Diante dos impactos negativos que a sarcopenia tem na saúde e qualidade de vida dos idosos, há tempos se questiona a existência de marcadores bioquímicos que pudessem indicar a doença em diferentes situações.
Considerada uma síndrome geriátrica caracterizada por progressiva redução de massa e função muscular, a sarcopenia tem como fatores de risco o envelhecimento, baixos níveis de atividade física, desnutrição e várias comorbidades, como doenças cardiovasculares, diabetes, doenças respiratórias, vírus da imunodeficiência humana (HIV) e câncer.
É amplamente discutida na atualidade e sua presença está relacionada com fragilidade, quedas e lesões que resultam em hospitalização, perda de independência e aumento da morbimortalidade.
Apesar de ter sido identificada pela primeira vez na década de 1980, apenas em 2010 surgiu o primeiro consenso de diagnóstico de sarcopenia. A partir de então, vários grupos de estudo têm proposto critérios para seu diagnóstico, sempre baseados na avaliação de força e função muscular.
Como é feito o diagnóstico de sarcopenia?
O último e mais popular critério de diagnóstico de sarcopenia foi proposto pelo Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Pessoas Idosas (sigla em inglês EWGSOP), em 2019. O EWGSOP propõe a avaliação de sarcopenia a partir de um algoritmo que se inicia pela sua triagem, por meio do questionário Sarc-f, seguida por avaliação de força muscular, que indica provável sarcopenia. Segue-se a avaliação de massa muscular que confirma o diagnóstico de sarcopenia e, por fim, a baixa performance muscular determina a gravidade da doença (Figura 1).
Figura 1. Algoritmo para identificação de sarcopenia, segundo EWGSOP
Esse critério de diagnóstico apresentado também é adotado por outros grupos de pesquisa, havendo modificações apenas nos pontos de corte para identificação de perda de massa muscular e força. No entanto, ainda é pouco discutido o uso de marcadores bioquímicos no diagnóstico de sarcopenia.
Existem marcadores bioquímicos capazes de identificar sarcopenia?
Em uma recente publicação, Papadopoulou e colaboradores revisaram as evidências científicas sobre biomarcadores específicos de sangue e soro que têm sido associados a avaliações clínicas de sarcopenia e recomendados como uma ferramenta para detectar e monitorar idosos em risco, com o objetivo de otimizar estratégias que visam prevenir e tratar a sarcopenia.
Estes biomarcadores não devem ser avaliados isoladamente e nem considerados como critério único de diagnóstico, mas dentro de uma avaliação ampla do idoso, podem ser considerados como indicadores de risco.
Veja a seguir (tabela 1) os principais marcadores associados ao risco aumentado para desenvolver sarcopenia:
Tabela 1. Características dos biomarcadores e sua relação com sarcopenia e nutrição. (Clique na imagem para salvar o PDF)
Legenda: IME = índice do músculo esquelético; IL-6 = Interleucina-6; MCM = massa corporal magra.
Fonte: adaptado de Papadopoulou, et al (2022).
Vale ressaltar que o desenvolvimento da sarcopenia é multifatorial, por isso, vários componentes físicos e diferentes biomarcadores devem ser considerados para triagem e diagnóstico.
Devido a importância da nutrição na prevenção e tratamento da sarcopenia e, considerando a importância do diagnóstico precoce, os autores dessa revisão afirmam que biomarcadores associados à nutrição (incluindo albumina, vitamina D e IGF-1) podem ser usados para avaliar o estado nutricional e massa muscular, força e função em indivíduos, auxiliando na identificação e tratamento da sarcopenia. No entanto, reforçam que mais estudos são necessários para determinar outros biomarcadores potenciais para sarcopenia.
Leia também:
- Avaliação do risco de sarcopenia em idosos hospitalizados
- Provável sarcopenia reduz sobrevida em câncer
- Presença de Osteosarcopenia aumenta fragilidade em idosos
Referências
Cruz-Jentoft AJ, Sayer AA. Sarcopenia. Lancet. 2019 Jun 29;393(10191):2636-2646. doi: 10.1016/S0140-6736(19)31138-9. Epub 2019 Jun 3. Erratum in: Lancet. 2019 Jun 29;393(10191):2590. PMID: 31171417.
Cruz-Jentoft AJ, Bahat G, Bauer J, Boirie Y, Bruyère O, Cederholm T, et al. Writing Group for the European Working Group on Sarcopenia in Older People 2 (EWGSOP2), and the Extended Group for EWGSOP2. Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis. Age Ageing. 2019 Jan 1;48(1):16-31. doi: 10.1093/ageing/afy169.
Dent E, Morley JE, Cruz-Jentoft AJ, Arai H, Kritchevsky SB, Guralnik J, et al. International Clinical Practice Guidelines for Sarcopenia (ICFSR): Screening, Diagnosis and Management. J Nutr Health Aging. 2018;22(10):1148-1161. doi: 10.1007/s12603-018-1139-9.
PAPADOPOULOU, Sousana K. et al. Nutritional and Nutrition-Related Biomarkers as Prognostic Factors of Sarcopenia, and Their Role in Disease Progression. Diseases, v. 10, n. 3, p. 42, 2022.
Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Mestranda pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP. Especialização em Obesidade, Emagrecimento e Saúde pela Unifesp. Tutora de cursos EAD do Ganep Educação. Coordenadora do Nutritotal.