A vitamina B12 é um dos micronutrientes mais importantes para a saúde humana. Entretanto, quando não obtida em níveis adequados através da dieta, a deficiência de vitamina B12 toma forma. No Brasil, dados indicam que 14,2% das crianças estão com baixos níveis de vitamina B12.
Como forma de conscientização da deficiência da vitamina B12, a Associação Brasileira de Nutrologia publicou um novo consenso, com recomendações para diagnóstico, profilaxia e tratamento desta condição. No artigo de hoje, trouxemos os principais pontos abordados nesta diretriz. Confira!
Vitamina B12: tipos e fontes alimentares
A vitamina B12 (cobalamina) faz parte do grupo de vitaminas do complexo B. Na natureza, ela é encontrada como adenosilcobalamina, metilcobalamina ou hidroxocobalamina, formas sintetizadas por bactérias da microbiota de animais. A vitamina B12 também pode ser sintetizada artificialmente, como cianocobalamina.
Apesar de ser sintetizada pela microbiota humana, sua absorção é insignificante para satisfazer nossas necessidades fisiológicas. Por isso, ela deve ser obtida através da dieta. Como uma vitamina hidrossolúvel, de fácil excreção e pouco armazenamento, ela deve ser consumida diariamente.
As principais fontes de vitamina B12 são os alimentos de origem animal: carne (principalmente vísceras), peixes, frutos do mar e laticínios. Fontes vegetais de cobalamina são escassas, mas incluem as algas marinhas ou produtos fortificados.
Funções da vitamina B12
Após sua absorção, a vitamina B12 é usada como cofator para enzimas envolvidas na síntese de DNA, ácidos graxos e mielina. Ela exerce papéis importantes na metilação, no metabolismo mitocondrial, no sangue, no sistema cardiovascular, no sistema imunológico, e possui atividade antiviral.
Além disso, a vitamina B12 tem funções essenciais no eixo músculo-esquelético-intestino-cérebro, tais como modulação da microbiota, manutenção do músculo esquelético e de parâmetros neurocomportamentais.
Deficiência de vitamina B12: causas
Quando a ingestão e/ou a absorção de vitamina B12 forem insuficiente, os estoques hepáticos se esgotam e ocorre a deficiência. Logo, as principais causas para a deficiência de vitamina B12 são:
- Ingestão inadequada (exp: vegetarianismo);
- Alterações fisiopatológicas no estômago, pâncreas e intestino;
- Doenças inflamatórias intestinais: doença de Crohn, colite ulcerativa, doença celíaca o síndrome do intestino irritável;
- Infecções e infestações gastrointestinais;
- Anemia perniciosa;
- Cirurgias bariátricas;
- Envelhecimento (60+);
- Gravidez;
- Histórico de infertilidade ou aborto espontâneo;
- Uso de fármacos que reduzem acidez estomacal;
- Uso de fármacos para diabetes (exp: metformina);
- Imunodepressão;
- Mielopatia;
- Esclerose múltipla.
Pacientes que cursem com alguma das condições acima devem ser constantemente avaliados. Uma vez que o dano neurológico causado pela deficiência ocorre, ele pode não ser totalmente revertido após o tratamento.
Deficiência de vitamina B12: sinais e sintomas
Os sintomas da deficiência de vitamina B12 são principalmente hematológicos e neurológicos. Ambos requerem vários anos para o seu desenvolvimento.
Como a vitamina B12 participa da síntese do DNA, sua deficiência prejudicada a hematopoiese. Como consequência, pode ocorrer um quadro de macrocitose (anemia macrocítica). Entretanto, quase 30% dos pacientes não apresentam este sinal, mas sim uma anemia normocítica.
Outras manifestações hematológicas incluem a trombose relacionada à hiper-homocisteinemia, e a insuficiência da medula óssea com pancitopenia.
Geralmente, são os sintomas neurológicos que predominam. Como a vitamina desempenha um papel na síntese de DNA e mielina, sua deficiência resulta na desmielinização de neurônios periféricos e centrais. Os sintomas gerados variam de acordo com a faixa etária, incluindo:
- Crianças: palidez, regressão psicomotora, hipotonia, letargia, atrofia cerebral com mielinização retardada.
- Adultos: disestesia, distúrbio na propriocepção, parestesia, dormência nos membros e dificuldades nas atividades da vida diária, como escrever ou abotoar roupas.
- Idosos: sintomas dos adultos + depressão, ataxia da marcha, quedas, atrofia do nervo óptico, incontinência urinária e/ou fecal, disfunção autonômica, psicose e distúrbios cognitivos.
Como diagnosticar a deficiência de vitamina B12?
Segundo os autores, o diagnóstico de deficiência de vitamina B12 deve ser baseado na presença de alterações hematológicas e nas dosagens séricas de cobalamina, transcobalamina e metabólitos ácido metilmalônico (MMA) e homocisteína (Hcys). Veja detalhes na tabela abaixo.
Alterações hematológicas |
● O diagnóstico de deficiência de B12 deve ser considerado na presença de macrocitose com aumento do Volume Corpuscular Médio (VCM), mesmo antes de se observar redução da hemoglobina. |
Cobalamina sérica |
● Normal: valores acima de 300 pg/mL.
● Faixa limítrofe: entre 200 e 300 pg/mL. Requer investigação de outros marcadores abaixo. ● Deficiência: níveis abaixo de 200 pg/mL. |
Transcobalamina sérica |
● A dosagem de holotranscobalamina reflete a concentração da vitamina B12 ativa, capaz de penetrar na célula e participar de processos metabólicos. É particularmente útil na avaliação de pacientes com Anemia Perniciosa.
● O limite inferior de normalidade varia de 37 a 50 pmol/L. |
Metabólitos ácido metilmalônico (MMA) |
● Pacientes com níveis limítrofes de cobalamina devem ser avaliados com os marcadores secundários ácido metilmalônico (MMA) e homocisteína sérica (Hcys), que refletem a atividade intracelular de cobalamina.
● O aumento da Hcys sérica sugere deficiência de B12, mas também pode se acumular na deficiência de folato, insuficiência renal ou tireoidiana e também pode variar com a idade e o sexo. Assim, o MMA é mais específico. ● O limite superior de normalidade para Hcys varia de 8 a 13,6 mol/L, e para MMA varia de 271 a 800 nmol/L.
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Como deve ser feita a reposição de vitamina B12?
De acordo com a Associação Brasileira de Nutrologia, pacientes com deficiência de vitamina B12 ou com indicação de suplementação profilática devem ser tratados o mais rapidamente possível.
A via de administração para a reposição da B12 deve levar em conta a doença de base, a gravidade, possibilidade de adesão e custos. À primeira vista, a via oral parece ser a mais indicada, devido à praticidade, menor custo e hábito. No entanto, a maior parte dos pacientes tem dificuldade de absorção com esta via.
A reposição via intramuscular é a escolha mais tradicional para o tratamento. Contudo, diversas são as desvantagens, como dor, possibilidade de sangramentos e infecções, entre outras.
Atualmente, a administração sublingual deve ser a preferência. Esta via tem melhor absorção do que a via oral, pois é absorvida diretamente na língua. Além disso, não apresenta os inconvenientes da via intramuscular, além de ser mais barata.
Conclusão
A vitamina B12 é um nutriente crucial para a nossa saúde. Por isso, sua ingestão deve ser diária, e avaliação sérica deve ser constante, principalmente em grupos de risco. Com este novo consenso sobre deficiência de vitamina B12, a Associação Brasileira de Nutrologia trouxe luz para um problema de saúde pública muitas vezes negligenciado.
Para saber mais sobre as recomendações, leia a diretriz completa clicando aqui.
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- Suplementação de ácido fólico e vitamina B12 em pacientes com diabetes tipo 2
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Referência
NOGUEIRA-DE-ALMEIDA, Carlos Alberto et al. Consensus of the Brazilian Association of Nutrology on diagnosis, prophylaxis, and treatment of vitamin B12 deficiency. International Journal of Nutrology, v. 16, n. 1, 2023.