A doença renal crônica (DRC) tem uma alta prevalência na população mundial, no entanto atinge o seu pico em pacientes idosos, tornando-se um grande desafio aos sistemas de saúde, já que a doença pode estar associada a outras comorbidades.
Com isso, o atendimento multidisciplinar e a combinação de intervenções farmacológicas e não farmacológicas como os cuidados nutricionais é essencial a esses pacientes, visto que essas intervenções desempenham um papel relevante no retardo à necessidade da terapia renal substitutiva.
Uma das recomendações nutricionais amplamente defendidas pelas diretrizes clínicas é a restrição da ingestão de proteínas, em que é se recomendado restringir a sua ingestão a partir do terceiro estágio da DRC, sem especificação de idade.
Entretanto, em pacientes idosos essas recomendações têm uma contrapartida na prática clínica, pois se sabe que há uma redução da ingestão com o decorrer da idade e há uma certa resistência da adesão da orientação nessa população, assim a recomendação da diminuição de proteínas a idosos torna-se irrelevante.
E para entender melhor essa relação, um estudo realizado na França, avaliou a ingestão basal de proteína em idosos com DRC e seu estado nutricional, comparando com as recomendações atuais para pacientes com doença renal crônica.
O estudo
A pesquisa foi realizada entre 14 de novembro de 2017 a 31 de dezembro de 2020, incluindo cerca de 436 pacientes idosos com DRC, entre o estágio 3-5 da doença sem dialise. Esses pacientes ainda foram classificados entre “jovem” (<60 anos), “velho-jovem” (60-69),” velho” (70-79) “idoso” (80-89) e ”idoso mais velho” (≥90 anos).
Todos os indivíduos foram atendidos por uma nutricionista especializada, que avaliou a ingestão de energia e proteína por meio de um diário alimentar de 7 dias ou, quando não disponível, foi utilizado o recordatório alimentar de 3 dias.
Alguns participantes foram submetidos ao exame de urina 24h para analise da ingestão de proteína na refeição, comparando com os dados apresentados no diário alimentar.
Além disso, foram coletados dados clínicos e demográficos, como sexo, idade, tipo de doença renal, altura, peso e IMC, escore de desnutrição-inflamação (MIS), avaliação global subjetiva (AGS), avaliações clínicas e bioquímicas, e avaliado o índice de comorbidade de Charlson (ICC).
Resultados
Observou-se que a ingestão média de proteína pelos pacientes foi superior ao recomendado (0,8g/kg de peso corporal) em todas as faixas etárias, no entanto pacientes com mais de 60 anos mostrou uma tendência a uma diminuição da ingestão de proteínas quando comparados a pessoas com <60 anos.
Além disso, o comprometimento nutricional moderado foi maior em pacientes maiores de 60 anos, mas os pesquisadores relacionam com o possível efeito da idade, e não pela diminuição da ingestão do nutriente.
Ingestão de proteína por idosos com DRC maior que o recomendado
A partir dos resultados, os pesquisadores concluíram que há necessidade de uma intervenção dietética eficaz a esses pacientes, buscando normalizar ou reduzir a ingestão de proteínas por idosos com DRC, reforçando a obrigação de melhorar o cuidado nutricional na população idosa e com doença renal avançada.
Confira também: Diretriz Braspen – Doença Renal
Nutricionista pela PUC Campinas, Especialização em Docência no Ensino Superior – UNINOVE, Especialista em TN pelas BRASPEN, Especialização em TN e Nutrição Clínica Ganep