Nutrição parenteral coadjuvante não melhora qualidade de vida em pacientes com câncer em tratamento paliativo

Postado em 27 de maio de 2020 | Autor: Marcella Gava

Estudo evidenciou que nutrição parenteral não aumentou a qualidade de vida ou de sobrevida de pacientes com câncer avançado

Braço de uma pessoa internada

Estudo avaliou os benefícios clínicos da nutrição parenteral (NP) sobre dieta oral (DO) em pacientes com caquexia por câncer avançado e sem prejuízo intestinal. Assim realizaram um estudo randomizado prospectivo multicêntrico para comparar os dois tipos de dietas. Foram incluídos no estudo pacientes desnutridos, definido como IMC<18,5kg/m² (<70 anos) e IMC<21kg/m² (>70 anos) e/ou perda de peso de 2% em 1 semana, 5% em 1 mês ou 10% em 6 meses, com expectativa de vida maior que 2 meses e menor que 12 meses, trato gastrointestinal (TGI) funcionante, com cateter venoso central e que estavam sendo acompanhados pela equipe de cuidados paliativos. A NP foi administrada nos pacientes randomizados neste grupo a fim de atingir 30-35 kcal/kg/dia e 1,2-1,5g prot/kg/dia. Para os pacientes mantendo DO foi mantido um aporte nutricional mínimo de 1000kcal/dia e 6g de nitrogênio 5 dias na semana. A qualidade de vida relacionada a saúde foi avaliada por formulário específico (QQV), sendo destacado a qualidade de vida geral, funcionalidade física e fadiga; foram avaliados também parâmetros nutricionais (ingestão alimentar, sintomas digestivos, peso e ingestão nutricional complementar), eventos adversos e sobrevida.

Fizeram parte do estudo 111 pacientes, sendo 48 no grupo NP e 60 no grupo DO. A idade média destes foi 67 anos, sendo a maioria mulheres (55%). A média de perda de peso foi de 8,2 kg nos últimos 6 meses, 73% apresentavam hipoalbuminemia e a média de ingestão alimentar era 40%. Não houve diferença no item sobrevivência sem piora no QQV entre os grupos em relação a qualidade de vida geral, funcionalidade física e fadiga. A análise após 6 meses mostrou um aumento estatisticamente significativo na sobrevida livre de piora para funcionamento físico, com mediana de 2,23 meses para os pacientes com DO versus 1,05 meses para os pacientes com NP (HR, 2,03; IC 95%, 1,33-3,12; p = 0,0008). Houve também um aumento significativo da sobrevida livre de piora em relação a dimensão da dor (p = 0,004) no grupo DO versus grupo NP e uma tendência a favor do DO com HR> 1 para as outras dimensões. Não houve diferença estatística na sobrevida geral, com uma média de três meses no grupo DO e de dois meses no grupo NP. Não houve diferença nos parâmetros nutricionais entre os grupos durante o estudo, e o tempo para piora no perfil de desempenho foi significativamente maior no Grupo DO, com mediana de 1,6 meses no grupo NP versus 5,7 meses no grupo DO. Eventos adversos graves foram maiores no grupo NP, sendo estes infecção de cateter, infecção e edema agudo de pulmão.

Assim os autores concluíram que a NP não aumentou nem a qualidade de vida nem a sobrevida de pacientes com câncer avançado e caquexia relacionada ao câncer, além de causar mais efeitos adversos graves, aumentando assim a evidencia e reforçando a recomendação de não prescrição de NP para pacientes com câncer avançado e trato intestinal funcionante.

Referência

Carole Bouleuc et al. Impact on Health‐Related Quality of Life of Parenteral Nutrition for Patients with Advanced Cancer Cachexia: Results from a Randomized Controlled Trial. Oncologist. 2020 May; 25(5): e843–e851.

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