Lactobacillus e Bifidobacterium são os gêneros mais utilizados em situações de desconforto intestinal
Que o nosso intestino é habitado por milhões de microorganismos já não é segredo para ninguém, sabemos que nossa microbiota intestinal tem relação com inúmeras condições de saúde e podem prevenir doenças e reduzir vários sintomas gastrointestinais.
Em um mundo perfeito, vivemos em simbiose intestinal, caracterizada pela harmonia entre hospedeiro e microrganismos patógenos e benéficos, porém a disbiose intestinal é uma realidade para a maioria das pessoas. Caracterizada pelo aumento das bactérias patogênicas em comparação às benéficas, a disbiose é resultado do uso excessivo de medicamentos, infecções, envelhecimento, estilo de vida e alimentação inadequada (como o consumo excessivo de açúcar, gordura e produtos industrializados).1,2
Atualmente, sabe-se que a disbiose está relacionada a várias condições de saúde, como doenças inflamatórias intestinais (DII), obesidade e síndrome do intestino irritado (SII), com impacto na eficiência do sistema imunológico e presença de sintomas intestinais como dor abdominal, alternância do funcionamento intestinal, diarreia causada por infecção ou uso de antibióticos, sintomas relacionados a intolerância a lactose, bolsite.1,2,3
Uma solução para disbiose seria o uso de probióticos, que são “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro”. Estes microorganismos, em sua maioria bactérias lácticas, principalmente dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium, podem modificar a microbiota intestinal por meio da competição por nutrientes, antagonismo, alimentação cruzada e suporte da estabilidade da microbiota, favorecendo o crescimento de bactérias boas em detrimento de patógenos. 1,2,3
Tais efeitos probióticos são dependentes da cepa utilizada e para um produto probiótico ser considerado seguro e eficaz, deve atender a algumas especificações listadas a seguir3,4:
- Sua ingestão não deve representar nenhum risco para o hospedeiro;
- A cepa deve ter perfeitamente identificação e caracterização fenotípica e genotípica;
- Deve manter suas características e permanecer estável durante o processo de fabricação e conservação antes do uso;
- Deve estar livre de qualquer tipo de contaminação;
- Após a ingestão a cepa deve atingir seu locar de ação,
- Deve sobreviver ao estresse fisiológico do processo de digestão: estômago ácido, pH intestinal, presença de sais biliares.
O uso de probióticos vem sendo testado em variadas situações. A SII, por exemplo, é um distúrbio intestinal de origem multifatorial (fatores ambientais, hereditários e psicossociais), caracterizada por sintomas como dor abdominal e alternância de diarreia e/ou constipação. Acredita-se que distúrbios na integridade da barreira epitelial, como mudanças na permeabilidade intestinal, possam estar envolvidos na sua fisiopatologia, e que alterações no microbioma intestinal pode ser um fator contribuinte para o surgimento dos sintomas na SII, desta forma, o uso de probióticos poderia ser recomendado. 3,5
Estudo conduzido por Lyra e colaboradores acompanhou 391 indivíduos com SII que utilizaram Lactobacillus acidophilus durante um período de 12 semanas e observaram melhora dos sintomas gastrointestinais após uso diário de 109 e 1010 UFC do probiótico.6 Revisão sistemática conduzida por ASHA a colaboradores também observaram melhora de sintomas gastrointestinais em pacientes com SII após o uso de probióticos.7
Além do uso associado a condições clínicas, vale destacar que outros grupos também podem se beneficiar do uso de probióticos visando a melhora do desconforto intestinal. Atletas frequentemente sofrem com náusea, vômito, cãibras ou desconforto e diarreia, durante provas ou treinamento físico. Especificamente em modalidades de endurance, observa-se sintomas gastrintestinais relacionados a hipoperfusão esplâncnica (fluxo sanguíneo reduzido para o intestino), choque mecânico (saltos para cima e para baixo), desidratação e ingestão de alimentos e bebidas, particularmente de alta osmolaridade (concentração de solutos como açúcares e eletrólitos, por exemplo, consumir géis concentrados) e o uso de probióticos a longo prazo apresentou efeito positivo sobre esse sintomas, sendo, inclusive autorizado e indicado pelo Comitê Olímpico Internacional.³
Desta forma, podemos concluir que o uso de probióticos, principalmente por período igual ou superior a 12 semanas, reduz sintomas gastrointestinais, como náusea, dor e inchaço, em diversas situações e pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
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A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
Referências
- SANDERS, Mary Ellen et al. Probiotics and prebiotics in intestinal health and disease: from biology to the clinic. Nature Reviews Gastroenterology & Hepatology, [S.L.], v. 16, n. 10, p. 605-616, 11 jul. 2019. Springer Science and Business Media LLC.
- BUTEL, M.-J. et al. Probiotics, gut microbiota and health. Médecine Et Maladies Infectieuses, [S.L.], v. 44, n. 1, p. 1-8, jan. 2014. Elsevier BV.
- KIM, Seon-Kyun et al. Role of Probiotics in Human Gut Microbiome-Associated Diseases. Journal Of Microbiology And Biotechnology, [S.L.], v. 29, n. 9, p. 1335-1340, 28 set. 2019. Korean Society for Microbiology and Biotechnology.
- Miles, M.P. Probiotics and Gut Health in Athletes. Curr Nutr Rep9, 129–136 (2020).
- DALE, Hanna Fjeldheim et al. Probiotics in Irritable Bowel Syndrome: an up-to-date systematic review. Nutrients, 2019.
- LYRA, Anna et al. Irritable bowel syndrome symptom severity improves equally with probiotic and placebo. W J Gastroenterol, 2016.
- ASHA, Mohammad Z. et al. Efficacy and Safety of Probiotics, Prebiotics and Synbiotics in the Treatment of Irritable Bowel Syndrome: a systematic review and meta-analysis. Sultan Qaboos University Medical Journal [Squmj], [S.L.], v. 20, n. 1, 2020.
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