Em um estudo recente, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um índice inédito para medir a qualidade da dieta dos indivíduos.
Denominado “Cardiovascular Health Diet Index (CHDI)”, a estratégia combina recomendações para uma saúde cardiovascular ideal, com a recomendação de redução dos alimentos ultraprocessados. Conheça os detalhes do método a seguir.
O índice foi baseado em recomendações anteriores
Anteriormente à presente pesquisa, a “American Heart Association (AHA)” havia criado o conceito de “saúde cardiovascular ideal”, que contava com um escore de 4 fatores de estilo de vida (IMC, tabagismo, atividade física e dieta saudável) e 3 fatores de saúde (pressão arterial, glicemia de jejum e colesterol total).
Para desenvolver o novo método “Cardiovascular Health Diet Index” os pesquisadores se basearam no padrão de dieta saudável proposto pelo AHA.
Além disso, por já estar bem estabelecido que a alta ingestão de produtos ultraprocessados se relaciona a doenças cardiovasculares, os autores do índice incluíram esses alimentos como componentes de monitoramento.
Por fim, também foram considerados o consumo de carnes vermelhas, laticínios e a cultura alimentar brasileira.
Como funciona o índice de qualidade da dieta “Cardiovascular Health Diet Index”?
O CHDI funciona através de um sistema de pontuação, que varia de 0 a 110. Para avaliar a dieta de um indivíduo, os seguintes grupos alimentares são considerados:
- Frutas, hortaliças, peixes e frutos do mar, grãos integrais, nozes e sementes, leguminosas e laticínios: separadamente, cada item recebe pontuações de 0 a 10, onde “10” denota consumo igual ou superior ao recomendado.
- Bebidas adoçadas, carnes vermelhas, carnes processadas e alimentos ultraprocessados: recebem a pontuação de modo inverso, onde “0” denota consumo igual ou superior ao valor recomendado, e “10” representa ausência do consumo.
Desse modo, a cada pontuação adquirida nos 11 componentes descritos acima, soma-se os valores e se chega ao resultado da qualidade dietética.
Vale ressaltar que o consumo de sódio e gordura saturada não são levados em consideração, pois as recomendações atuais para redução do risco cardiovascular estão focadas nos padrões alimentares, e não mais em determinados nutrientes isolados.
A validade deste novo índice foi investigada
De modo a testar a validade e confiabilidade do CHDI, foi feita uma análise transversal dos dados basais do ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), que conta com uma coorte de indivíduos entre 35 a 74 anos, provenientes de diferentes cidades brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, Porto Alegre e Salvador).
Os dados do ELSA foram coletados entre agosto de 2008 e dezembro de 2010. De 15.105 indivíduos participantes, 14.779 foram selecionados por critérios da pesquisa.
O consumo alimentar dos participantes foi avaliado por meio de um questionário de frequência alimentar (QFA), com 114 itens alimentares, compreendendo a alimentação dos últimos 12 meses.
O consumo alimentar coletado via QFA foi então convertido em ingestão de nutrientes, utilizando os bancos de dados de composição alimentar “USDA” e “TBCA-USP”.
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O CHDI se associou positivamente à qualidade dietética
O escore médio da população analisada foi de 57.1 pontos, em uma escala que variou de 0 a 110. Maiores médias foram observadas entre mulheres, idosos, não fumantes e com nível moderado a vigoroso de atividade física.
O escore total de CHDI foi associado a nutrientes relacionados à saúde cardiovascular, apresentando associação positiva com carboidrato, proteína, fonte de proteína vegetal, PUFA e fibras; e associação negativa com gordura total, MUFA, gordura saturada, colesterol, açúcar de adição e sódio.
Desse modo, pode-se dizer que o índice foi significativamente associado à qualidade geral da dieta. Além disso, teve um desempenho satisfatório em termos de validade e confiabilidade. Assim, sugere-se que o CHDI pode ser eficaz para avaliar a qualidade da dieta, em termos de promoção da saúde cardiovascular ideal.
Limitações e conclusões do estudo
Apesar dos bons resultados, algumas limitações foram notadas pelos pesquisadores. A primeira delas diz respeito ao questionário alimentar utilizado (QFA), que embora previamente validado e muito utilizado em estudos epidemiológicos, pode apresentar alguns vieses (finitude da lista de alimentos e o método de autorrelato).
Além disso, embora os critérios de validade e confiabilidade apresentados tenham sido satisfatórios, o CHDI não foi avaliado quanto à sua capacidade de predizer mortes e doenças. No entanto, essas análises estão planejadas e serão realizadas em breve, segundo os mesmos.
Dessa maneira, os autores esperam que, no futuro, o uso do CHDI avalie a adesão da população às recomendações dietéticas para promover a saúde cardiovascular ideal e prevenir as doenças cardiovasculares.
Referência:
CACAU, Leandro Teixeira et al. The AHA Recommendations for a Healthy Diet and Ultra-Processed Foods: Building a New Diet Quality Index. Frontiers in Nutrition, p. 575.
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