Você sabia que a forma como você realiza suas refeições influencia na qualidade digestiva e até mesmo no ganho de peso? Esse fator vem sendo comprovado por estudos científicos, que demonstram a influência da companhia na hora de se alimentar como um aspecto relevante no modo de comer e na atenção durante a refeição.
A cada dia, cresce o número de pessoas que moram sozinhas, sendo que, somente no Brasil, houve um aumento de 6,9 a 10 milhões de 2010 a 2014, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para isso, um estudo publicado na Obesity Research & Clinical Practice alertou que a realização de refeições isoladamente aumenta em 45% a chances de um homem desenvolver obesidade, sendo que 64% pode promover o desenvolvimento dos sintomas da síndrome metabólica, principalmente desequilíbrio na glicemia e aumento do colesterol. Nas mulheres, o valor reduz, em torno de 29% de risco.
As porcentagens de pessoas com síndrome metabólica encontradas entre os participantes foram de 30,4% dos homens e 24,2% das mulheres. Destes, 20,8% dos homens e 29,2% das mulheres, que realizaram refeições sozinhos duas vezes ou mais ao dia, eram aqueles que viviam sozinhos, sem cônjuge, compartilhando o hábito de ignorar refeições e de consumir menos refeições ao dia.
Pensando nos resultados do estudo da literatura, cabe ressaltar e buscar as tradições antigas que a nossa população vivia, onde comer era sempre ao redor de família e amigos, a realização das refeições sem a presença de celulares, televisões e qualquer outro equipamento que poderia tirar a atenção.
E essa mudança, com certeza, tem relação com o famoso “comer no piloto automático”, um dos fatores que contribuem potencialmente para o ganho excessivo de peso nos dias atuais, com o avanço da tecnologia. Não sabemos mais o que comemos, como comemos, perdemos a noção da quantidade, nem lembramos dada última vez que sentamos ao lado de alguém e “respiramos fundo” para saborear um alimento.
Tudo vem acontecendo de forma involuntária. Vale a reflexão: você se lembra do sabor da sua última refeição e com quem você a fez?
Referências bibliográficas:
KWON, A. et al. Eating alone and metabolic syndrome: A population-based Korean National Health and Nutrition Examination Survey 2013-2014. Obes Res Clin Pract., v. 12, n.2, p. 146-157, apr. 2018.
BRASIL. IBGE. Por que mais brasileiros estão morando sozinhos? Acesso em: 19 out. 2019.
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Roberta é proprietária e responsável técnica do Instituto de Nutrição Roberta Lara. Mestre e doutora em Investigação Biomédica, na área de Concentração Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), pesquisadora colaboradora do Laboratório de Genômica Nutricional (LABGEN) da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Membro do Núcleo de Nutrição e Saúde Cardiovascular do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Roberta também é membro do Comitê Científico Consultor Institucional Life Sciences Institute (ILSI). Trabalha com estratégias de mudança do estilo de vida e, para isto, coloca sempre a importância da relação conjunta entre nutrição, alimentação e gastronomia. Acredita que a visão holística para cada indivíduo favorece a adesão ao plano alimentar e, consequentemente, a um novo estilo de vida.
Instagram: @robertasoareslara