Para o tratamento da obesidade, a cirurgia bariátrica tem se mostrado eficaz, não somente para a perda de peso, mas também para a melhora do estresse oxidativo e de doenças como hipertensão e diabetes que podem estar associadas ao quadro clínico do paciente. Outro resultado relevante que estudos têm apontado nessa intervenção é a melhora do perfil lipídico, mas ainda existe muita controvérsia sobre isso no meio científico.
Algumas pesquisas relatam alterações apenas no teor de triglicerídeos, enquanto outros estudos demonstram que o estado de vitamina D antes da cirurgia é determinante para modular o perfil lipídico após a bariátrica. Nesse sentido, um estudo decidiu avaliar os dados bioquímicos de pacientes, submetidos à cirurgia bariátrica, antes e depois do procedimento.
Perfil lipídico e vitamina D
Sabe-se que a vitamina D é uma vitamina lipossolúvel que se acumula no tecido adiposo. Porém, um aumento da camada de gordura do corpo pode limitar a disponibilidade dessa vitamina para os demais tecidos, predispondo à deficiência.
A apolipoproteína A-I (apo A-I) é um componente de moléculas de HDL e sua maior concentração está associada a um menor risco de doenças cardiovasculares. Estudos demonstram que a expressão dessa lipoproteína depende de umas das formas ativas da vitamina D, a 1,25-dihidroxi D3, também chamada de vitamina D3 ou colecalciferol.
Participantes e análises
Para essa pesquisa, foram selecionados 24 adultos (4 homens e 20 mulheres) com obesidade mórbida e IMC = 41,44 ± 3,32 kg/m². Esses indivíduos passaram pela cirurgia bariátrica do tipo bypass gástrico laparoscópico de uma anastomose entre 2016 e 2018.
As informações antropométricas e laboratoriais foram coletadas 3 meses antes da cirurgia, no dia do procedimento e 6 meses depois. Após a cirurgia, os pacientes foram orientados a seguir uma dieta hiperproteica e suplementar um complexo vitamínico que incluía 75 μg de D3.
Resultados
Na análise observou-se que a vitamina D2 (ergocalciferol) sofreu redução após a cirurgia bariátrica, mas a vitamina D3 não apresentou alterações significativas. Quanto ao perfil lipídico, o LDL e o colesterol total não mudaram, porém, o colesterol HDL aumentou.
Perceberam também que houve redução significativa da glicemia e de marcadores inflamatórios, um destaque para os triglicerídeos que diminuíram em 40% após 6 meses da cirurgia. Além desses resultados, os pesquisadores avaliaram o efeito do calcidiol, um pré-hormônio produzido no fígado através da hidroxilação da vitamina D3.
Eles apontaram que níveis de calcidiol acima de 32 ng/mL normalizaram o risco cardiometabólico, enquanto nos pacientes com <32 ng/mL houve um aumento desse risco. Também foi notado efeito no nível de LDL, com redução nos indivíduos com >32 ng/mL e aumento no grupo com valores inferiores.
Conclusão
Efeitos significativos no metabolismo da vitamina D após a cirurgia bariátrica não foram observados. A redução de vitamina D2, que é obtida da dieta, pode ser resultado das mudanças alimentares ou prejuízo na absorção intestinal, que é um dos efeitos negativos dessa cirurgia.
Com as mudanças positivas no perfil lipídico e os dados obtidos pelos efeitos dos níveis de calcidiol, a suplementação de vitamina D, muitas vezes exigida entre pacientes bariátricos, parece adequada para aumentar a concentração de vitamina D3 antes e depois da cirurgia para melhorar efeitos lipídicos e evitar carências nutricionais.
Referência
Reczkowicz, J.; Mika, A.; Antosiewicz, J.; Kortas, J.; Proczko-Stepaniak, M.; Śledziński, T.; Kowalski, K.; Kaska, Ł. Bariatric Surgery Induced Changes in Blood Cholesterol Are Modulated by Vitamin D Status. Nutrients 2022, 14, 2000. https://doi.org/10.3390/nu14102000
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