A desnutrição em pessoas idosas pode ser evitada, entenda como ficar atento aos fatores de risco
Embora muitas pessoas acreditem que o envelhecimento por si só cause perda de peso em idosos, essa ideia não é uma verdade. O processo de envelhecimento envolve redução nas funções fisiológicas, biológicas e de composição corporal.
No entanto, a perda de peso em idosos não é uma consequência inevitável da idade. Fatores como doenças crônicas, sarcopenia, anorexia relacionada à idade, inflamação, depressão, distúrbios cognitivos e até situação socioeconômica tem impacto na perda de peso observada nessa população.
Além disso, manter um estado nutricional adequado e uma ingestão suficiente de nutrientes é fundamental para a saúde e qualidade de vida na terceira idade. Portanto, a perda de peso em idosos não é uma consequência natural do envelhecimento e pode estar relacionada a outros fatores de saúde.
Conteúdo
- 1 Todo idoso será desnutrido?
- 2 Idosos sofrem de perda de apetite
- 3 A desnutrição tem impactos na saúde do idoso
- 4 A desnutrição pode levar a outras síndromes geriátricas
- 5 Dentes frágeis podem provocar a desnutrição em idosos
- 6 Envelhecer também aumenta o risco de disfagia
- 7 Idosos precisam comer alimentos com proteína
- 8 Somente idosos emagrecidos devem ser avaliados para desnutrição
- 9 Idosos com desnutrição ou em risco de desnutrição devem receber alimentos fortificados
Todo idoso será desnutrido?
Embora a desnutrição em idosos seja um problema sério com consequências clínicas importantes, nem todos os idosos serão desnutridos.
Idosos que conseguem manter um bom estado nutricional através de uma alimentação balanceada, prática de atividade física, regular e suplementação adequada se necessário, associada a cuidados preventivos de saúde tendem a ter menos chances de ser desnutridos e pode ser evitada e tratada com intervenção adequada.
Assim, a desnutrição não é uma certeza para todos os idosos, mas um desafio que pode ser gerenciado com a abordagem correta.
Idosos sofrem de perda de apetite
Idosos frequentemente sentem menos fome devido a uma série de mudanças fisiológicas e hormonais que ocorrem com o envelhecimento. A anorexia do envelhecimento, caracterizada pela diminuição do apetite, é um fator central nesse processo.
Conforme as pessoas envelhecem, há uma redução na ingestão de alimentos, acompanhada por uma diminuição da massa muscular e um aumento da massa gorda. Diversos fatores contribuem para essa diminuição do apetite nos idosos. A redução do olfato e do paladar, embora tenha um papel menor, também afeta a vontade de comer.
Alterações na capacidade do estômago de se expandir após as refeições desempenham um papel significativo na sensação de saciedade pós-prandial. Além disso, o esvaziamento gástrico retardado após grandes refeições contribui para a sensação de saciedade prolongada.
Hormônios da saciedade também aumentam com a idade e se tornam mais eficazes em promover a sensação de saciedade. Isso faz com que os idosos se sintam satisfeitos mais rapidamente e por mais tempo.
Essas mudanças levam os idosos a sentirem menos fome, o que pode resultar em uma ingestão alimentar inadequada e, potencialmente, em desnutrição. É importante estar atento a esses fatores para garantir que os idosos mantenham uma nutrição adequada e, assim, preservem sua saúde e bem-estar.
A desnutrição tem impactos na saúde do idoso
A desnutrição causa impactos significativos na saúde dos idosos. Embora a desnutrição em idosos ocorra predominantemente em hospitais, instituições de cuidados ou lares de idosos, também é comum entre idosos que moram com suas famílias ou sozinhos.
A desnutrição tem implicações sérias, afetando a recuperação de doenças, de cirurgias, e está associada a um aumento da mortalidade. A desnutrição do idoso resulta em uma perda progressiva de massa muscular que afeta a força e função do idoso, impactando no seu dia a dia.
A desnutrição e a redução na ingestão de proteínas também estão associadas à diminuição da massa óssea em idosos, aumentando o risco de osteoporose e fraturas. Esses fatores elevam o risco de quedas e a perda de independência.
Além disso, a desnutrição e a deficiência de micronutrientes comprometem a função imunológica, que já é afetada em idades mais avançadas, aumentando o risco de infecções e atrasando a recuperação de doenças.
Portanto, é essencial reconhecer e tratar a desnutrição em idosos para melhorar sua qualidade de vida e reduzir os impactos negativos em sua saúde.
A desnutrição pode levar a outras síndromes geriátricas
A desnutrição pode levar ao desenvolvimento de outras síndromes geriátricas como demência, delírio, depressão, incontinência, risco de quedas, deficiência visual e auditiva, distúrbios de cicatrização de feridas, fragilidade e sarcopenia.
A perda involuntária de peso, característica da desnutrição, está associada à perda de massa muscular esquelética, que tende a ser mais pronunciada em idades avançadas. Isso aumenta o risco de sarcopenia, caracterizada pela perda de massa, força e função muscular.
Devido à frequência com que essas duas condições ocorrem juntas, surgiu o termo “síndrome de desnutrição da sarcopenia”, destacando a necessidade de atentar-se à nutrição do idoso.
Dentes frágeis podem provocar a desnutrição em idosos
Boca, língua e dentes são a primeira parte do trato digestivo e desempenham funções cruciais, como morder, mastigar, adicionar saliva aos alimentos e transportá-los para o estômago.
A má saúde oral está associada ao envelhecimento e está ligada a uma menor quantidade e qualidade da dieta em idosos, levando a uma redução da ingestão de frutas, vegetais e fibras, aumentando o risco de desnutrição.
O número de dentes está diretamente associado à variedade de alimentos que os idosos conseguem consumir, podendo influenciar a escolha de alimentos de consistência mais macia, reduzindo o prazer de comer e contribuindo para um estado nutricional ruim.
Já a doença periodontal, pode levar a perda de dentes por inflamação crônica dos tecidos que sustentam os dentes. A inflamação bucal crônica pode desencadear respostas que afetam a saúde geral, e levam a deficiências nutricionais, especialmente em vitaminas e minerais, comprometendo a imunidade e predispondo os idosos a infecções e inflamações que resultam na perda de peso e depleção muscular.
Envelhecer também aumenta o risco de disfagia
Nem todo idoso vai ter disfagia! Problemas de deglutição, ou disfagia, são uma preocupação crescente entre os idosos, por poderem levar à desnutrição, desidratação, pneumonia por aspiração e até mesmo morte por asfixia.
A disfagia é a dificuldade em mastigar e engolir alimentos ou líquidos, resultando em um trânsito prejudicado ou prolongado dos mesmos da boca para o esôfago.
No entanto, é importante desmistificar a ideia de que todos os idosos terão disfagia. Muitos passam a vida inteira sem problemas significativos de deglutição. Com cuidados preventivos, intervenções precoces e tratamentos adequados, é possível gerenciar e até evitar a disfagia.
Idosos precisam comer alimentos com proteína
Na verdade, a ingestão de proteína em idosos deve ser de pelo menos 1 grama de proteína por quilograma de peso corporal por dia, ajustada individualmente conforme o estado nutricional, nível de atividade física, condição de saúde e tolerância.
A recomendação tradicional para ingestão de proteína é de 0,8 g/kg de peso corporal por dia para adultos de todas as idades. No entanto, essa recomendação está sendo revisada para idosos, que indicam que os idosos podem necessitar de maiores quantidades de proteína para a preservação ideal da massa muscular, funções corporais e saúde geral.
Leia mais sobre: Proteína na alimentação dos idosos: qual é a quantidade ideal?
Somente idosos emagrecidos devem ser avaliados para desnutrição
Todas as pessoas idosas, independentemente do diagnóstico específico e incluindo aquelas com sobrepeso e obesidade, devem ser rotineiramente rastreadas para desnutrição por um profissional.
Isso é importante para identificar aqueles que estão em risco ou já apresentam desnutrição. A desnutrição pode ocorrer em qualquer pessoa idosa, independentemente do seu peso, e pode estar mascarada em indivíduos com sobrepeso ou obesidade.
A avaliação regular garante que intervenções nutricionais adequadas sejam implementadas precocemente, promovendo uma melhor saúde e qualidade de vida para todos os idosos.
Idosos com desnutrição ou em risco de desnutrição devem receber alimentos fortificados
Idosos desnutridos ou em risco de desnutrição precisam receber refeições fortificadas e suplementos adicionais para auxiliar na recuperação do estado nutricional. A fortificação alimentar, utilizando alimentos naturais (como óleos vegetais, creme de leite e ovos) ou preparações com nutrientes específicos (como maltodextrina e proteína em pó), pode aumentar as calorias das refeições e bebidas, permitindo uma ingestão elevada de energia.
Idosos com desnutrição ou em risco de desnutrição com condições crônicas devem receber suplementos nutricionais quando o aconselhamento dietético e a fortificação alimentar não forem suficientes para aumentar a ingestão alimentar e atingir as metas nutricionais.
Para garantir a saúde e a qualidade de vida dos idosos, é fundamental compreender que a desnutrição não é uma consequência inevitável do envelhecimento. Reconhecer e tratar precocemente os sinais de desnutrição pode fazer uma diferença significativa na vida dos idosos, ajudando-os a manter a independência e a saúde por mais tempo.
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*Este conteúdo não substitui a orientação de um especialista. Agende uma consulta com o nutricionista de sua confiança.
Referências
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É nutricionista pós graduada em Terapia Nutricional e Nutrição Clínica pelo Ganep Educação, Mestranda em Ciências em Gastroenterologia com ênfase em composição corporal do idoso na Faculdade de Medicina da USP, tutora do Ganep Educação. É colunista convidada do Nutritotal Público Geral, tem em sua trajetória a área clínica hospitalar, atendimento em homecare e consultório, acredita que a nutrição através da alimentação é importante para promoção da saúde e da qualidade de vida!