Segundo estudos, esse leite reduz sintomas gastrintestinais e provoca menos inflamações
Seja na forma líquida para ser bebido puro, com café ou chocolate, seja como doces ou queijo, o leite de vaca está entre os alimentos mais consumidos no mundo e o leite de vaca A2 entra como uma das opções de bebidas oferecidas no mercado.
Apesar do consumo de produtos lácteos ser frequente na população, algumas pessoas, ao beber ou comer produtos lácteos de origem bovina, sentem alguns sintomas gastrintestinais, como diarreia, dores abdominais, gases e enjoo.
Duas das condições que provocam esses sintomas são bem conhecidas: a intolerância à lactose e a alergia à proteína do leite de vaca (APLV), comum em bebês e crianças. Também existe uma terceira condição de sensibilidade ao leite, em que os mesmos sintomas podem ser observados.
Entenda a diferença entre essas condições e como o leite A2 pode contribuir na melhora desses sintomas.
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Intolerância à lactose
A intolerância é caracterizada por uma incapacidade do nosso organismo de digerir algo, no caso, o açúcar do leite que é a lactose. Essa digestão é realizada por uma enzima, chamada de lactase que, quando ausente ou insuficiente, não consegue fazer sua função, levando à fermentação da lactose pelas bactérias do nosso intestino, causando gases e aumento de líquido no intestino que, consequentemente, provocará diarreia.
Alergia à proteína do leite de vaca (APLV)
A alergia à proteína do leite de vaca, por sua vez, é provocada pela proteína do leite, como o nome já diz. O leite é composto por aproximadamente 20% de proteínas, como a β-lactoglobulina (mais abundante) e as caseínas (aproximadamente 80%) que se apresentam em quatro formas: a α s1-caseína, a α s2-caseína, a β-caseína (que pode ser A1 ou A2, principalmente) e a k-caseína (esta se lê “capa caseína”).
Pessoas que possuem essa alergia apresentam os sintomas gastrintestinais que comentamos anteriormente, e ainda podem apresentar sintomas respiratórios e manifestações na pele. Esses sinais são efeitos da reação imunológica do corpo que compreende as proteínas como “invasores” e tenta se defender delas produzindo anticorpos que desencadeiam respostas imunológicas.
Geralmente, quem possui APLV tem alergia não somente a um tipo dessas proteínas, mas dois ou mais.
A outra condição não relacionada à lactose, nem APLV é caracterizada por sensibilidade a uma proteína chamada de BCM7 (betacasomorfina 7) que é liberada pelo nosso corpo na digestão de alguns tipos de leite.
Qual o papel do leite A2?
O leite é composto por vários tipos de proteína, incluindo a β-caseína que pode ser, principalmente, do tipo A1 ou A2. Nos leites de vaca, a β-caseína representa cerca de 30% das proteínas totais desse alimento e essa diferenciação dos tipos de β-caseína ocorre por variabilidade genética das vacas leiteiras. Então, explicando de forma sucinta, o leite A1 pode apresentar:
- Apenas a β-caseína A1
- Uma mistura de β-caseína A1 e A2
Enquanto o leite A2 apresenta somente a β-caseína A2. Para fazer esse leite, a indústria seleciona geneticamente as vacas que produzem leites A2, e no que isso pode implicar?
Na digestão do leite A1 aquela proteína BCM7 que participa da digestão do leite e causa sensibilidade e sintomas como redução do trânsito intestinal, é liberada em quantidades que podem ser incômodas para algumas pessoas.
No leite A2, no entanto, essa proteína não é liberada ou ocorre em quantidades discretas no processo digestivo, evitando desconfortos gastrintestinais.
Além disso, estudos também demonstram que o consumo de leite A2 pode promover menos efeitos inflamatórios quando comparado ao leite A1.
E como ele pode interferir nessas condições?
A princípio, a indicação desse leite é para quem não tem intolerância à lactose e quem não tem APLV para melhorar possíveis desconfortos e permitir a ingestão de uma bebida nutritiva, como o leite de vaca.
Mas, estudos também demonstraram que em alguns indivíduos intolerantes à lactose o consumo de leite A2 provoca efeitos reduzidos de intolerância e de dores abdominais quando comparado ao leite A1.
Isso pode ser explicado pelo trânsito gastrointestinal que é acelerado com a ingestão de um leite de mais fácil digestão, como o leite A2, evitando, assim, a fermentação da lactose pelas bactérias do intestino o que provocaria sintomas da intolerância à lactose.
Outra pesquisa também apontou que o leite A2 pode ser uma opção para pessoas com APLV por reduzir processos inflamatórios e não ter a β-caseína A1 que pode ser a proteína causadora dos sintomas alergênicos.
Ainda, outro destaque relevante foi uma pesquisa realizada em crianças que mostrou que a troca do leite A1 por A2, pode promover melhora dos sintomas gastrointestinais, e contribuir com a melhora da cognição nas crianças.
Mas, vale ressaltar que os efeitos podem ser diferentes em cada pessoa e por isso um acompanhamento médico e nutricional é essencial para que haja segurança no consumo de leites e derivados.
Leia também:
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Referências
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