A alimentação por via oral, além de ser a mais fisiológica, está associada ao maior conforto e satisfação dos pacientes durante a sua trajetória hospitalar. Por isso, deve ser a primeira via de escolha para oferta de nutrientes e calorias neste ambiente. Contudo, a importância da dieta oral tem sido negligenciada nos hospitais: como consequência, a desnutrição está presente em 20 a 50% dos pacientes internados.
Pensando nisso, a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN) acaba de publicar um novo posicionamento, pautado em evidências científicas e na opinião de especialistas. O objetivo é auxiliar as equipes de saúde na melhoria da qualidade e da padronização das dietas orais servidas em unidades hospitalares, visando prevenir a desnutrição hospitalar.
Neste artigo, o Nutritotal PRO traz para você os principais destaques desta diretriz. Vamos conhecê-los?
Tipos de dieta oral
No Brasil, não existe uma padronização para os diferentes tipos de dieta oral, o que resulta em grande divergência de nomenclaturas para prescrição nos hospitais. Sendo assim, o documento propõe uma padronização na nomenclatura das Dietas Orais Hospitalares (DOH). Veja a seguir.
Dieta oral padrão
A dieta oral hospitalar padrão é aquela que não necessita de nenhuma modificação em termos de consistência, calorias ou nutrientes. Ela deve seguir as seguintes distribuições:
- Calorias: 25 a 30 kcal/kg;
- Carboidratos: 50 a 60% do VET (dieta normoglicídica);
- Lipídios: 30 a 35% do VET (dieta normolipídica);
- Proteínas: 15 a 20% do VET, ou 0.8 a 1 g de proteína/kg de peso atual-dia (dieta normoproteica).
Dieta oral modificada em consistência
As dietas orais hospitalares modificadas em consistências têm como objetivo alterar a textura dos alimentos e das preparações, adequando-os para cada condição clínica e neuropsicomotora dos pacientes.
Tais dietas contemplam sete estágios de progressão, sendo eles:
- Normal, geral ou livre;
- Branda;
- Pastosa ou semissólida;
- Pastosa homogênea ou cremosa;
- Semilíquida ou cremosa;
- Líquida ou líquida completa;
- Líquida restrita.
Para cada uma dessas classificações, a diretriz informa as características, alimentos permitidos ou evitados, calorias, proteínas e número de refeições ao dia.
Dieta oral modificada em calorias ou nutrientes
Para estas dietas, o objetivo é adequar em qualidade e quantidade as calorias e nutrientes destinados às particularidades das doenças e de seus tratamentos. Elas podem ser reduzidas (hipo) ou aumentadas (hiper), com exclusão total ou parcial de um determinado alimento/nutriente/caloria.
Aqui, as dietas abordadas pelo guideline incluem:
- Dieta hipo ou hipercalórica;
- Dieta hipo ou hiperproteica;
- Dieta hipolipídica;
- Dieta cetogênica;
- Dieta reduzida em carboidratos;
- Dieta com baixo teor de lactose;
- Dieta hipossódica;
- Dieta isenta de glúten;
- Dieta pobre em FODMAP;
- Dieta vegetariana;
- Entre outras.
Novamente, todas as dietas levantadas são descritas com orientações específicas. A BRASPEN recomenda que os serviços de nutrição e dietética elaborem um manual de dietas, para fácil acesso de toda equipe médica multiprofissional assistencial.
Recomendações para aumentar a ingestão da dieta oral
No universo hospitalar, são diversas as dificuldades que prejudicam a ingestão da dieta oral. De fato, cerca de 70% dos pacientes relatam vivenciar algum tipo de barreira, sendo os idosos e os desnutridos mais suscetíveis à isso.
Sendo assim, seis recomendações que a BRASPEN realiza para enfrentar tais barreiras são:
- Identificação dos pacientes que necessitam de auxílio ou estão em risco: sinalizar à equipe que o paciente necessita de auxílio ou está enfrentando dificuldades na ingestão alimentar.
- Assistência na hora das refeições: auxiliar os pacientes com dificuldades e limitações físicas. Pode ser realizado por acompanhantes, voluntários e equipe de enfermagem.
- Refeições protegidas: promover um ambiente livre de distrações e barulhos. Evitar interromper o paciente durante as refeições para realização de procedimentos e exames.
- Refeitórios supervisionados: estes locais permitem que os pacientes se sentem em posições confortáveis, livre de ruídos e odores desagradáveis, além de permitir a interação social.
- Poder de escolha: oferecer opções variadas de cardápios, como, por exemplo, do prato protéico. Essa estratégia mostrou ser eficaz em aumentar a ingestão de calorias e proteínas.
- Ofertas de snacks e lanches intermediários: sanduíches, docinhos, castanhas e etc podem aumentar a oferta de nutrientes e calorias e a satisfação do paciente.
A diretriz também preconiza a adoção da gastronomia hospitalar, ou seja, a implementação de técnicas culinárias mesmo diante das restrições dietéticas, a fim de tornar a alimentação mais atrativa, saborosa, saudável e equilibrada. Por fim, os especialistas se posicionam contra as restrições desnecessárias e sem evidências, causa frequente da baixa aceitação da dieta oral.
Avaliação da ingestão alimentar
Segundo a Sociedade, a avaliação da ingestão alimentar das dietas orais deve ser realizada conforme o estado nutricional do paciente, de acordo com os seguintes critérios:
- Paciente sem risco nutricional: pelo menos uma vez por semana;
- Pacientes com risco nutricional ou desnutridos: todos os dias.
Essa avaliação deve ser realizada por métodos semiquantitativos. Uma das estratégias citadas é o registro da ingestão alimentar, feito pelo próprio paciente e/ou familiares, com dados sobre alimentos, preparações e quantidades consumidas ao longo do dia, por pelo menos três dias.
Associação com Suplementos Nutricionais Orais ou Terapia Nutricional
Quando a aceitação alimentar da dieta oral é insuficiente para contemplar as necessidades do paciente, o foco deve ser evitar o déficit calórico proteico, prevenindo prejuízos ao estado nutricional. Mas como isso pode ser feito?
Segundo o guideline, a complementação da dieta oral com Suplementos Nutricionais Orais (SNO) deve ser a primeira estratégia. Neste sentido, enfatiza-se a importância do SNO hiperproteico (20% de proteínas) e hipercalórico pelo menos duas vezes ao dia. Os SNO devem ser empregados quando:
- O paciente não consegue ingerir entre 70% e 80% das suas necessidades nutricionais;
- A dieta oral for de baixa caloria;
- Pacientes em risco nutricional (como idosos, oncológicos, em cuidados intensivos, gestantes com patologias graves, e candidatos a operações de médio e grande porte).
Somente quando a combinação de dieta oral e SNO não for suficiente, indica-se a associação à terapia nutricional enteral (preferencialmente) ou parenteral, conforme seus próprios protocolos.
Considerações finais
Neste artigo, apresentamos as principais orientações fornecidas pela BRASPEN para a melhoria das dietas orais dos hospitais brasileiros. De modo geral, a Sociedade ressalta a importância desta alimentação para atender às necessidades fisiológicas e nutricionais dos pacientes, contribuindo para a manutenção ou recuperação de sua saúde.
Os especialistas esperam que o documento seja uma importante ferramenta para os nutricionistas orientarem seu exercício profissional no dia-a-dia, contribuindo para o sucesso do tratamento nutricional de seus atendidos.
Clique aqui e acesse o guideline completo.
Leia também:
- Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral
- Influência da textura na aceitação de dietas hospitalares
- Manual de dietas hospitalares
Referência:
DOCK-NASCIMENTO, Diana Borges et al. Dieta oral no ambiente hospitalar: posicionamento da BRASPEN. Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral – BRASPEN. Braspen Journal, 2022.