A população mais velha é o grupo etário que mais cresce ao redor do globo. Portanto, é crucial que os profissionais de saúde estejam atentos às necessidades nutricionais desse grupo, incluindo as deficiências de micronutrientes em idosos.
Ao contrário da desnutrição energético-proteica, que se manifesta através da perda de peso, as deficiências de micronutrientes são mais difíceis de detectar. Sendo assim, compreender quais são as mais relevantes é um ótimo ponto de partida para guiar o cuidado nutricional desses pacientes.
No artigo de hoje, iremos entender porque as deficiências de micronutrientes ocorrem em idosos, quais são as mais recorrentes, e como evitá-las.
Alterações nutricionais no idoso
As deficiências de micronutrientes em idosos estão relacionadas a diversos motivos, envolvendo diferentes áreas da vida do indivíduo. Por exemplo, estima-se que 20 a 30% da população idosa sofra de uma redução fisiológica não intencional na ingestão alimentar.
De modo geral, as principais causas de deficiências de micronutrientes em idosos incluem:
- Falta de apetite: pode ser causada por doenças ou alterações fisiológicos comuns da idade.
- Declínio do olfato e paladar: alterações nas células epiteliais olfativas e papilas gustativas reduzem a vontade de comer.
- Saúde bucal prejudicada: xerostomia (boca seca), hipossalivação, próteses mal ajustadas e problemas de mastigação diminuem o consumo alimentar.
- Inflamação: gera retardo do esvaziamento gástrico e aumento da leptina, que reduz a ingestão alimentar, além de afetar as reservas dos micronutrientes.
- Alterações no trato gastrointestinal: gastrite crônica, motilidade intestinal lenta, diminuição das secreções gástricas, entre outros, geram problemas na digestão.
- Medicamentos: a interação de múltiplos fármacos com vitaminas e minerais pode prejudicar a absorção desses micronutrientes.
- Fatores psicossociais: depressão, mau humor, isolamento, pobreza, viuvez, dentre outros, aumentam a má nutrição.
Quais são as deficiências nutricionais mais comuns nos idosos?
As deficiências de micronutrientes que mais acontecem em idosos são: vitamina D, cálcio, vitamina B6, vitamina B12, ácido fólico, ferro e zinco. Confira mais detalhes abaixo.
Vitamina D
A deficiência de vitamina D é uma das mais comuns em idosos, especialmente por conta da baixa exposição solar e falhas na síntese cutânea. Na população sênior, níveis séricos abaixo de 50 nmol/l estão associados ao aumento da fraqueza muscular e diminuição da função física, enquanto níveis abaixo de 25 a 30 nmol/l aumentam as quedas e fraturas.
Em idosos, a ingestão recomendada de vitamina D é de 600 a 800 UI. Entretanto, para prevenir a deficiência, especialistas recomendam o valor de 800 a 2.000 UI/dia, usualmente obtido através da suplementação.
Cálcio
O cálcio é um mineral de extrema importância para o envelhecimento, exercendo um papel crucial na saúde óssea. Entretanto, sua falta é comum em idosos, especialmente em mulheres após a menopausa.
Assim como a deficiência vitamina D, a deficiência de cálcio pode causar mobilidade reduzida e aumento do risco de quedas, além da osteoporose. Por isso, orienta-se uma ingestão de 1200 mg/dia, que pode ser proveniente de alimentos (laticínios, vegetais de folhas verdes, etc) ou suplementação.
Vitaminas do complexo B
Com frequência, as vitaminas do complexo B se encontram deficientes em idosos, particularmente B6, B12 e ácido fólico (B9). Infelizmente, essa condição está associada ao declínio do funcionamento cognitivo, sintomas depressivos, Alzheimer, demência e doenças cardiovasculares.
Para a população sênior, as ingestões diárias recomendadas (RDA) são descritas na tabela abaixo.
Homens | Mulheres | |
Vitamina B6 | 1,7 mg | 1,5 mg |
Vitamina B9 (ácido fólico) | 400 μg | 400 μg |
Vitamina B12 | 2,4 μg | 2,4 μg |
Ferro
A deficiência de ferro é muito comum na população idosa, e está relacionada à depressão, fadiga, comprometimento do funcionamento cognitivo, perda de força muscular e anemia.
Nos mais velhos, recomenda-se uma ingestão diária de 8 mg/dia, a partir de alimentos como carnes, feijões, vegetais verdes escuros, entre outros.
Zinco
É comum que baixas concentrações de zinco sejam encontradas em idosos, o que contribui para um sistema imunológico enfraquecido e os torna suscetíveis a infecções. Além disso, a deficiência de zinco afeta o transporte e a absorção de outros nutrientes, como a vitamina A, vitamina E e folato.
Em idosos, a recomendação do consumo de zinco é de 11 mg/dia para homens e 8 mg/dia para mulheres. Assim, nessa faixa etária, é importante incentivar o consumo de carnes, frutos do mar, feijões, legumes e outros alimentos ricos em zinco.
Outros
Outras vitaminas e minerais podem estar deficientes em idosos, porém com menor frequência. Eles são descritos na tabela abaixo, com exemplos de fontes alimentares.
Micronutriente | Recomendação de ingestão | Fontes alimentares |
Vitamina A | Homens: 900 μg/d
Mulheres: 700 μg/d |
Fígado, cenoura, batata-doce, vegetais de folhas verdes |
Vitamina C | H: 90 mg/dia
M: 75 mg/dia |
Frutas cítricas, tomate pimentões, brócolis |
Vitamina E | 15 mg/dia | Óleos vegetais, sementes, amêndoas, abacate |
Magnésio | H: 420 mg/dia
M: 320 mg/dia |
Grãos integrais, vegetais de folhas verdes, feijão, nozes e frutas |
Potássio | H: 3.400 mg/dia
M: 2.600 mg/dia |
Banana, batata, abacate, espinafre |
Alimentação saudável e suplementação são a chave
Em consequência de fatores comuns da terceira idade, como polifarmácia e alterações gastrointestinais, a deficiência de micronutrientes em idosos é uma realidade.
Portanto, principalmente após os 60, é necessário atentar-se para uma dieta equilibrada e a suplementação, quando necessário. Essa combinação é a chave para o envelhecimento saudável, diminuindo o risco da morbimortalidade em decorrência das deficiências nutricionais.
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Referências:
Dietary Reference Intakes (DRIs).
Hoffman, R. (2017). Micronutrient deficiencies in the elderly – could ready meals be part of the solution? Journal of Nutritional Science, 6, E2. doi:10.1017/jns.2016.42
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Norman K, Haß U, Pirlich M. Malnutrition in Older Adults-Recent Advances and Remaining Challenges. Nutrients. 2021 Aug 12;13(8):2764. doi: 10.3390/nu13082764. PMID: 34444924; PMCID: PMC8399049.
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