Vegetarianismo na gestação não está associado a pior desenvolvimento cognitivo das crianças

Postado em 18 de maio de 2020 | Autor: Marcella Gava

Dieta vegetariana durante a gestação não afeta concentrações maternas de nutrientes necessários para desenvolvimento neurológico do feto

Comparadas às mães onívoras, as mães vegetarianas apresentam menor consumo de alguns nutrientes necessários para o desenvolvimento neurológico. Assim, Crozier e colaboradores realizaram estudo que investigou se a dieta vegetariana durante a gestação estaria associada com alteração do estado nutricional materno e com a função cognitiva de seus filhos. Foi realizado estudo de coorte prospectivo em que mulheres entre 20 e 34 anos não gravidas foram recrutadas, aquelas que ficaram grávidas foram acompanhadas durante gestação para realização do estudo. Vegetarianismo foi classificado como não ingestão de carne ou peixe (ovo-lacto vegetarianismo) desde três meses antes da gestação. A ingestão alimentar dos três meses antes da gestação foi avaliada retrospectivamente. Por volta de 11 e 34 semanas de gestação foram realizadas entrevistas e coletadas amostras de sangue para avaliação do estado nutricional materno. Foi avaliado no sangue materno fosfatidilcolina, folato, cobalamina, nicotinamida, riboflavina, ferritina, beta-caroteno, hemoglobina e homocisteína. A função cognitiva dos filhos foi avaliada quando estes completaram entre 6 e 7 anos.

No total, fizeram parte do estudo 3158 mulheres que responderam o questionário alimentar no inicio da gestação, no final ou em ambas as fases. Das 2222 mulheres que responderam o questionário no início da gestação, 78 foram identificadas como vegetarianas, assim como 91 das 2643 que responderam ao final da gestação. Do total, 96% estavam ingerindo suplementação no início da gestação, sem diferença entre vegetarianas e onívoras, enquanto ao final somente 49% utilizavam suplementação, sendo uma proporção maior de vegetarianas que onívoras. Não houve diferença entre o IMC das mães onívoras ou vegetarianas. Mais onívoras fumaram na gestação que as vegetarianas, enquanto o QI das vegetarianas foi levemente superior ao das onívoras. As vegetarianas amamentaram seus filhos 13 a 14 semanas a mais que as onívoras. A média de idade gestacional ao nascimento foi um pouco maior nas vegetarianas (40,8 versus 40,1 semanas), no entanto não houve diferença entre o IMC dos recém-nascidos. As vegetarianas apresentaram valores de EPA e DHA, cobalamina e hemoglobina, inferiores às onívoras, no início e no final da gestação. Não houve diferença de homocisteína entre os grupos e o folato foi superior nas vegetarianas. O vegetarianismo materno não foi associado a menores valores de QI e função cognitiva em seus filhos.

Com estes resultados, os autores sugerem que o consumo de uma dieta vegetariana durante a gestação não afeta adversamente o desenvolvimento cognitivo de sua prole e que as concentrações maternas de nutrientes necessários para desenvolvimento neurológico estão dentro dos valores usuais, mesmo que inferiores aos valores encontrados em onívoras.

Referências

Crozier SR et al. Vegetarian Diet during Pregnancy Is Not Associated with Poorer Cognitive Performance in Children at Age 6-7 Years. Nutrients. 2019 Dec 11;11(12).

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