Bebês recém-nascidos correm altos riscos de adquirir infecções possivelmente fatais, e seu tratamento depende do uso de antibióticos. No entanto, genes de resistência a antibióticos (AGRs) estão altamente presentes nos microbiomas intestinais destes bebês. Alterações na dieta que diminuam o número de AGRs são de grande valia para a melhora do tratamento. Pensando nisso, uma pesquisa recente buscou investigar o impacto das fórmulas infantis na carga de resistência neonatal.
O objetivo principal do estudo foi determinar se a exposição precoce a tais fórmulas influenciaram, de algum modo, a carga de AGRs em recém nascidos, prematuros ou a termo, aumentando a abundância de táxons que carregam estes genes.
Foram 46 bebês estudados
O estudo transversal contou com a participação de 46 neonatos, nascidos prematuros entre 27 a 36 semanas de gestação. Dentre eles, 21 foram alimentados com uma fórmula infantil comercial, 20 com leite materno com fortificante de leite humano, e 5 receberam apenas leite humano (da mãe ou doadora).
A carga média de resistência bacteriana foi calculada pelo número relativo de genes de resistência, divididos pela cópia do gene 16S RNA, após coleta de amostras fecais colhidas entre 7 a 36 dias de vida.
Ademais, o estudo foi validado de forma cruzada, utilizando testes externos de metagenomas de microbiota intestinal neonatal. No total, as coortes de meta-análise totalizaram 696 bebês, também nascidos entre 26 a 37 semanas de gestação.
Confira os principais achados a seguir.
Bebês alimentados com fórmulas possuem maior carga de AGRs
A carga de genes resistentes a antibióticos em bebês alimentados com fórmulas foi significativamente maior do que bebês alimentados apenas com leite materno ou leite humano com fortificantes.
Na metanálise, a alimentação com fórmulas foi associada a um aumento de 70% no número destes AGRs.
Além disso, em bebês alimentados com fórmulas houve uma maior abundância de elementos genéticos móveis (MGEs), ou seja, fragmentos de DNA capazes de transmitir os genes resistentes entre as bactérias, espalhando-os pela microbiota intestinal infantil.
Esse resultado é preocupante, uma vez que a transferência horizontal de ARGs também pode causar o surgimento de novas cepas resistentes a antibióticos de patógenos clinicamente relevantes.
Fórmulas favorecem bactérias patogênicas portadoras de AGRs
Os bebês alimentados com fórmula tiveram uma diversidade microbiana significativamente menor do que os bebês em aleitamento materno exclusivo.
Sugere-se que as mudanças no ambiente intestinal de bebês alimentados com fórmula podem resultar em comunidades microbianas enriquecidas com anaeróbios facultativos portadores de AGRs, em contraste com as comunidades mais diversificadas e menos resistentes a antibióticos de bebês alimentados apenas com leite humano.
Em lactentes que receberam fórmula, as famílias mais abundantes foram a Enterobacteriaceae, a Staphyloccoccaceae e a Enterococcaceae. Curiosamente, as Enterobacteriaceae são suspeitas de contribuir para a patogênese da enterocolite necrosante, e a prematuridade e exposição à fórmulas são fatores de risco para essa doença.
Além disso, várias espécies potencialmente patogênicas estavam mais presentes, como Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Klebsiella pneumoniae, Klebsiella oxytoca e Clostridium difficile.
Precisa de suplementação? É melhor fortificar do que usar fórmulas
A suplementação do leite materno ou proveniente de doadora não teve nenhum efeito significativo na carga de genes resistentes à antibióticos.
Sendo assim, esse resultado apoia a ideia de que, em casos que os lactentes necessitem de nutrição suplementar, a adição de fortificantes no leite humano pode ter menos impacto no potencial de resistência aos antibióticos do que a fórmula, que aumenta a carga destes AGRs.
No entanto, os autores afirmam que as análises carecem de maior poder estatístico para tirar conclusões definitivas.
É preciso cautela no uso de fórmulas infantis
Em resumo, os dados do estudo sugeriram que, nos primeiros meses de vida, uma alimentação apenas com leite humano (mesmo que fortificado) reduziria a carga de genes resistentes à antibióticos, modulando a comunidade microbiana para favorecer bactérias não portadoras desses genes.
Assim, médicos e profissionais da saúde devem ser prudentes no uso de fórmulas infantis. Assim, será possível uma redução do risco de infecções causadas por bactérias resistentes em bebês.
Referências:
PÄRNÄNEN, Katariina MM et al. Early-life formula feeding is associated with infant gut microbiota alterations and an increased antibiotic resistance load. The American Journal of Clinical Nutrition, v. 115, n. 2, p. 407-421, 2022.
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