Sabor do suplemento oral influencia adesão ao tratamento?

Postado em 9 de maio de 2022

A palatabilidade parece ser um fator condicionante à adesão ao suplemento

A desnutrição associada à doença (DAD) em ambiente hospitalar representa um problema persistente de saúde pública. São milhares de pacientes afetados e gastos bilionários para melhorar o estado nutricional e, consequentemente, o quadro clínico geral do paciente.

sabor do suplemento oral

Fonte: Shutterstock

E, por mais que a alimentação seja reconhecida como a forma ideal de combinar nutrientes para suprir as necessidades energéticas, proteicas e de micronutrientes, sabe-se que o paciente desnutrido tem uma absorção e ingestão oral abaixo do necessário.

Por isso, outras formas de nutrição precisam ser consideradas para que seja possível observar progresso no estado nutricional. Entre elas, está a suplementação oral que, segundo estudos, pode beneficiar a situação de desnutrição, além de reduzir riscos de depressão, readmissão hospitalar, complicações, mortalidade e custos do hospital.

Entretanto, existe um impasse importante a ser ponderado: a aceitabilidade aos suplementos. Como citado anteriormente, a ingestão oral em pacientes desnutridos está abaixo do ideal porque, entre outras razões, o apetite do internado é diminuído e nem todos os sabores, texturas e cheiros são bem aceitos.

Buscando melhorar a adesão ao suplemento oral (SO), um estudo decidiu avaliar as preferências de pacientes desnutridos hospitalizados para o sabor de um suplemento oral hiperproteico e hipercalórico.

3 sabores e uma preferência

Para essa avaliação, foram incluídos 34 pacientes que apresentaram perda de peso superior a 5% durante os três meses antecedentes ou acima de 10% nos últimos 6 meses ou com uma ingestão oral insuficiente (abaixo de 70% das necessidades energéticas) há mais de 7 dias. Eles tinham uma idade média de 60,4 anos, sendo 18 mulheres e 16 homens com IMC médio de 21,1 kg/m².

Os pacientes receberam por 3 dias consecutivos 300ml de um SO com alto teor de calorias e proteínas. Esse suplemento foi apresentado de forma aleatória em 3 sabores distintos: café, morango e baunilha, sendo um sabor a cada dia. Nesses três dias, os pacientes responderam a dois questionários que traziam reflexos sobre a tolerância e adesão ao SO.

A partir do 4° dia, o suplemento ofertado era do sabor escolhido pelo paciente e uma nutricionista acompanhava a ingestão oral diária. Foi anotado também o número de suplementos ingeridos durante todo o tempo de internação.

No último dia da internação, os pacientes foram questionados sobre qual sabor levariam para casa para continuar tomando por 3 meses, se morango, café, baunilha ou uma caixa com os três sabores.

Baunilha, morango ou café?

Segundo os questionários preenchidos, os pacientes sentiram que o sabor de morango era mais doce que os demais. Os casos de náusea após a ingestão foram maiores com o sabor de baunilha e a sensação de fome após a ingestão foi maior com o SO de café.

Ao escolherem o sabor que mais gostaram, o de café foi o preferido (55,8%; 19 pacientes), seguido pelo de morango (47,0%; 18 pacientes) e o de baunilha (26,2%; 9 pacientes). Não foram observadas diferenças na escala de aceitação entre os 3 sabores do SO.

Não houve também diferenças significativas na tolerância entre os sabores, nos padrões bioquímicos e epidemiológicos dos pacientes. O número de evacuações e consistência das fezes foi semelhante com os três sabores.

Em média, as unidades do SO ingeridas foram maiores no grupo que preferiu o de morango (13,4 recipientes durante a internação). E quando questionados sobre a ingestão pós-alta, a caixa multisabor foi a preferida (n = 20, 50%). 6 pacientes escolheram o sabor de café (15,0%), 5 o de morango (12,5%) e 3 o de baunilha (7,5%).

Conclusão

Dentro de um cenário de desnutrição hospitalar, em que a nutrição oral ainda é uma via de acesso possível, a suplementação oral deve ser considerada como um complemento seguro à alimentação e alcance das necessidades nutricionais do paciente. E para que a aceitação ao suplemento seja elevada, é preciso considerar os gostos do paciente, oferecendo-lhe o suplemento que mais agrada seu paladar.

Nesse estudo os pesquisadores sugerem que a doçura dos sabores de morango e café possam ter influenciado na preferência, porém, ressaltam que a tolerância foi semelhante nos 3 sabores apresentados. Revelam também a necessidade de estudos com maior tempo de intervenção, diferentes tipos de pacientes e que avaliem a aderência a suplementos que têm em sua composição quantidades de minerais, aminoácidos e lipídeos que influenciam no sabor, para uma avaliação da adesão em circunstâncias distintas.

 

Referência

De Luis DA, Izaola O, Primo D, López JJ, Torres B, Gómez Hoyos E. Estudio en vida real para evaluar la adherencia y el sabor de un suplemento oral nutricional hipercalórico e hiperproteico en pacientes con desnutrición en un hospital. Nutr Hosp 2022;39(2):298-304. DOI: http://dx.doi.org/10.20960/nh.03903

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