A incidência de câncer vem aumentando nas últimas décadas, sendo a intervenção cirúrgica um tratamento recomendado e disponível na grande maioria dos casos.
Apesar do grande desenvolvimento e aperfeiçoamento dos procedimentos cirúrgico e no manejo perioperatório, alguns fatores tem uma influência direta para complicações e aumento da mortalidade pós-operatória. Nesse cenário, a desnutrição e sarcopenia, conhecida também como miopenia em pacientes oncológicos, são fatores que contribuem para o aumento da probabilidade de complicações e mortalidade no pós-operatório, pois a composição corporal tem papel importante na evolução da doença oncológica, bem como na resposta ao tratamento e na qualidade de vida dos pacientes. Apesar de ser uma complicação recorrente nesses pacientes, alguns centros de oncologia cirúrgica não realizam a avalição de provável sarcopenia (PS).
Com isso foi realizado um estudo bicêntrico de coorte prospectivo, que avaliou o impacto da PS pós-operatória na sobrevida de pacientes oncológicos submetidos a operações de grande porte.
O estudo foi realizado no Hospital de Câncer e na Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá, Mato Grosso em 220 pacientes em idade entre 58 e 72 anos. Foram coletados dados clínicos, demográficos, aplicado avalição nutricional pelo método de avalição global subjetiva (AGS) além de avalição de complicações infecciosas pelos critérios de Clavien-Dindo.
Para o diagnóstico de provável sarcopenia, os pesquisadores utilizaram o questionário SARC-F composto por cinco perguntas que avaliam: força, caminhada, levantar-se de uma cadeira, subir escadas e histórico de quedas e pela baixa força muscular (Kg) mensurada pela dinamometria. Já a taxa de sobrevida foi calcula com base na curva de Kaplan-Meier.
Foi observado que 39 pacientes (17,7%) estavam com risco de sarcopenia aumentada e apenas 14 dos 220 avaliados (6,4%) teve-se o diagnóstico de PS confirmado. No pós-operatório ao menos 86 pacientes apresentaram pelo menos uma complicação, sendo 15,9% (n=35) infecciosas, contudo de natureza leve. Além disso, observou-se que os participantes com PS apresentaram o risco aumentado para a ocorrência de óbito (RR=5,35 IC95% 1,95-14,66; p=0,001) e para complicações infecciosas (RR=2,45 IC95% 1,12-5,33; p=0,036) apresentando também uma taxa de sobrevida de 60 dias menor, 44 (IIQ=32-37) vs 58 (IIQ=56-59) dias.
Com estes resultados, os pesquisadores concluíram que os pacientes oncológicos com diagnóstico de PS e submetidos a cirurgias de grande porte apresentam risco aumentado de complicações pós-operatória e um menor taxa de sobrevida, assim ressaltam a importância da identificação de PS para o início das estratégias de tratamento nesses pacientes.
Referência
BEHNE, Thayse Emanuelli Godoy et al. Association between preoperative potential sarcopenia and survival of cancer patients undergoing major surgical procedures. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, [S.L.], v. 47, n. 1, p. 1-10, 2020. FapUNIFESP (SciELO).
A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.