Comparadas às mães onívoras, as mães vegetarianas apresentam menor consumo de alguns nutrientes necessários para o desenvolvimento neurológico. Assim, Crozier e colaboradores realizaram estudo que investigou se a dieta vegetariana durante a gestação estaria associada com alteração do estado nutricional materno e com a função cognitiva de seus filhos. Foi realizado estudo de coorte prospectivo em que mulheres entre 20 e 34 anos não gravidas foram recrutadas, aquelas que ficaram grávidas foram acompanhadas durante gestação para realização do estudo. Vegetarianismo foi classificado como não ingestão de carne ou peixe (ovo-lacto vegetarianismo) desde três meses antes da gestação. A ingestão alimentar dos três meses antes da gestação foi avaliada retrospectivamente. Por volta de 11 e 34 semanas de gestação foram realizadas entrevistas e coletadas amostras de sangue para avaliação do estado nutricional materno. Foi avaliado no sangue materno fosfatidilcolina, folato, cobalamina, nicotinamida, riboflavina, ferritina, beta-caroteno, hemoglobina e homocisteína. A função cognitiva dos filhos foi avaliada quando estes completaram entre 6 e 7 anos.
No total, fizeram parte do estudo 3158 mulheres que responderam o questionário alimentar no inicio da gestação, no final ou em ambas as fases. Das 2222 mulheres que responderam o questionário no início da gestação, 78 foram identificadas como vegetarianas, assim como 91 das 2643 que responderam ao final da gestação. Do total, 96% estavam ingerindo suplementação no início da gestação, sem diferença entre vegetarianas e onívoras, enquanto ao final somente 49% utilizavam suplementação, sendo uma proporção maior de vegetarianas que onívoras. Não houve diferença entre o IMC das mães onívoras ou vegetarianas. Mais onívoras fumaram na gestação que as vegetarianas, enquanto o QI das vegetarianas foi levemente superior ao das onívoras. As vegetarianas amamentaram seus filhos 13 a 14 semanas a mais que as onívoras. A média de idade gestacional ao nascimento foi um pouco maior nas vegetarianas (40,8 versus 40,1 semanas), no entanto não houve diferença entre o IMC dos recém-nascidos. As vegetarianas apresentaram valores de EPA e DHA, cobalamina e hemoglobina, inferiores às onívoras, no início e no final da gestação. Não houve diferença de homocisteína entre os grupos e o folato foi superior nas vegetarianas. O vegetarianismo materno não foi associado a menores valores de QI e função cognitiva em seus filhos.
Com estes resultados, os autores sugerem que o consumo de uma dieta vegetariana durante a gestação não afeta adversamente o desenvolvimento cognitivo de sua prole e que as concentrações maternas de nutrientes necessários para desenvolvimento neurológico estão dentro dos valores usuais, mesmo que inferiores aos valores encontrados em onívoras.