O câncer de bexiga é uma doença com imposição de grande preocupação e sofrimento populacional. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que sejam diagnosticados no Brasil cerca de 10.000 novos casos por ano.
A doença acomete mais pessoas da raça branca e a chance de os homens terem câncer de bexiga é de cerca de 1 em 27, enquanto para as mulheres, é de cerca de 1 em 89, ocorrendo principalmente em pessoas mais velhas: cerca de 90% dos pacientes têm idade superior a 55 anos, sendo a média no diagnóstico de 73 anos.
Seu principal sintoma é o sangue na urina, além da vontade constante de urinar e, eventualmente, dores supra púbicas. Sintomas como fraqueza, inapetência e perda de peso estão presentes em fases avançadas. A doença raramente é achada em autópsias, pois se manifestará de alguma forma ao longo da vida.
Como fatores que predispõem a doença e que são bem conhecidos temos o tabagismo, a exposição a substâncias químicas presentes em corantes, couros e alguns produtos de limpeza, e inflamações crônicas da bexiga, como por exemplo cálculos, radioterapia pélvica e alguns tipos de parasitas.
O papel da nutrição no câncer de bexiga
Muito se questiona em relação a medidas protetoras e outros fatores de risco que poderiam ser tratados, ampliando a prevenção e combate a esta doença. Há uma clara associação entre estados inflamatórios crônicos e a gênese de tumores.
A dieta mediterrânea, por exemplo, com predomínio de frutas, verduras, legumes, azeite de oliva e peixes, se associa a menores níveis de substâncias inflamatórias, sendo postulada como protetora para este tumor e outras doenças oncológicas ou não. Tal efeito defensor parece ser proporcional em relação à aderência da dieta.
Em relação a alimentos como carne vermelha, álcool, café e laticínios, não se encontra uma associação com tal condição. Ainda assim, isso não os faz protetores e recomendáveis, sendo sabidamente prejudiciais quando ingeridos em excesso.
No passado, questionou-se o potencial carcinogênico dos adoçantes artificiais em relação aos tumores vesicais, especialmente em relação à sacarina e ao ciclamato, o que foi refutado por estudos publicados em periódicos de grande impacto nos anos 70 e 80.
Embora exista uma maior frequência de déficit de micronutrientes em pacientes portadores de tumor vesical, a suplementação desses não traz proteção se comparado à sua ocorrência, tampouco sugere uma melhora nos resultados.
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Como tratar
O tratamento do tumor de bexiga invasivo envolve cirurgia de grande porte, com emprego de quimioterapia precedendo ou sucedendo este ato.
A nutrição assume um papel importante no preparo desses pacientes, mudando desfechos quando bem empregada no pré e pós-operatório, bem como durante tratamentos adjuntos, com destaque para imunonutrientes e correção de estados de catabolismo e desnutrição.
O status nutricional é uma variável importante quando se analisa resultados em oncologia. E quanto maior for o impacto do tratamento, cirúrgico ou não, mais claramente isso se manifestará. Desse modo, manter uma reserva funcional por meio de bons hábitos de vida e alimentação saudável sempre será o melhor caminho.
Referências bibliográficas:
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Bravi F. et al. Mediterranean Diet and Bladder Cancer Risk in Italy. Nutrients. 2018.
Fankhauser CD. et al. Prevention of bladder cancer incidence and recurrence: nutrition and lifestyle. Curr Opin Urol., 2018.
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Fukushima H. et al. Impact of Sarcopenia as a Prognostic Biomarker of Bladder Cancer. Int J Mol Sci. 2018.
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Maurício é Médico formado pela USP e Urologista pela FMABC. É membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia desde 2006 e membro internacional da Associação Americana de Urologia desde 2014, além de Médico Assistente no Conjunto Hospitalar da PUC- Sorocaba.