Qual a importância do peso na quimioterapia?

Postado em 9 de setembro de 2020 | Autor: Colunistas Convidados

Jéssica Reis Santos

Jéssica Reis Santos* é nutricionista especialista em Oncologia

Uma das modalidades de tratamento contra o câncer é a quimioterapia. Ela consiste no uso de medicamentos que tem como objetivo destruir as células cancerígenas. O procedimento atua de forma sistêmica, isto é, alcança as células cancerígenas em qualquer região do corpo.

A maioria das quimioterapias é administrada em intervalos curtos de tempo para garantir a segurança, assim como a eficácia do tratamento. As doses administradas em cada ciclo de tratamento devem ser calculadas com precisão, uma vez que se for baixa, não fará o efeito esperado no tratamento da doença, e se for em excesso, provocará efeitos colaterais acima dos esperados.

Mas como a quimioterapia é calculada?

A dose total do medicamento é baseada no peso corporal do paciente (em kg). Por exemplo, se a dose padrão de um medicamento é de 10 mg por kg, um paciente com 50 kg receberá 500 mg do medicamento. Mas há exceções: alguns quimioterápicos são determinados com base na área da superfície corporal do paciente (kg/m2), que é calculada usando a altura e o peso atual do paciente.

Porém, isso não é para todos! As doses para crianças e adultos são diferentes, mesmo após o cálculo da superfície corporal. As crianças têm diferentes níveis de sensibilidade aos medicamentos por razões fisiológicas. Além delas, esse cálculo muda para:

  • Idosos
  • Desnutridos
  • Obesos
  • Pacientes com problemas hepáticos ou renais

Peso x quimioterapia

Recentemente, foi publicado um estudo sobre a relação entre a dose de quimioterapia e a superfície corporal, medida através do índice de massa corporal (IMC), de mulheres com câncer de mama.

Interessantemente, pessoas com IMC elevado (superior a 30 kg/m2 – Obesas) apresentaram pior resultado clínico e maior taxa de mortalidade quando submetidas ao tratamento com docetaxel.

Os autores sugeriram que o mecanismo de ação responsável pelo desfecho negativo do quimioterápico está relacionado a sua maior afinidade com a gordura corporal. Nesse cenário, o aumento do IMC parece resultar em aumento do tempo de ação e da toxicidade do tratamento quimioterápico.

Estudos com essa temática vêm crescendo e ressaltam a importância da manutenção de um peso saudável. Para isso, é importante observar quantidade de alimentos que estamos consumindo (porção), limitar os alimentos hipergordurosos e bebidas açucaradas que fornecem poucos nutrientes.

É necessário desembalar menos e descascar mais para prevenirmos e tratarmos melhor!

 

 

*Jéssica Reis Santos é graduada em Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo (2013), especialista em Oncologia pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (2015) e mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (2019). Desde janeiro de 2020 atua como nutricionista clínica ambulatorial na Oncologia Dor – Rede São Luiz. Suas áreas de atuação incluem nutrição, oncologia, metabolômica, nutrição clínica, bioquímica e biologia molecular.

Referências bibliográficas:

American Cancer Society, 2020.

Desmedt C, Fornili M, Clatot F, et al. Differential Benefit of Adjuvant Docetaxel-Based Chemotherapy in Patients With Early Breast Cancer According to Baseline Body Mass Index [published online ahead of print, 2020 Jul 2]. J Clin Oncol. 2020;JCO1901771. doi:10.1200/JCO.19.01771

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