Passiflora e valeriana podem ser usadas para acalmar o corpo?

Postado em 9 de junho de 2021 | Autor: Colunistas Convidados

Lúcia Endriukaite

Lúcia Endriukaite* é nutricionista e especialista em fitoterapia

As plantas medicinais são conhecidas por seus efeitos terapêuticos. Isso se deve à presença de inúmeros fitoquímicos diferentes que essas espécies possuem, chamados fitocomplexos. Eles são encontrados nas diversas partes da planta (raiz, folhas, flores) e podem ter ações diferentes.

Por isso é importante que quem for fazer uso de um fitoterápico seja bem orientado por um profissional, pois, para aproveitar seus benefícios, a parte correta da planta deve ser utilizada.

A recomendação vale inclusive para aqueles que procuram na fitoterapia uma forma de acalmar o corpo. Nesses casos, a valeriana e a passiflora estão entre os fitoterápicos mais procurados. A seguir, veja como utilizá-las corretamente para aproveitar todos os seus benefícios.

Fitoterapia aliada do bem-estar

No caso da Valeriana officinalis L, popularmente conhecida como valeriana, a parte utilizada é a raiz. Já na passiflora, são utilizadas as folhas. Essas duas espécies apresentam fitoquímicos que possuem ação no sistema nervoso central e, por esse motivo, apresentam propriedades na indução do sono, sendo ansiolíticas, relaxante muscular etc. Mas cada uma possui características próprias e devem ser utilizadas de formas diferentes.

Valeriana

Cá entre nós, ela possui um odor bem desagradável, e você nunca mais se esquecerá dela depois do primeiro contato! O efeito sedativo que ela oferece se dá pela presença de vários compostos como óleos essenciais com seus sesquiterpenos, através do ácido valerênico, iridoides, flavonoides e alcaloides.

Seu efeito é eficiente contra a insônia. A valeriana atua, na verdade, na regulação do sono, melhorando sua qualidade por meio da modulação do ciclo circadiano (o mecanismo pelo qual nosso organismo se regula entre o dia e a noite). O que acontece é que a melatonina produzida durante o sono é a responsável pela regulação dos relógios periféricos que atuam no funcionamento dos órgãos, como o controle do gasto energético, o equilíbrio da insulina, entre outras atividades. Deu pra perceber a importância do sono de qualidade para manter o organismo em ordem, não é?

Mas é bom lembrar que a valeriana é contraindicada durante a gestação e lactação. E se você acha que a planta medicinal não tem efeitos adversos, coloque a sua barba de molho porque podem ocorrer interações não desejadas! A associação com uma bebida alcoólica pode potencializar a ação da valeriana, e pessoas que tomam anti-hipertensivos podem apresentar hipotensão. O uso de valeriana pode também provocar pirose, diarreias, cefaleias, vertigem, bradicardia, arritmias, e algumas pessoas podem ter uma ação muito interessante: a perda do sono!

E quanto à passiflora?

Sabe aqueles dias de muita agitação, com pensamentos fluentes, irritabilidade, agitação verbal e que, quando a noite chega, tudo isso continua? A passiflora é uma das plantas indicadas para esse momento, que chamamos de agitação nervosa. Ela oferece relaxamento e, como consequência, o sono.

A vitexina é um componente responsável pela ação dos maracujás, e aqui no Brasil, são encontradas duas espécies: a Passiflora alata e Passiflora edulis. Vale lembrar que as folhas secas são utilizadas para o preparo do chá. Ainda assim, é necessário informar que existem contraindicações: gestantes, lactantes e menores de 12 anos não devem consumi-la. E podem ocorrer alguns efeitos adversos como náuseas, bradicardia, arritmia. Ah, e ela não deve ser associada a bebidas alcoólicas e anfetaminas.

Cuidados

O uso das plantas medicinais tem um objetivo e, portanto, elas não podem ser consumidas de forma indiscriminada. É necessário que um profissional habilitado faça a prescrição de acordo com a história e necessidade do indivíduo.

 

*Lúcia Endriukaite é nutricionista do Instituto Ovos Brasil, nutricionista clínica e esportiva e especialista em fitoterapia.

 

Referências bibliográficas:

ALONSO, J. Tratado de fitofármacos e nutraceuticos- 1ª ed- São Paulo: AC Farmaceutica, 2016.

BRASIL. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Memento Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira, 1ª ed. 2016

NICOLETTI, M.A. et al. Fitoterápicos – Principais Interações Medicamentosas. São Paulo: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE FARMACÊUTICOS MAGISTRAIS – Brasil, 1ª edição (2012), 118 págs

SAAD,G.A.et al. Fitoterapia contemporânea: Tradição e ciência na pratica clínica –  2ª ed – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,2016.

SCHULZ, V.; et al,, Fitoterapia Racional, 4ª edição, 2002

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