Afinal, existe a dieta perfeita para a saúde?

Postado em 15 de maio de 2019 | Autor: Colunistas Convidados

Nilson Ribeiro

Nilson Ribeiro* é especialista em Nutrição Clínica

O noticiário diário está repleto de manchetes sobre dietas, mas mesmo os sites mais sérios apresentam modelos diferentes entre si a tal ponto que, se formos nos guiar por eles, a cada semana seguiremos uma diferente. Qual deve ser nosso norte então para a dieta adequada? O que seguir?

Certamente as doenças cardiovasculares (infarto do coração, angina, AVC, hipertensão) são as mais pesquisadas quando se busca a dieta ideal, mas há também temas como câncer, longevidade, além de doenças específicas. O colesterol ruim (ou LDL), medido em nosso sangue, se associa bem a infarto, a AVC e outros problemas das artérias e coração. Mas o colesterol que ingerimos tem uma menor associação nestes problemas.

As carnes vermelhas têm ligação bem definida com o câncer de intestino, mas os alimentos ditos anti-inflamatórios ainda precisam de mais estudos para definir seu peso protetor. Assim como o açúcar ainda não tem bem definida a extensão de sua responsabilidade no surgimento de doenças.

Dessa forma, cada indivíduo responde de maneira diferente aos alimentos e, também, há outros fatores determinantes para as doenças que vão limitar ou ampliar o poder terapêutico ou deletério da nossa dieta sobre a saúde. Com essas informações em mente podemos traçar um perfil dos alimentos.

As gorduras têm no seu tipo a principal variável. Gorduras trans encontradas em muitos produtos industrializados se associam a risco de doenças do coração e devem ser evitadas, assim como as ditas gorduras saturadas. O óleo de peixe e o ômega-3 são tipos que se associam a efeitos protetores com diminuição de eventos cardiovasculares entre os usuários, e assim podemos recomendar o consumo de peixe, por exemplo, duas vezes ou mais por semana.

O consumo de frutas e grãos tem forte impacto positivo na saúde. As fibras contidas nesses alimentos têm ação protetora para diabetes, doenças cardíacas e alguns cânceres (como intestinos e subtipos de câncer de mama). Além disso, as fibras não digeridas irão atuar sobre a flora intestinal (bactérias benéficas que habitam nosso intestino), favorecendo o bioma intestinal.

Aveia, trigo, arroz são exemplos de grãos. Mas o processamento industrial desses alimentos retira as fibras de sua composição – o mesmo ocorre com as frutas – e sendo assim, devemos procurar consumi-los in natura, ou na forma integral.

Quanto às proteínas, interessa para a saúde a fonte. Como dito das carnes vermelhas, apesar de boas fontes proteicas, se associam a câncer de intestino e doenças coronárias. As carnes brancas são preferíveis. Ovos também são boa fonte proteica e, apesar de fonte de colesterol, há dúvidas sobre a extensão da correlação do colesterol da dieta com problemas cardiovasculares. Já nozes e correlatos são muito bem-vindos para a proteção cardiovascular.

Outro ponto interessante e que atrai atenção e interesse é o consumo de álcool. O consumo de um drink ao dia para mulheres e no máximo dois para homens tem se mostrado protetor para doenças do coração. Mas vemos associação de consumo, mesmo que moderado de álcool, com câncer de mama em mulheres. Então não é possível recomendar o consumo diário de álcool a quem não o faz.

A certeza que existe no estado atual do conhecimento científico é que a dieta com excesso de calorias, quaisquer que sejam as fontes, leva à obesidade, e esta, por sua vez, se associa a sérios problemas de saúde como câncer, diabetes e infarto.

A busca de efeito de longo prazo da nutrição sobre a saúde requer a reprodução cotidiana de um padrão dietético. Os modelos que não se mantêm no longo prazo têm efeitos efêmeros e, não raro, levam à compensação alimentar com ingesta calórica excessiva após um período inicial.

Por isso, soluções mágicas devem ser evitadas e o primeiro passo para o tratamento da obesidade ou mesmo para a valorização da saúde deve ser a introdução de uma rotina com um padrão alimentar que inclua alimentos saudáveis e evite outros com excesso de calorias ou com efeitos maléficos.

 

*Nilson Ribeiro é mestre em cirurgia do aparelho digestivo pela Faculdade de Medicina da USP, cirurgião bariátrico membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e especialista em Nutrição Clínica pelo Ganep.

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