Os probióticos são micro-organismos vivos que, ao serem usados em quantidades adequadas, podem causar efeitos benéficos à saúde. E o microbioma (conjunto de organismos e seus genes) é diferente em situações com e sem doença, em diversas fases da vida, podendo ser influenciado por probióticos, prebióticos, alimentos, atividade física, uso de medicações antimicrobianas ou não, além de fatores ambientais.
O conceito antes pétreo de que o trato urinário era estéril foi derrubado com novas técnicas laboratoriais para detecção de micro-organismos, muitos deles desconhecidos anteriormente.
Os probióticos podem ser encontrados em formulações farmacêuticas, além de ingestão de alimentos derivados de leite e fermentados como iogurtes. Tais bactérias (ex. Lactobacillus e Bifidumbacterium) e fungos (ex. Saccharomyces) produzem agentes químicos que ajustarão a microbiota: ácidos (lático, acético e propiônico), peróxidos, entre outros.
Uso de probióticos contra problemas urológicos
Infecções urinárias de repetição na mulher
A competição por nutrientes, produção de substâncias tóxicas e criação de pH vaginal ácido são mecanismos pedidos para a ação protetora de Lactobacillus contra a colonização vaginal e uretral por bactérias que causam infecções urinárias. A modulação saudável da microbiota intestinal e o tratamento da constipação é fundamental nesse sentido.
Todavia, na prática, os ensaios clínicos mostram resultados inconclusivos. Tipos diferentes de cepas, dosagem, problemas de armazenamento, degradação pelo suco gástrico, população heterogênea de pacientes e o aspecto multifatorial das infecções urinárias são demandados.
Estudos experimentais apontam aumento de resposta imunológica contra tais agentes induzida por Lactobacillus, consistindo em frente potencial e promissora para o tratamento não antimicrobiano de infecções urinárias. Vale lembrar que o abuso de antibióticos e prescrições inadequadas quanto a medicamento, dose e tempo de uso motivam resistência bacteriana crescente ao redor do mundo e grande preocupação para a comunidade médico- científica.
Litíase urinária
Algumas bactérias apresentam habilidade em utilizar o oxalato intestinal como fonte de energia e têm sido alvo de pesquisas a fim de corrigi-lo. Nesse contexto, o Oxalobacter formigenes, teria potencial de reduzir formação de cálculos urinários. Estudos relacionam uma menor participação desse microrganismo na flora de portadores de litíase urinária, havendo relação inversa entre a concentração de Oxalobacter intestinal e a formação de litíase urinária, sendo cerca de 70% maior em não formadores.
Tumores da bexiga
Uma relação frequente na formação de alguns tumores é a inflamação crônica. Existem diferenças no microbioma em portadores de tumores de bexiga mais recorrentes, além de existir uma resposta entre microbioma e o tratamento intravesical, que é usado para diminuir a progressão dessa doença. Alguns estudos correlacionam o probiótico L. casei Shirota como protetor em relação ao câncer de bexiga.
Outras condições urológicas
Estima-se também que há uma ligação entre a microbiota urinária e sintomas relacionados a micção em mulheres, por meio de respostas terapêuticas em relação a bexiga hiperativa, câncer de próstata, síndrome da dor pélvica crônica e prostatites.
Conclusão
O uso mais assertivo de probióticos para diferentes situações irá requerer maior compreensão do microbioma, e por isso, é importante consultar um urologista antes de iniciar a suplementação. O campo é aberto e promissor para melhorar nosso entendimento sobre várias doenças, resposta a tratamentos e desenvolvimento de novas frentes terapêuticas. Em relação a terapias futuras, destacam-se estudos relacionados a transplante urinário e fecal.
Como podemos manipular nosso microbioma, além do uso de probióticos e prebióticos? Por meio de alimentação saudável, atividade física, evitando a poluição ambiental e uso inapropriado de antibióticos. Somos o produto de nossos hábitos.
Referências bibliográficas:
Arágon M. et al. The Urinary Tract Microbiome in Health and Disease. Eur Urol Focus, 2018.
Bruce AW. et al. Probiotics and the urologist. Can J Urol. 2003.
American Urological Association Conference 2021.
Castellana, J.C. et al. Microbioma and lithiasis. Arch Esp Urol., 2021.
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Maurício é Médico formado pela USP e Urologista pela FMABC. É membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia desde 2006 e membro internacional da Associação Americana de Urologia desde 2014, além de Médico Assistente no Conjunto Hospitalar da PUC- Sorocaba.