Influência de alimentos e bebidas nos sintomas miccionais

Postado em 26 de agosto de 2020 | Autor: Maurício Verotti

A alimentação é reconhecida cada vez mais como influenciadora de todos os fenômenos fisiológicos e funcionais do corpo humano. Em relação à urologia, frequentemente há relatos de associações entre alguns alimentos, bebidas e sintomas do trato urinário inferior, sejam de armazenamento (aumento de frequência, urgência, desejo noturno) ou de esvaziamento vesical (jato fraco, sensação de esvaziamento incompleto, jato fraco).

Alterações da coloração e odor, além de desconforto pélvico e disúria (ardência para urinar) também são parte das queixas cotidianas em consultórios urológicos.

Mas quando falamos em alimentação, será que existem alimentos e bebidas realmente proibitivos em relação a essas condições?

Na verdade, há vários estudos que tentaram responder essa pergunta, a grande maioria com baixo nível de evidência cientifica, pela dificuldade de execução quando o assunto é alimentação e comportamentos, em que vários vieses reduzem a qualidade cientifica.

Mas dentre os alimentos e bebidas mais comumente relatados na prática urológica como modificadores da função e sensibilidade vesical, temos:

Alimentos e suas influências nos sintomas miccionais

O consumo de determinados ingredientes pode interferir diretamente na urina.

Café

A cafeína, de longe, é o composto alimentar mais estudado quando o assunto é sintoma miccional. Os resultados apontam para piora dos sintomas de armazenamento vesical, sobretudo em pacientes que já os possuem, havendo relação com a quantidade consumida, especialmente acima de 5 xícaras diárias de café. Um dica é a diminuição e/ou troca por bebidas descafeinadas. Além do café, chás escuros como o mate e o preto entram por vezes no rol de reclamações.

Frutas cítricas

Frutas como limão, laranja e abacaxi possuem resultados conflitantes. Enquanto alguns estudos apontam a vitamina C como protetora em relação aos sintomas miccionais, tais alimentos são reportados como causadores ou agravantes de sintomas como dores para urinar e aumento de frequência miccional. Vale lembrar que possuem alto valor biológico e a recomendação deve ser pautada na triagem individual, com redução de dose ou substituições caso necessário.

Bebidas gaseificadas

Em especial refrigerantes entram na lista dos ditos “irritantes vesicais”, não guardando regra quanto a ocorrência, intensidade e tipo de bebida em si. Alguns se queixam até mesmo da água gaseificada. Além de gaseificados, são também açucarados, acidulados, contêm conservantes artificiais e outras substâncias não saudáveis. Nesse contexto, devem ter o consumo não incentivado. O ideal é trocar por sucos naturais diversos ou água natural.

Álcool

Não há dose segura em relação a essa droga socialmente aceita e glamourizada. O álcool inibe o hormônio antidiurético, aumentando a produção de urina, podendo piorar sintomas de acomodação vesical em bexigas já susceptíveis. Frequentemente é consumido com alimentos salgados, os quais irão estimular a excreção de sódio pelos rins, aumentando a diurese. Em relação ao tipo de bebida, os relatos são os mais diversos possíveis. Conselho: beber pouco, eventualmente, e se determinada bebida não cai habitualmente bem, o negocio é evitar.

Alimentos apimentados

Embora muitas pimentas sejam ricas em uma substância chamada capsaicina, que é implicada em melhora da acomodação vesical, muitos reclamam de ardência para urinar, além de dores pélvicas ou aumento de frequência miccional. A pimenta, embora possua aspectos funcionais benéficos, frequentemente é consumida com alimentos de baixo valor biológico como frituras, sanduíches e bebidas alcoólicas, havendo por vezes confusões de causa e efeito.

Devemos analisar dentre os fatores associados a quantidade de líquido contida no alimento em si ou ingerida em conjunto, bem como sódio, osmolaridade e influências sobre o funcionamento intestinal.

Assim, o conselho prático consiste na triagem dos alimentos quanto a ocorrência de sintomas, de forma personalizada. A constipação intestinal, a obesidade com seus efeitos deletérios sobre a saúde, com apneia obstrutiva do sono relacionada e a inatividade física são fatores associados a prejuízo sob os sintomas miccionais, continência urinária e qualidade de vida como um todo.

Portanto, uma alimentação adequada, variada e saudável nos leva ao círculo virtuoso. Os benefícios são globais, inclusive para o sistema urinário.

 

Referências bibliográficas:

Catherine S. et al. Evidence of the Impact of Diet, Fluid Intake, Caffeine, Alcohol and Tobacco on Lower Urinary Tract Symptoms: A Systematic Review. J Urol, 2017.

Janis M. et al. Does Instruction to Eliminate Coffee, Tea, Alcohol, Carbonated, and Artificially Sweetened Beverages Improve Lower Urinary Tract Symptoms?: A Prospective Trial. J Wound Ostomy Continence Nurs., 2016.

Turmel N. et al. Food, diet and dietetic in treatment of urinary tract dysfunctions. A review. Prog Urol., 2017.

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