Quem frequenta feiras e o setor de hortifrúti do supermercado já deve ter percebido que existem frutas disponibilizadas o ano inteiro, enquanto outras aparecem em épocas bem específicas do ano. Tangerina e morango são exemplos de espécies que costumam frequentar as gôndolas no outono, ao passo que manga e uva abundam mais nas bancas no verão.
A explicação para essas diferenças vem da sazonalidade ou safra natural dos alimentos, que envolve o cultivo dos vegetais respeitando as condições climáticas do local de produção.
Mas como é que algumas frutas podem ser encontradas o ano todo? A alta demanda por alimentos provocou o aprimoramento de técnicas agrícolas, o que permitiu prolongar a produção natural e o tempo de comercialização de diversos itens. Em alguns casos, utiliza-se a fertilização natural do solo para potencializar a produção. As frutas são colhidas antes do tempo e armazenadas em ambientes com temperatura controlada. Assim, amadurecem através de técnicas artificiais fora do período de safra.
O mais comum nas lavouras, no entanto, é o uso de fertilizantes químicos capazes de estender o tempo de produção. Esse método aumenta o teor de água dos alimentos, resultando por vezes em frutos maiores, mas com valor nutritivo e sabor reduzidos.
Vale lembrar que folhas verdes e cascas brilhantes podem esconder um grande problema, difícil de visualizar: o uso de agrotóxicos. Segundo a Anvisa, dentre os alimentos mais contaminados por essas substâncias estão a laranja, o abacaxi e a uva. A limpeza caseira dos vegetais com água, escovinha e hipoclorito pode minimizar os riscos associados aos agrotóxicos nos alimentos, bem como a presença de eventuais germes.
O fato é que frutas locais e sazonais tendem a ser mais frescas, saborosas e de melhor qualidade do que itens produzidos fora da estação. Além disso, são mais baratos durante os meses de safra natural, o que nos ajuda a comer bem gastando menos.
Priorizar os alimentos sazonais é uma das principais mudanças propostas para alcançar uma dieta mais saudável e sustentável. E, não à toa, o próprio Guia Alimentar para a População Brasileira orienta o consumo de alimentos regionais, oriundos da agricultura familiar, que respeitam a sazonalidade e técnicas agrícolas naturais.
Essa é uma discussão que se amplia ao âmbito ambiental. Sabemos que a produção de alimentos tem impacto nas mudanças climáticas em função do uso da terra e da água, da geração de resíduos e poluentes e dos reflexos na biodiversidade. Os alimentos sazonais demandam menos energia para serem produzidos — eles não dependem, por exemplo, de aquecimento ou iluminação artificial para render seus frutos, diferentemente do que é cultivado fora do contexto natural. Daí a vantagem para o meio ambiente.
Sustentabilidade, sabor e economia já são motivos suficientes para você escolher as frutas da safra. E um ponto extra é a riqueza nutricional, uma vez que, em geral, falamos de alimentos que, no outono-inverno, ajudam a promover o bom funcionamento da imunidade, enquanto no verão são excelentes para nos manter hidratados e bem nutridos.
(Este texto foi produzido pelo Nutritotal em uma parceria exclusiva com Veja Saúde)
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Médico, especialista em Cirurgia, Gastroenterologia, Nutrologia e Terapia Nutricional Enteral e Parenteral pela BRASPEN, é reconhecido internacionalmente por sua atuação na área de nutrição. É Mestre, Doutor e Livre-Docente pela Universidade de São Paulo, USP, Professor Associado do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP, Chefe do Laboratório Metanutri da FMUSP, Coordenador Clínico das EMTNs do ICHC, ICESP, e Hospital Santa Catarina. Diretor Científico do Ganep Educação.