A terapia nutricional (TN) é fundamental para a reabilitação do paciente crítico, contudo a escolha da estratégia nutricional para o paciente em terapia intensiva (UTI) ainda gera inúmeras dúvidas para equipe multidisciplinar, devido à complexidade dos casos e as recomendações divergentes nas principais diretrizes clínicas.
Uma revisão publicada recentemente traz os destaques da principias recomendações de diretriz atuais, buscando responder às frequentes dúvidas dos profissionais da área sobre a terapia nutricional.
Estado nutricional: o fator do prognóstico
Em pacientes críticos além da doença ou trauma de base, o estado nutricional influência diretamente no seu prognóstico, considerando que a prevalecia de desnutrição está presente em 38 a 78% dos pacientes internados em UTI, com impacto na recuperação, tempo de internação e mortalidade desses pacientes.
Assim, a TN tem como objetivo prevenir a desnutrição e promover a recuperação de pacientes já desnutridos. As diretrizes atuais recomendam que protocolos bem definidos e adaptados a realidade da unidade é de suma importância para otimização da TN em pacientes críticos.
Avaliação nutricional de pacientes críticos
Para elaboração da estratégia nutricional mais adequada, a avaliação nutricional desses pacientes é utilizada para identificar déficits nutricionais que merecem ser corrigidos.
Para tal avaliação, as diretrizes atuais explicam que não há uma técnica considerada ‘’padrão ouro’’, mas sim o conjunto de ferramentas que juntas contribuem para o diagnóstico nutricional desses indivíduos, ressaltando que pacientes críticos devem ser constantemente avaliados para controle e monitoramento do seu estado nutricional.
Abaixo destacamos os métodos de avaliação recomendadas pelas diretrizes:
- Triagem nutricional: Índice de Risco Nutricional (NRS 2002), o Índice NUTRIC (Risco Nutricional em Pessoas Críticas), a Avaliação Subjetiva Global (SGA) ou a Ferramenta de Triagem Universal de Má nutrição (DEVE);
- História médica: idade, comorbidades, perda de função física;
- História nutricional: perda de peso, redução da ingestão alimentar, perda de apetite;
- Exame físico: IMC, edema, composição corporal (avaliando de acordo com o estado do paciente);
- Gravidade da doença: os pacientes criticamente enfermos estão gravemente enfermos por definição.
Nutrição enteral e Parenteral
Para pacientes críticos, recomenda-se o uso da nutrição enteral (NE) ou/e nutrição parenteral (NP) para fornecimento do aporte nutricional.
Segundo as diretrizes, a nutrição enteral, apesar de susceptível a algumas complicações, especialmente relacionadas ao trato gastrointestinal, deve ser preferencialmente oferecida a pacientes internados na UTI em 24-48 h quando não há contraindicações, podendo ser administrada via sonda nasogástrica ou nasojejunal ou, se a administração passar de 4 semanas, deve ser considerada a gastrostomia ou jejunostomia.
Na fase aguda, apenas a NE muitas vezes não é capaz de suprir as metas de macronutrientes, assim de acordo com cada caso é recomendável à combinação de NE e NP na fase aguda para melhores desfechos clínicos.
Veja também: Como calcular o volume de dieta enteral a ser administrado por horário?
Macronutrientes e Suplementação de micronutrientes
Apesar de estudos antecedentes mostram que a elevação da ingestão enérgico-proteica está associada a melhores desfechos clínicos, ainda é pouco claro quais são as metas de ingestão, assim as diretrizes atuais recomendam que a valor a ser atingido seja cuidadosamente adaptado individualmente a cada paciente.
Apesar da literatura não ter descrito as quantidades ideias, as metas gerais podem ser calculadas da seguinte forma:
Energia: 24-30 kcal/kg/d
Proteína: 1,0–2 g/kg/d
Além disso, orientam o uso de calorimetria indireta para cálculo de gasto enérgico, considerando a ingestão de calorias não nutricionais, como os sedativos. Saiba mais em: Sedativos impactam no consumo energético de pacientes em UTI?
Já com relação aos micronutrientes, a suplementação é indicada para contribuir na melhora do sistema imunológico e de indicadores inflamatórios, sendo indicada para tratar déficits existentes.
Apesar de pouco claro e em constante debate, a arginina, glutamina, ácidos graxos ômega-3, selênio, vitamina D e vitamina C, são exemplos de nutrientes recomendados para a suplementação de pacientes graves, entretanto as atuais diretrizes não recomendam doses farmacológicas desses micronutrientes.
Em conclusão, podemos afirmar que a terapia nutricional em unidades de terapia intensiva é um grande desafio, entretanto com as recomendações atuais, o profissional atuante nessa área consegue traçar estratégias que se adaptam a realidade de cada paciente, contribuindo com melhores desfechos clínicos.
Referência
Hill, A.; Elke, G.; Weimann, A. Nutrition in the Intensive Care Unit—A Narrative Review. Nutrients 2021, 13, 2851.
Nutricionista. Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral pela BRASPEN. Especialização em Fitoterapia pela Ganep. Especialização em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo. Coordenadora de projetos e inovação do Ganep Educação e Nutritotal