Embora o consumo de carne tenha caído cerca de 1,4 quilo per capita em 2020 no Brasil, sempre fomos conhecidos mundo afora pelo nosso apreço pela carne vermelha.
Cortes de vaca, porco, cordeiro e vitela, por exemplo, são, de fato, ricos em proteínas, vitaminas, ferro e zinco. No entanto, o consumo em excesso, sobretudo de carnes processadas (salsicha, linguiça e bacon), tem sido associado ao aparecimento de doenças comuns. Fazem parte da lista diabetes, problemas cardíacos, AVC e câncer.
No caso dos tumores, discute-se cada vez mais a influência da carne vermelha, principalmente (de novo!) a processada, no crescimento de bactérias patogênicas na microbiota intestinal. Isso pode alterar o equilíbrio da nossa “flora” e aumentar a propensão ao câncer de cólon.
Assim, como vêm mostrando as evidências científicas, diminuir o consumo de carne vermelha e aumentar o consumo de vegetais são mudanças que podem ajudar na prevenção do câncer (saiba outras em um artigo do Nutritotal). E não só dele! Mais recentemente, pesquisadores notaram que a ingestão exagerada de carne processada foi associada até a um maior risco de demência em idosos.
Sabe aquela típica gordura da picanha bovina? Pois ela é uma gordura saturada, cujo abuso tem sido apontado como fator de risco para doenças cardiovasculares. Um grupo de estudiosos comparou como se comportavam as taxas de LDL-colesterol (o popular colesterol ruim) em indivíduos com dois tipos de dieta. O primeiro adotou uma dieta americana convencional, com bastante carne bovina; o segundo aderiu à dieta mediterrânea, com baixa quantidade de carne bovina e mais alimentos de origem vegetal.
Após quatro semanas de experimento, os investigadores observaram que o grupo do cardápio mediterrâneo que consumia no limite 71 gramas de carne bovina ao dia apresentou redução significativa do LDL. Para você ter em mente, um bife do tamanho da palma da mão pesa, em média, 100 gramas.
Não é à toa que a Sociedade Brasileira de Cardiologia ressalta que o alto consumo de carnes vermelhas e processadas eleva o risco cardiovascular, sobretudo pela presença da tal gordura saturada.
Em outro estudo, pesquisadores avaliaram a influência de uma dieta vegetariana no risco de infarto em mais de 13 mil pessoas (vegetarianas e onívoras). Todos os voluntários foram acompanhados por dez anos. Resultado: os vegetarianos apresentaram, em geral, IMC (índice de massa corporal) menor, níveis de colesterol no sangue mais baixos e menor incidência de infarto.
Foi em meados dos anos 2000 que o consumo exagerado de carne vermelha passou a ser reconhecido como um fator considerável para o desenvolvimento de doenças crônicas. As novas evidências fortalecem a noção de que vale a pena maneirar no consumo.
Isso não significa, se você não for vegetariano, abolir as carnes do menu. Lembre-se de que elas contêm muitos nutrientes importantes. Se a ideia é substitui-las por itens de origem vegetal, a recomendação é sempre consultar um profissional de saúde.
(Este texto foi produzido pelo Nutritotal em uma parceria exclusiva com VEJA SAÚDE)
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Médico, especialista em Cirurgia, Gastroenterologia, Nutrologia e Terapia Nutricional Enteral e Parenteral pela BRASPEN, é reconhecido internacionalmente por sua atuação na área de nutrição. É Mestre, Doutor e Livre-Docente pela Universidade de São Paulo, USP, Professor Associado do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP, Chefe do Laboratório Metanutri da FMUSP, Coordenador Clínico das EMTNs do ICHC, ICESP, e Hospital Santa Catarina. Diretor Científico do Ganep Educação.