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A dieta cetogênica, caracterizada por ser rica em gorduras e com baixo teor de carboidratos, tem sido objeto de estudo como uma potencial terapia dietética para o suporte ao tratamento do câncer.
Estudos com animais têm demonstrado que essa dieta pode melhorar os resultados de sobrevida, o que tem despertado interesse em pesquisas sobre os efeitos em seres humanos. Ensaios clínicos randomizados e controlados em pacientes com câncer de ovário e endométrio indicam melhorias no componente físico da qualidade de vida, redução seletiva da massa de gordura e significativa diminuição dos níveis de insulina no sangue. Apesar desses achados promissores, estudos sobre a sobrevida geral (OS) têm gerado controvérsias, devido à diversidade de graus de restrição de carboidratos e duração das dietas cetogênicas utilizadas, além de períodos curtos de acompanhamento em alguns estudos.
Este estudo visa apresentar os efeitos de longo prazo dessa dieta em pacientes com câncer, contribuindo para a compreensão de seu potencial como abordagem complementar no tratamento.
Os participantes eram pacientes diagnosticados com câncer em estágio IV
O estudo foi realizado no Osaka University Hospital, entre fevereiro de 2013 e dezembro de 2018, incluindo 37 pacientes diagnosticados com câncer em estágio IV, com ingestão alimentar por via oral. Foram selecionados 53 pacientes, sendo 37 foram orientados a permanecer na dieta cetogênica por pelo menos 3 meses.
A duração mediana da dieta cetogênica foi de 37 meses (para o grupo de ≥ 12 meses) e 3 meses (para o grupo de < 12 meses). Durante o acompanhamento, a mediana da sobrevida foi de 19,9 meses.
- Desfecho primário: tamanho do tumor medido por tomografia computadorizada (PET-CT) três meses após o início da dieta cetogênica.
- Desfecho secundário: respostas clínicas um ano após o início da dieta cetogênica.
A dieta cetogênica para pacientes com câncer
A dieta cetogênica foi administrada sob a orientação de um nutricionista. Seguindo um protocolo de restrição progressiva de carboidratos: 1º semana: menos de 10g/dia; 3 meses seguintes: 20g/dia; e após esse período: 30g/dia ou menos (para pacientes que optaram por continuar na dieta cetogênica).
Foram coletadas informações demográficas, dados sobre o tumor, histórico de tratamento, resultados de exames de sangue, composição corporal e questionários de qualidade de vida dos pacientes durante o período de dieta e após sua conclusão.
Para determinar se a dieta cetogênica prolongada aumenta o tempo de sobrevida, os pacientes foram divididos em dois grupos: os que seguiram a dieta por mais de 12 meses e os que a seguiram por menos de 12 meses
Prognóstico de longo prazo e estratificação das curvas de sobrevida
Para os 37 casos:
- A média de idade no início do estudo foi de 54,8 anos
- O período de acompanhamento mediano foi de 25 meses
- 28 pacientes vieram a óbito durante o acompanhamento
- A mediana de sobrevida foi de 25,1 meses
- A taxa de sobrevida em 5 anos foi de 23,9%
Para pacientes com câncer colorretal:
- 8 pacientes permaneceram na dieta cetogênica por > 3 meses
- A média de idade no início foi de 49,3 anos
- O período mediano de acompanhamento foi de 19 meses
- A duração mediana da dieta cetogênica foi de 11,5 meses
- 6 pacientes vieram a óbito durante o acompanhamento
- A mediana de sobrevida foi de 19 meses
Para pacientes com câncer de pulmão:
- 6 pacientes permaneceram na dieta cetogênica por > 6 meses
- A média de idade no início foi de 56,7 anos
- O período de acompanhamento mediano foi de 41,5 meses
- A duração mediana da dieta cetogênica foi de 16,5 meses
- 4 pacientes vieram a óbito durante o acompanhamento
- A mediana de sobrevida foi de 33,1 meses
No presente estudo, os níveis de Alb, CRP e glicose no sangue aos 3 meses separaram as curvas de sobrevida em grupos com taxas de sobrevida significativamente diferentes em pacientes com câncer.
Efeitos da duração da dieta cetogênica na sobrevida
As curvas de sobrevida para os dois grupos de pacientes na dieta cetogênica, mostra que antes da ponderação, a taxa de sobrevida no grupo ≥ 12 meses foi significativamente maior do que a do grupo < 12 meses. Para examinar os efeitos da duração da dieta cetogênica na sobrevida, foi realizada a análise IPTW (abordagem para reduzir a influência de fatores de confusão) com a contagem de glóbulos brancos (WBC), creatinina, fosfatase alcalina (ALP), contagem de neutrófilos, proteína C reativa (CRP) e albumina como fatores que contribuem para a sobrevida.
O câncer de pulmão foi incluído como fator de pior prognóstico.
A análise mostrou uma taxa de OS significativamente melhor no grupo que continuou a dieta cetogênica por mais de 12 meses.
Considerações finais
Os resultados mostraram que os pacientes que conseguiram manter a dieta cetogênica por um período mais longo tiveram resultados significativamente melhores. A continuação da dieta cetogênica por mais de 12 meses, se mostrou eficaz na sobrevida global dos pacientes.
Após dieta cetogênica por pelo menos 3 meses, a taxa de sobrevida medida foi de 33,3% para câncer de pulmão e 25,0% para câncer colorretal.
A eficácia de uma dieta cetogênica em tumores malignos tem sido frequentemente relatada em estudos com animais, mas os estudos clínicos em humanos são insuficientes. Alguns estudos relataram uma melhoria significativa na sobrevida geral em pacientes com câncer de mama pós-operatório e tumores cerebrais recorrentes, em uma dieta cetogênica.
Embora existam limitações no estudo e a eficácia de uma dieta cetogênica para tumores malignos mostrem naturalmente uma variação dependendo de fatores de antecedentes, com base nos resultados, acredita-se que a dieta cetogênica pode ser uma alternativa promissora para pacientes com câncer.
Apesar dos resultados promissores, é fundamental realizar ensaios controlados prospectivos, bem projetados e com poder estatístico suficiente para conclusões mais definitivas sobre a eficácia da dieta cetogênica no tratamento do câncer. Mais pesquisas são necessárias para aprofundar a compreensão dos efeitos dessa abordagem dietética nos diferentes tipos de câncer e para confirmar sua viabilidade como um complemento aos tratamentos convencionais.
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Referência:
Egashira, R.; Matsunaga, M.; Miyake, A.; Hotta, S.; et al. Long-Term Effects of a Ketogenic Diet for Cancer. Nutrients, 2023, 15, 2334.
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