A diabetes tipo 2 (DM2) é uma doença que tem se espalhado com facilidade devido aos hábitos alimentares e estilo de vida praticados por uma parcela significativa da população mundial. E para evitar a progressão dessa doença, assim como as suas complicações, que podem ser irreversíveis, é imprescindível melhorar o controle glicêmico do paciente.
A dieta tem um papel fundamental no controle glicêmico, sendo capaz de prorrogar a prescrição de medicamentos para tratamento da diabetes. No entanto, ainda não há um consenso nos estudos científicos sobre a superioridade de uma dieta nesse controle.
Além disso, pesquisadores descobriram que existe uma variabilidade expressiva na resposta pós-prandial (reação metabólica após as refeições) das pessoas e desenvolveram um algoritmo com base em características clínicas e de microbioma intestinal para prever a resposta de determinadas refeições.
Considerando a falta de singularidade no meio científico e utilizando esse algoritmo, pesquisadores decidiram avaliar se uma intervenção dietética personalizada seria capaz de melhorar a resposta pós-prandial de pacientes recém diagnosticados com diabetes tipo 2 em comparação à uma dieta tradicional mediterrânea.
Testes da dieta para diabetes tipo 2
23 pacientes com DM2, idade entre 18 e 65 anos, hemoglobina glicada 6,5-8% ou glicemia de jejum de 140-180 mg/dl, sem conhecimento prévio sobre medicamentos para baixar a glicose e capazes de registrar sua alimentação diariamente em um aplicativo de smartphone foram recrutados para participar desse estudo.
O estudo teve duas segmentações: uma para um período curto de 2 semanas com duas dietas distintas (personalizada e mediterrânea) e outra para um período longo de 6 meses (somente dieta personalizada), sendo que esta incluiu apenas 16 dos participantes.
Os indivíduos foram divididos para receber orientação sobre o cardápio mediterrâneo (n= 11) ou dieta personalizada (n= 12) com 4 a 5 opções de refeições para o café da manhã, almoço e jantar e 10 a 12 opções de refeições para lanche.
Os participantes preparavam suas refeições em casa e foram instruídos a consumir os alimentos exatamente como apareceram em seus cardápios. Uma escala de cozinha digital também foi fornecida aos pacientes para garantir precisão das quantidades de alimentos consumidas.
Eles também usavam sensores que monitoravam a glicose, mas somente os pesquisadores tinham acesso aos dados do monitoramento.
O que os pesquisadores avaliaram
Além da comparação entre a dieta personalizada e a dieta mediterrânea, esse estudo observou efeitos da dieta personalizada pelo algoritmo no controle glicêmico, na composição da microbiota intestinal e na saúde metabólica.
Para isso, foram coletadas amostras de sangue para avaliar glicose, perfil lipídico e insulina, e amostras de fezes para fazer o sequenciamento do microbioma intestinal. E uma nutricionista que acompanhava os pacientes e seus registros no aplicativo avaliou a adesão às dietas.
Dieta mediterrânea x dieta personalizada
Após a intervenção de duas semanas, percebeu-se que os resultados na resposta glicêmica pós-prandial dos participantes foram melhores nos indivíduos que praticaram a dieta personalizada. Essa dieta apresentou uma maior adesão e uma composição com menor teor de carboidratos e maior teor de gordura.
No entanto, percebeu-se que não somente o teor de carboidratos induz uma resposta pós-prandial distinta entre as pessoas, mas, um mesmo alimento pode proporcionar variabilidade na resposta.
Na intervenção de longo prazo, a adesão à dieta personalizada também foi elevada e 61% dos participantes apresentaram redução na hemoglobina glicada, indicando remissão da diabetes. Além disso, foram encontradas reduções nos triglicérides e no peso corporal, assim como alterações positivas no microbioma desses pacientes.
Conclusão
A partir desses resultados, os pesquisadores concluíram que uma dieta personalizada com base na resposta pós-prandial de cada paciente pode ser eficaz no controle da glicemia e assim, no tratamento de diabetes tipo 2, apoiando inclusive melhoras no microbioma intestinal e na saúde metabólica do paciente.
Referência
Rein, M., Ben-Yacov, O., Godneva, A. et al. Effects of personalized diets by prediction of glycemic responses on glycemic control and metabolic health in newly diagnosed T2DM: a randomized dietary intervention pilot trial. BMC Med 20, 56 (2022). https://doi.org/10.1186/s12916-022-02254-y
Nutricionista pela Universidade Anhembi Morumbi, Mestranda pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP. Especialista em Terapia Nutricional pela BRASPEN, Pós-graduação em Nutrição Clínica e Terapia Nutricional pelo Ganep, Pós- graduação em Cuidados Intensivos pelo Ganep, Experiência profissional em Nutrição Clínica, Terapia Nutricional e Home Care, Tutora de práticas clínicas e cursos EAD do Ganep Educação