 733 tinham DRC definida por uma taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) ≤ 60 mL/min/1,73 m², calculada usando a equação Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration. Para avaliar a ingestão de suplementos alimentares, foram aplicadas as seguintes perguntas aos participantes:
- Você consumiu suplementos alimentares nas últimas 24 horas?
- Qual é a marca e o nome do fabricante do suplemento dietético que você usou nas últimas 24 horas?
Os suplementos mencionados nas respostas foram classificados como aloe vera, aminoácidos e proteínas, ácido gama-linolênico, ginseng e ginseng vermelho, glucosamina, fitoterápico e extrato vegetal, suplementos contendo luteína, metilsulfonilmetano (MSM), cardo-mariano, chlorella/spirulina, ômega-3, probióticos, própolis e vitaminas e minerais.
Foram ao todo 46 suplementos dietéticos, mas apenas os 17 principais suplementos foram usados nessa pesquisa, sendo alguns classificados como “OUTRAS categorias” (como extrato de mel, fibra dietética de ácido linolênico, ácido hialurônico, placenta e colágeno, esqualeno e alcoxiglicerol e ácido ursodesoxicólico).
Suplementos e risco de DRC
A ingestão de suplementos de vitaminas e minerais foi a mais alta entre as categorias ( 61,41%), seguida de ácidos graxos ômega-3 (11,85%) e ginseng (7,99%).
Ao correlacionar a existência de DRC com o uso de suplementos, os pesquisadores observaram que dos 733 pacientes com essa condição, o uso de suplementos de aminoácidos e proteínas, ginseng e ginseng vermelho e fitoterápicos de berry eram os que mais aumentavam a prevalência de DRC.
Em contrapartida, o uso de probióticos diminuiu a prevalência da doença. E nos indivíduos saudáveis, sem fatores de risco para DRC, a prevalência também foi alta no grupo que consumia ginseng e ginseng vermelho.
Conclusão
O ginseng, que foi o mais apontado nesse estudo como suplemento de risco para DRC, é uma planta medicinal com propriedades antioxidante, anti-inflamatória e moduladora da pressão sanguínea e do metabolismo. A Coreia é um dos principais produtores e consumidores dele, podendo ser essa a razão para maior prevalência de uso do produto na população da amostra.
Além de um possível consumo desequilibrado da população, outro fator que deve ser considerado e avaliado, para esse e outros suplementos, é a interação medicamentosa, que pode agravar o risco do uso de suplementos.
Os resultados dos probióticos nessa pesquisa revelam que esse tipo de suplemento pode ser importante também para a saúde renal. Segundo outras pesquisas, existe uma relação bidirecional entre a microbiota intestinal e o rim, e a própria DRC pode desencadear disbiose e um ambiente intestinal alterado que pode ser recuperado com o uso de probióticos.
Os suplementos de aminoácidos e proteínas continuam sendo considerados de risco para DRC como orientam as diretrizes e esse estudo reafirma em seus resultados. Sobre os suplementos fitoterápicos de berries, várias indagações podem ser feitas, devido ao desconhecimento do mecanismo de ação que afeta os rins, mas pode-se pensar sobre a concentração de potássio nas frutas vermelhas utilizadas para esses fitoterápicos.
O consumo de frutas vermelhas pode apresentar alta ingestão de potássio e a hipercalemia pode estar associada à piora da DRC. Por fim, conclui-se que além dos suplementos de proteína, outros também podem aumentar o risco de desenvolver e agravar a doença renal crônica, sendo necessária uma avaliação criteriosa do nutricionista e acompanhamento frequente de seus pacientes para reavaliar suplementos e quantidades e prevenir a DRC.
Vale ressaltar que este é um estudo transversal e os resultados não provam uma relação causal entre DRC e suplementos dietéticos. Além disso, como esses dados são apenas de uma população adulta da Coreia, os resultados podem não ser os mesmos em outros grupos étnicos
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Referência
Fang, Y.; Lee, H.; Son, S.; Oh, S.; Jo, S.-K.; Cho, W.; Kim, M.-G. Association between Consumption of Dietary Supplements and Chronic Kidney Disease Prevalence: Results of the Korean Nationwide Population-Based Survey. Nutrients 2023, 15, 822. https://doi.org/10.3390/nu15040822
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