A semaglutida está em alta. Recém aprovada pela ANVISA para o tratamento da obesidade, o medicamento análogo de GLP-1 é originalmente destinado para pacientes com diabetes e doenças cardiovasculares. Porém, também vem dando o que falar quando o assunto é perda de peso.
Até então, os estudos sobre a semaglutida para o tratamento da obesidade se limitavam a uma duração de 68 semanas, com resultados já animadores. Agora, nesta nova pesquisa, o medicamento foi posto à prova por um período mais longo: dois anos. Será que sua eficácia permaneceu estável? Continue lendo para descobrir.
Metodologia: semaglutida 2,4 mg/semana
A pesquisa analisada trata-se de um estudo de fase 3, randomizado, duplo cego e controlado por placebo, conduzido em cinco países diferentes (Canadá, Itália, Hungria, Espanha e Estados Unidos).
Foram selecionados 304 participantes adultos, que se encaixassem em uma das categorias abaixo:
- IMC ≥ 30,0 kg/m²;
- IMC ≥ 27,0 kg m² com presença de pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso (hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular).
Os participantes foram aleatoriamente designados no grupo semaglutida (n = 152) ou no grupo placebo (n = 152). No grupo semaglutida, foi oferecida a semaglutida subcutânea na dose de 2,4 mg, uma vez por semana durante 104 semanas (dois anos).
Além disso, todos os participantes contaram com intervenção comportamental: aconselhamento profissional, dieta hipocalórica e atividade física.
Os desfechos primários foram a alteração percentual no peso corporal, e a obtenção de perda de peso de pelo menos 5%. Outros desfechos incluíram alterações nos parâmetros laboratoriais hematológicos e bioquímicos, e alterações na circunferência da cintura.
Redução do peso em 15%
Após dois anos de tratamento, os participantes sob uso da semaglutida reduziram o peso corporal em 15,2% (em média). Enquanto isso, a média de redução do grupo placebo foi mais baixa, apenas 2,6%. Segundo os autores, essa redução é mais alta do que as perdas relatadas com outras farmacoterapias para sobrepeso e obesidade, demonstrando a “superioridade” da semaglutida.
O grupo semaglutida também teve maior probabilidade de perder pelo menos 5% do peso corporal basal. Esse resultado foi atingido por 77,1% do grupo de intervenção, mas por apenas 34,4% do grupo placebo. O mesmo ocorreu para perdas de 10, 15 ou 20% do peso (respectivamente, 61,8%, 52,1% e 2,3% do grupo semaglutida atingiram essas reduções).
Além do emagrecimento em si, a semaglutida também foi associada a maiores reduções na circunferência da cintura (redução média de 14,4 cm com semaglutida, mas apenas 5,2 cm com placebo).
Melhores desfechos de saúde
Resultados positivos também foram notados nas comorbidades associadas à obesidade. Em relação ao risco cardiometabólico, a semaglutida melhorou os níveis de pressão arterial sistólica e diastólica, além de HbA1c, colesterol total, LDL, VLDL e triglicerídeos.
O tratamento também reduziu os níveis de de proteína C-reativa, um marcador de inflamação sistêmica conhecido por estar elevado em pacientes com obesidade.
Por fim, dos participantes com pré-diabetes tratados com semaglutida, 79,7% reverteram para a normoglicemia. No grupo placebo, esse resultado esteve presente em apenas 37% dos indivíduos.
A semaglutida foi segura?
De modo geral, os eventos adversos foram frequentes em pacientes sob uso da semaglutida (82,2%) em comparação ao grupo placebo (53,9%). Dentre eles, os mais recorrentes foram náusea, diarreia, vômito e constipação.
No entanto, tais efeitos foram transitórios, e de intensidade leve a moderada. Apenas 7,9% dos participantes sob uso da semaglutida relatam eventos graves.
Sendo assim, não se pode considerar a semaglutida como um fármaco livre de efeitos adversos. No entanto, tais contratempos parecem cessar com o tempo.
Conclusão
Em conclusão, o tratamento prolongado com semaglutida foi associado a uma perda de peso clinicamente impactante e sustentada. Além disso, outros desfechos positivos foram relatados, como as melhorias nos fatores cardiometabólicos relacionados ao peso.
Sendo assim, a semaglutida demonstrou ser um tratamento animador para a obesidade e comorbidades associadas. Juntamente à dieta adequada, à atividade física e ao gerenciamento dos efeitos adversos, o potencial do medicamento é vasto, e deve ser demonstrado por mais pesquisas futuras.
Clique aqui para ler a pesquisa completa.
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Referência:
GARVEY, W. Timothy et al. Two-year effects of semaglutide in adults with overweight or obesity: the STEP 5 trial. Nature Medicine, v. 28, n. 10, p. 2083-2091, 2022.
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