É comum que, no primeiro trimestre da gestação, a mulher apresente episódios de náusea e até vômitos, mas ainda não se sabe ao certo qual a fisiopatologia desses sintomas nesse período. Alguns estudos sugerem haver relação com alterações hormonais, características maternas, fatores gastrointestinais, ambientais e psicológicos.
A dieta também parece impactar na ocorrência e na frequência da náusea e dos vômitos, por isso, alguns estudos aconselham evitar determinados alimentos como carnes, ovos, preparações apimentadas e gordurosas. Mas os dados ainda são conflitantes, logo, não há um consenso entre os profissionais de saúde.
Considerando esse cenário de incertezas e os benefícios reconhecidos das fibras dietéticas, um estudo decidiu investigar se o consumo de fibras presentes em cereais (insolúveis) ou presentes em frutas e vegetais (solúveis) poderia ter efeito sobre a ocorrência de náuseas e vômitos na gestação. A pesquisa também buscou uma relação entre o estilo de vida das gestantes com esses sintomas.
Como a ocorrência de náusea e vômitos foi investigada durante a gestação?
Entre janeiro de 2005 e setembro de 2007, 300 mulheres saudáveis com oito semanas de gestação e que frequentaram os ambulatórios de Tampere, na Finlândia, foram convidadas a participar desse estudo. Após algumas exclusões e casos de aborto ou mudança de distrito, restaram 188 participantes.
As participantes foram questionadas sobre a frequência com a qual realizavam pelo menos 20 minutos de atividade física rigorosa e responderam a dois questionários, sendo que o primeiro abordava o período anterior à gravidez e continha questões demográficas, histórico obstétrico e médico, sintomas gastrointestinais como prisão de ventre e azia, e um bloco de perguntas sobre a ingestão alimentar, como um QFA.
O segundo questionário foi respondido entre a 14ª e 16ª semana gestacional e era referente às primeiras 13 semanas da gravidez. As questões sobre ingestão alimentar, com foco no conteúdo de fibras, foram semelhantes às perguntas do questionário anterior. O peso, a altura, o IMC e a mudança de peso durante a gestação foram avaliados rotineiramente pelo programa de atenção à maternidade e também foram usados nessa pesquisa.
Com os dados dos questionários, os pesquisadores dividiram as mulheres em: as que apresentaram náusea ou vômito pelo menos uma vez por dia e as que apresentaram menos de um episódio de vômito ou náusea por dia; as que consumiram pelo menos 25g de fibras/dia (n= 33) e as que consumiram menos de 25g de fibras/dia (n= 155); e as que estavam ativas (faziam atividade rigorosa pelo menos 2x/semana) e as que não estavam.
Peso, consumo de fibras, constipação e estilo de vida
Contrariando o que estudos afirmam sobre casos de azia, enjoo e vômito, nessa pesquisa o sobrepeso foi inversamente proporcional à ocorrência de náuseas e vômitos na gestação. Em relação à ingestão de fibras, tanto entre as mulheres que apresentaram mais sintomas de náusea e vômito, quanto entre as que não apresentaram com tanta frequência, houve um aumento no consumo total do período pré-gestacional para o primeiro trimestre de 19,1g/dia para 20,6g/dia e de 16g/dia para 19g/dia, respectivamente.
Nos primeiros três meses da gestação, a constipação foi relatada em maior grau nas mulheres que sofreram com vômitos e náuseas e essas também apresentaram menor frequência de prática de atividade física rigorosa durante a gestação.
Conclusão
A eficiência das fibras sobre o trato gastrointestinal é relatada em diversos estudos. Elas possuem propriedade de gelatinização em meio hídrico, o que permite a formação de fezes com consistência adequada e capazes de transitar com facilidade pelo intestino até a evacuação. Além disso, esse grupo de alimentos apresenta grande afinidade com os ácidos biliares presentes no estômago causadores de náuseas e azias, corroborando a ideia inicial dessa pesquisa de que as fibras poderiam evitar casos de hiperêmese gravídica.
No entanto, nesse estudo, os achados foram contrários à tese, demonstrando que o consumo de fibras e o excesso de peso não afetam a incidência de náuseas e vômitos na gestação. Ainda assim, as fibras tanto solúveis quanto insolúveis foram alimentos bem tolerados e até mais consumidos pelas participantes, mesmo quando havia frequência desses sintomas.
Por fim, mesmo que só a prática de atividade física tenha apresentado resultados relevantes nessa pesquisa, a ingestão de fibras e a manutenção de peso adequado são recomendados durante todas as fases da vida e, na gestação, atuam como fatores de proteção à saúde da mãe e do bebê.
Assista ao vídeo da Fernanda Rodrigues, nutricionista da Sodexo On-site comentando sobre o estudo e as recomendações para evitar náuseas em gestantes.
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Referências
Johanna Kristiina Reijonen, Kati Maaria Hannele Tihtonen, Jukka Tapio Uotila, Tarja Vihtamäki & Tiina Hannele Luukkaala (2022). Dietary fibre intake and lifestyle characteristics in relation to nausea or vomiting during pregnancy—a questionnaire-based cohort study, Journal of Obstetrics and Gynaecology, 42:1, 35-42, DOI: 10.1080/01443615.2021.1871886
Débora Hemkemeier, Gabriela Chamusca, Luiz Carlos Carnevali, Daniela Caetano Gonçalves, Ana Lúcia Hoefel (2018). Uso de gengibre pode ser efetivo em diminuir sintomas de náuseas na gestação: uma revisão. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 10, Vol. 08, pp. 101-112, ISSN:2448-0959
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