De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade publicado em 2024, é esperado que até 2050 o Brasil tenha 50% das crianças com sobrepeso ou obesidade. São mais de 20 milhões de crianças com excesso de peso e que podem apresentar doenças como hipertensão, diabetes e colesterol alto, por isso, a prevenção da obesidade infantil é uma emergência de saúde pública.
Se queremos promover uma população mais saudável, devemos começar com as crianças, e até mesmo antes de virem ao mundo, quando ainda estão no processo de gestação. Segundo as nutricionistas Patrícia Zamberlan e Adriana Gandolfo*, a obesidade é um efeito colateral da mudança de valores da nossa sociedade:
“Em um mundo globalizado onde um dos pilares é a formação de consumidores e de centros comerciais, em substituição à formação de cidadãos e comunidades, foram alterados os valores, os costumes, as relações com o trabalho, a vida familiar e o lazer. A obesidade pode ser compreendida como um efeito colateral dessas mudanças.”
E, apesar de já existirem alguns programas de prevenção da obesidade infantil, como a própria merenda escolar que é planejada para garantir uma alimentação com qualidade que promova a saúde das crianças, o que fazer dentro de casa?
A prevenção da obesidade infantil em casa
A obesidade infantil vai além da alimentação e tem grande influência dos hábitos e estilo de vida seguidos pela criança, assim como acontece no adulto. As crianças têm dormido pouco, se alimentado de comidas com baixo valor nutricional e se exercitado pouco, ações decorrentes especialmente do uso de telas.
É praticamente inevitável que as crianças não façam uso das tecnologias do mundo atual, mas esse não pode ser um fator de risco para o ganho excessivo de peso ou a barreira para a perda dele.
Então, conheça 4 estratégias para prevenir a obesidade infantil!
Estratégias para prevenção da obesidade infantil
1. Envolver a criança ou o adolescente no preparo das refeições
Que criança ou jovem curioso não gosta de aprender algo novo? Ao envolvê-los na compra e no preparo das refeições, é possível criar um momento de acolhimento e despertar o interesse por alimentos mais saudáveis.
Uma sugestão é escolher um dia na semana para uma refeição feita pela família, onde cozinhem juntos pratos com vegetais, frutas, legumes ou outros, sem a inclusão de alimentos ultraprocessados.
2. Ensinar a ler rótulos, vale para crianças e adolescentes!
A leitura dos rótulos é essencial para saber fazer boas escolhas fora de casa, então, que tal praticar o aprendizado da leitura ou adivinhar o que são e para que servem os ingredientes usados nos alimentos?
A família pode usar as seguintes informações para introduzir o tema:
- Os melhores produtos possuem poucos e conhecidos ingredientes.
- A lista de ingredientes é por ordem decrescente, ou seja, o primeiro alimento é o que tem mais e o último é o que aparece em menor quantidade no produto.
3. Tempo ativo em família
E se o tempo com a família não for cada um em silêncio no seu celular? Reservar momentos para atividades físicas em família, como caminhadas, passeios de bicicleta, ou jogos ao ar livre, além de promoverem uma vida mais ativa, podem melhorar os laços e confiança nos familiares.
Criem metas semanais de atividade física para toda a família se movimentar em busca da saúde.
4. Tornar o ambiente mais saudável
Evitar a compra e o fácil acesso a alimentos ricos em gorduras e açúcares, como salgadinhos, chocolates, achocolatados, bolachas recheadas, sorvetes e outros.
Para um ambiente mais saudável, que promova melhores hábitos, mantenha à disposição opções de lanches saudáveis, como frutas frescas, vegetais já cortados, nozes e iogurtes.
A família é parte essencial na prevenção da obesidade infantil, assim como no seu tratamento. Por isso, é importante a dedicação e engajamento de todos os membros para cultivar uma vida mais saudável, desde a alimentação até os hábitos de estilo de vida.
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*Adriana Servilha Gandolfo é nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Pós-graduada em Saúde Materno Infantil pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Pós-graduada em Desnutrição e Recuperação nutricional pela Unifesp. Mestre em Ciências pelo departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP. Nutricionista Supervisora do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto da Criança/HCFMUSP. Coordenadora da Câmara Técnica de Nutrição Clínica (CONUCLI) do Comitê Assistencial, Técnico-científico e Administrativo de Nutrição (CANUT)/HCFMUSP.
*Patrícia Zamberlan é nutricionista pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Mestre e Doutora em Ciências pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP. Nutricionista da EMTN do Instituto da Criança, HCFMUSP. Especialista em nutrição parenteral e enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE/BRASPEN).
Referências
ABESO. Obesidade infantil: as razões por trás do aumento de peso entre as crianças brasileiras, 2022.
World Obesity Federation. Atlas Mundial da Obesidade 2024. Londres: Federação Mundial de Obesidade, 2024. Tradução: Instituto Cordial
Anna M. Localio, Melissa A. Knox, Anirban Basu, Tom Lindman, Lina Pinero Walkinshaw, Jessica C. Jones-Smith; Universal Free School Meals Policy and Childhood Obesity. Pediatrics April 2024; 153 (4): e2023063749. 10.1542/peds.2023-063749
Natalie D. Muth, Christopher Bolling, Tamara Hannon, Mona Sharifi, SECTION ON OBESITY, COMMITTEE ON NUTRITION; The Role of the Pediatrician in the Promotion of Healthy, Active Living. Pediatrics March 2024; 153 (3): e2023065480. 10.1542/peds.2023-065480