A nutrição enteral é uma estratégia para garantir a oferta de nutrientes a pacientes que, por diversas razões, não conseguem ou não podem se alimentar pela via oral. Estes passam a receber macro e micronutrientes através de soluções que chegam direto ao estômago ou intestino.
A desnutrição hospitalar é uma realidade observada a muitos anos, que resulta em maior risco de complicações, como lesões por pressão e infecções, além de aumento no tempo de internação e dos custos hospitalares.
Desta forma, profissionais devem priorizar a prevenção da desnutrição através da oferta de terapia nutricional adequada, incluindo o uso de protocolos pré-estabelecidos que garantem o sucesso da nutrição enteral.
Quais são os critérios de indicação da nutrição enteral?
A nutrição enteral deve ser indicada na presença de trato gastrointestinal funcionante e impossibilidade de alimentação pela via oral ou quando o consumo de alimentos via oral é inferior a 60% das necessidades nutricionais do paciente, sendo obrigatória a presença de estabilidade hemodinâmica para início da terapia.
Veja com o realizar a Prescrição de dieta enteral
Como é determinada a via de acesso para recebimento da nutrição enteral?
A escolha pelo tipo de acesso pelo qual será feita a oferta de nutrientes dependerá de vários fatores e deverá levar em consideração a avaliação de toda equipe multiprofissional.
Em primeiro lugar, deve-se avaliar a condição clínica do paciente, bem como a integridade de órgãos necessários a passagem da sonda. Fatores neurológicos também devem ser avaliados, visto que em algumas condições, pacientes podem puxar sondas nasogástricas ou nasoenterais.
O tempo de previsto para uso da sonda também deve ser considerado. Normalmente, indica-se a sonda nasogástrica ou nasoenteral quando for utilizada por período inferior a 4 semanas, sendo conhecidas como sondas de curta permanência.
Caso o uso da nutrição enteral seja superior a 4 semanas, indica-se a utilização de sondas de longa permanência, ou seja, através das ostomias.
Vale destacar que, independentemente do tipo de acesso, há alguns cuidados que devem ser tomados para evitar complicações e garantir o sucesso da terapia nutricional.
Pacientes em uso de nutrição enteral precisam receber água?
Sim! Deve ser realizado o cálculo das necessidades hídricas do paciente, considerando especificações para cada faixa etária, e para oferta de água deve-se considerar: o teor de água da fórmula utilizada, total de água que será utilizado para lavagem da sonda, bem como administração de soro.
Assista ao vídeo “Nutrição Enteral, Bomba de Infusão e Hidratação: Existe relação?” e conheça estratégias para minimizar complicações em pacientes que utilizam nutrição enteral e práticas seguras para infusão de dieta.
Como deve ser o cuidado diário com a sonda de nutrição enteral?
O paciente em uso de nutrição enteral está sujeito a complicações caso não seja realizado o manejo adequado.
Essas complicações podem ser, por exemplo, de origem mecânica, como deslocamento, remoção ou obstrução da sonda; de origem gastrointestinal, como a ocorrência de náuseas, vômitos, distensão abdominal, diarreia, constipação intestinal; de caráter pulmonar, como aspiração e pneumonia; ou metabólica, em que se observa alteração hepática, dos níveis de hidratação, da glicemia ou de eletrólitos.
Para minimizar o risco de complicações, alguns cuidados devem ser tomados:
– Todo material a ser utilizado, bem como a embalagem da dieta deve ser visualmente avaliado quanto a sua integridade e viabilidade para uso antes da administração da dieta;
– A dieta deve ser armazenada de maneira correta, de acordo com as especificações da embalagem. Verificar o prazo de validade da dieta após a instalação e, no caso de dieta artesanal, cuidados de higiene e manipulação devem ser rigorosamente seguidos durante todas as etapas de manipulação.
– A lavagem da sonda deve ocorrer sempre que houver pausa na administração da dieta, antes e após a administração de medicamentos.
No quadro abaixo, você pode verificar algumas possíveis complicações e como devem ser conduzidas:
COMPLICAÇÃO | CAUSA | SINAL | O QUE FAZER? |
Saída ou migração acidental da sonda | – Paciente muito agitado ou com alterações neurológicas
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– Saída da fixação da sonda
– Marcação da sonda fora do lugar |
– Acionar médico ou enfermeiro para que realize uma nova passagem da sonda |
Obstrução da sonda
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– Dietas com densidade calórica de 2,0kcal/ml, com alta viscosidade e com gotejamento lento
-Utilização de fibras nas dietas -Lavagem incorreta da sonda após a infusão de dieta ou medicamentos -Dobramento e nó na sonda
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-Ressecamento de sonda e vazamento de dieta
– Dificuldade para infundir dieta e água – Sinalização sonora da bomba de infusão |
-Avaliar velocidade de infusão da dieta
– Realizar a limpeza adequada da sonda, através da infusão de água a cada 4 horas – Comunicar a equipe e verificar a possibilidade de tentar a desobstrução utilizando água sob pressão, água morna, pastilha de vitamina C ou solução de bicarbonato |
Náuseas e vômitos
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– Infusão rápida da dieta
– Presença de alterações no funcionamento do estômago e/ou intestino
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– Presença de empachamento e distensão abdominal
– Presença de refluxo gastroesofágico
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– Comunicar equipe para avaliação de posicionamento da sonda,
– Manter cabeceira elevada; – Administrar a dieta de forma mais lenta (uso de bomba de infusão pode contribuir para o controle) – Reduzir volume de dieta |
Cólicas, empachamento, flatulência
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– Oferta de grandes volumes de dieta
– Infusão rápida da dieta – Infusão de dietas que não estão em temperatura ambiente
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– Paciente agitado e demonstrando sinais de dor
– Distensão abdominal |
– Manter cabeceiras elevadas
– Administrar a dieta de forma mais lenta – Reduzir volume de dieta – Não administrar dietas geladas
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Diarreia
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– Infusão rápida da fórmula
– Infusão de dietas que não estão em temperatura ambiente – Dieta contaminada por manipulação incorreta – Uso de certas medicações
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– Presença de 3 ou mais evacuações líquidas ao dia | – Realizar hidratação adequada e verificar necessidade de aumentar oferta de líquidos
– Comunicar equipe de saúde – Reduzir volume de dieta oferecido – Associar fibras – Verificar a necessidade de alterar método de infusão – Avaliar medicamentos em uso – Infundir dieta em temperatura ambiente – Reforçar medidas de higiene – Discutir com os profissionais a necessidade de alteração da dieta |
Obstipação / constipação | – Movimentação reduzida do paciente (indivíduos acamados)
– Oferta inadequada de líquidos – Não oferta de fibras – Uso de algumas medicações
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Ausência de evacuação por 2 ou mais dias seguidos | – Verificar com a equipe a possibilidade de aumentar a oferta de líquidos
– Verificar a possibilidade da utilização de fibras e probióticos – Quando possível e se possível estimular movimentação do paciente – Verificar necessidade de uso de medicamentos laxativos, caso a complicação não seja solucionada |
Desidratação | – Presença de diarreia, vômito, febre – Baixa oferta de água |
– Sede
– Pele seca e/ou descamando – Paciente confuso e prostrado |
– Verificar se oferta hídrica está acontecendo corretamente
– Verificar com a equipe a necessidade de aumentar ingestão de líquidos – Controlar complicações que causam a desidratação (diarreia, vômito, febre) |
Veja também: Conexão segura para Nutrição Enteral
Manejo da Nutrição enteral: quando deve ocorrer a troca da sonda?
O cuidado com sondas, equipos, conectores e frascos de dieta deve seguir protocolos de manejo de nutrição enteral determinados para cada instituição, mas sempre guiados pelas informações dos fabricantes.
Importante destacar que a durabilidade dependerá dos cuidados na manipulação, incluído cuidados de higiene, e da qualidade do material utilizado.
Veja algumas recomendações:
– Sondas de curta duração: deve ser seguir a recomendação do fabricante ou ser substituída em casos de deterioração do material ou qualquer outra intercorrência, como retirada ou obstrução da sonda.
– Sonda de longa permanência: podem ter validade de até 12 meses, mas deverá ser substituída sempre que houver alguma intercorrência, como rompimento do balão interno, ruptura do trato estomacal, fístulas gastrocólicas ou colocutâneas e complicações da região periestomal, como infecção periestomal recorrente, escoriações e úlceras de difícil cicatrização
Para saber mais, assista ao vídeo: Indicação, tipos e importância das sondas de longa permanência
– Frascos de nutrição para uso em sistema aberto: recomenda-se a troca a cada 4 horas após a instalação
– Frascos de sistema fechado: seguir recomendação do fabricante (normalmente deve ser descartado após 24 horas da instalação)
– Equipos (sistema fechado e aberto): a troca deverá ocorrer a cada 24h, desde que os protocolos para lavagem da sonda sejam seguidos corretamente a cada troca de dieta e administração da medicação
– Conectores em Y: a troca deve seguir as recomendações dos fabricantes ou protocolos institucionais para instalação e higienização
Profissionais que trabalham com terapia nutricional devem estar sempre atentos aos protocolos de manejo de nutrição enteral, assim evita-se a ocorrência de complicações, visando o maior sucesso da terapia para o paciente.
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Referências:
DUNN, Sasha. Maintaining adequate hydration and nutrition in adult enteral tube feeding. British Journal Of Community Nursing, [s.l.], v. 20, n. 6, p.18-23, jun. 2015
MATSUBA, Claudia S. Takemura et al. Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral. BRASPEN J, v. 36, supl.3, p.2-62, 2021.
Waitzberg, Dan L. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. 5ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2017.
Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Mestranda pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP. Especialização em Obesidade, Emagrecimento e Saúde pela Unifesp. Tutora de cursos EAD do Ganep Educação. Coordenadora do Nutritotal.