Quando estamos com um parente ou amigo internado no hospital e a enfermeira, o médico e a nutricionista entram no quarto para informar que ele necessita receber a nutrição enteral, nesse exato momento, abre uma caixinha de perguntas e interrogações na nossa cabeça. Como o paciente vai comer? Ele vai sentir o gosto dos alimentos? Essa dieta tem tudo o que ele precisa? E esse tubo, essa sonda, dói? Mas se ele não vai comer pela boca, vai ficar com fome?
Em seguida, surge então um choque cultural alimentar. Nós, nutricionistas clínicos, estamos bem familiarizados com esse tipo de choque. São inúmeras famílias que conhecem pela primeira vez a nutrição enteral dentro do hospital ou clínica.
Nutrição enteral é o nome que se dá ao tipo de tratamento nutricional destinado a pacientes que não podem ou não conseguem se alimentar totalmente pela boca (via oral), isso quer dizer que, às vezes o paciente come várias vezes e não atinge as metas de calorias, proteínas, gorduras, vitaminas e sais minerais.
Alguns deles não têm fome para tanto ou a capacidade de ingerir, absorver ou metabolizar os alimentos convencionais é limitado. Outros têm dificuldade na deglutição, engasgam-se com frequência, não conseguem mastigar o suficiente.
Por último, pacientes que possuem necessidades nutricionais específicas determinadas por sua condição clínica, como os oncológicos, precisam de uma ajudinha nutricional. Mesmo comendo por boca, alguns possuem o paladar afetado, os alimentos ficam com gosto metálico.
O que é nutrição enteral: veja as principais dúvidas
A seguir, resolvi tirar algumas das principais dúvidas sobre a nutrição enteral feita pelos pacientes e seus acompanhantes:
A sonda machuca?
Em relação à sonda (nasoenteral), ela não dói. Ela incomoda na hora de colocar e as vezes sai facilmente. Precisa de cuidados específicos e manutenção, mas em geral, o paciente se adapta bem.
O paciente sente o gosto dos alimentos?
Não, ele não vai sentir o gosto. Se estiver proibido de comer via oral (boca), não poderá mesmo sentir o sabor.
Mas ele vai ficar com fome?
Não, ele não vai. A dieta que passa pela sonda é equilibrada e calculada para cada paciente, cada um tem sua quantidade necessária. E sim, essas dietas enterais têm tudo o que o paciente precisa. Ele pode andar normalmente, tomar banho e passear, basta desconectar a sonda da bomba de infusão ou da própria dieta.
O uso de medicamentos também é feito pela sonda?
Sim, alguns medicamentos são super indicados para serem administrados pela sonda, sem problemas de entupir ou bloquear a dieta, seguindo as orientações de administração certinha.
Nutrição enteral x parenteral: qual a diferença?
O conceito de nutrição enteral não deve ser confundido com nutrição parenteral. A enteral ocorre via trato digestório, enquanto a parenteral via sistema endovenoso. Como as dietas enterais são produtos com grande complexidade nutricional e alta suscetibilidade a riscos, as fórmulas para nutrição enteral são cobertas por regulamentos específicos, que nos munem de informações para assegurar a qualidade e segurança de alimentos nessa classe de produtos.
Na próxima semana, explicarei o passo a passo de como funciona o pedido de dieta enteral para um paciente internado. Não perca!
*Luciana Logullo é nutricionista clínica formada pelo Ganep Nutrição Humana. Também possui graduação em fisioterapia e especialização internacional em Nutrição Parenteral e Enteral. Ela atende no Ganep Consultório, clique aqui para agendar sua consulta.