Juliana Pastore* é nutricionista
A cirurgia bariátrica destaca-se entre os tratamentos de sucesso, principalmente após técnicas que demonstram sucesso em reverter o perfil metabólico anormal. Depois da cirurgia, há uma melhora acentuada no controle do diabetes, hipertensão, apneia do sono, artrite e síndrome metabólica. Essa abordagem cirúrgica da obesidade tem sido significativamente mais bem-sucedida na perda sustentada de peso em pacientes com obesidade mórbida em comparação com outras intervenções médicas.
No entanto, pacientes obesos têm várias comorbidades que aumentam o risco de qualquer cirurgia, portanto, antes do procedimento, é recomendável uma avaliação pré-operatória multiprofissional. Isso exige uma preparação do paciente para a cirurgia e o compromisso do acompanhamento pós-operatório.
A perda de peso antes da cirurgia bariátrica é recomendada por várias razões. A mais importante é gerar o compromisso do paciente com o sucesso do tratamento desde o início.
Mas a conduta será individualizada, algumas equipes têm padronizada a necessidade de perda de peso e mantêm grupos de acompanhamento nutricional pré-cirúrgico com esse objetivo. Outros não consideram tão necessário desde que o paciente preencha os critérios para cirurgia – que incluem tentativas de emagrecimento por outras formas.
Na prática, também há divergência entre as equipes sobre qual o percentual de peso que deveria ser perdido. Alguns estudos mostram que quem segue corretamente dieta de baixa caloria durante 2 a 4 semanas no pré-operatório tem melhor resultado no pós-operatório. A dieta pré-operatória reduz o tamanho do fígado, diminuindo assim a dificuldade da técnica cirúrgica, melhora a resposta inflamatória sistêmica e facilita a recuperação.
Uma nova abordagem
Outra proposta que vem ganhando destaque no pré-operatório é seguir o protocolo ERAS (Enhanced Recovery After Surgery). A proposta visa reduzir tempo de internação e complicações nessas cirurgias, assim como já comprovadamente reduz em outras cirurgias.
Como nutricionista, observo outro grande benefício adquirido pelos pacientes que seguem aconselhamento nutricional e dieta hipocalórica no pré-operatório: eles evoluem melhor e com menor “sofrimento” no pós-operatório. A exclusão de alimentos viciantes (como açúcar e refrigerante) ainda no pré-operatório auxilia na evolução após cirurgia.
Afinal, com esses hábitos alimentares não saudáveis já minimizados (ou eliminados), fica mais fácil seguir as orientações do pós-operatório, fazer reeducação alimentar completa e conquistar saúde.
Independente da exigência de perda de peso antes da operação, a avaliação e educação nutricional são extremamente importantes e devem ser realizadas por profissional capacitado. É essencial orientar o paciente em relação às modificações alimentares necessárias após a cirurgia, contextualizar e exemplificar mudanças de consistência e quantidade alimentar, além de comportamento, como mastigação ou um hábito beliscador.
A educação sobre as expectativas do paciente também deve ser incluída para garantir que tenham objetivos claros em relação à perda de peso. Como regra geral, um paciente submetido a gastrectomia vertical deve esperar perder cerca de 60 a 65% do excesso de peso corporal em 2 anos, e um paciente submetido a bypass gástrico deve esperar uma perda de peso de 70 a 75% do excesso de peso corporal no mesmo período. Na prática, seguindo acompanhamento nutricional corretamente, afirmo que não é difícil atingir estas metas e provavelmente ainda no primeiro ano.
Também devem ser discutidos no pré-operatório com o paciente as diferentes estratégias para manutenção de peso e controle de comorbidades (como controle glicêmico em diabéticos). Deve ficar claro que alimentação saudável, assim como exercício físico e saúde mental serão importantes no pós-operatório, que a cirurgia não é tratamento único. Acompanhamento médico, nutricional, psicológico serão necessários a longo prazo.
Leia também: Como prevenir a queda de cabelo depois da cirurgia bariátrica
* Juliana Pastore é nutricionista e mestre em Nutrição pela Universidade Federal de Santa Catarina. Também é doutora em Ciências, na área de Oncologia, pelo A.C. Camargo Cancer Center. Possui especialização em Nutrição Clínica e Terapia Nutricional pelo Ganep, é chef de cozinha pela Escola Wilma Kovesi e membro da equipe de Cirurgia Bariátrica e Metabólica da Ultralitho Gastro e da International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders. Atualmente, trabalha em Florianópolis na clínica médica Viver, no Centro Catarinense de Endocrinologia e Metabologia e Clinica Endosaúde. Veja mais no site (julianapastore.com.br), no Instagram (@jupastorenutri) e no Facebook (nutricionistajulianapastore) da profissional.
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