Como deve ser a reabilitação no pós-alta de pacientes de COVID-19?

Postado em 8 de junho de 2020 | Autor: Dra. Maria de Lourdes Teixeira da Silva

Apesar de esforços voltados para o tratamento hospitalar, pacientes graves da COVID-19 podem apresentar sequelas que necessitam de reabilitação pós-alta

Mulher idosa na cadeira de rodas cumprimentando profissionais da saúde enquanto é parabenizada pela recuperação.

COVID-19 é uma nova doença infecciosa respiratória causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), de alta transmissibilidade, que pode determinar várias disfunções. Já acometeu até hoje mais de 6.600.000 pessoas no mundo, com 390.000 mortes (5,9%). Indivíduos de todas as idades podem ser infectados. Os idosos e aqueles com doença pré-existente (cardíacos, diabéticos, asmáticos e outras) parecem mais vulneráveis a desenvolver a forma crítica da doença e são tratados em terapia intensiva.

A necessidade de reabilitação dos sobreviventes da doença grave pós COVID-19, não deve ser ignorada, mesmo estando ainda em franca situação de pandemia com esforços voltados para o tratamento hospitalar.

Em linhas gerais, os pacientes que apresentaram a forma grave da COVID-19, evoluem com sequelas similares aos pacientes após doença crítica como sepse, com permanência prolongada em terapia intensiva. Podem ainda apresentar uma variedade de complicações associadas a doença viral.

Cada paciente deve ter um plano de reabilitação multiprofissional, de acordo com as sequelas e o momento da alta. Estima-se ser necessário um período de 6 semanas para reabilitação funcional, respiratória, neuropsicológica, para melhora da qualidade de vida e mobilidade.

O imobilismo é longo, com problemas físicos específicos que incluem severa fraqueza muscular e fadiga, rigidez articular, prejuízo na verticalização do corpo, no equilíbrio e na marcha. É previsível dificuldades nas tarefas do dia a dia e no trabalho.

A reabilitação física e da mobilidade deve incluir amplitude nos movimentos articulares, testes de força e equilíbrio. Exercícios de membros ativos devem ser acompanhados por progressivo fortalecimento muscular. Programas com séries (1 a 3) por grupo muscular com 8-12 repetições cada, com intervalo de 2 minutos de repouso entre as séries, 3 sessões por semana por 6 semanas. Recondicionamento aeróbio pode ser feito com caminhadas ou esteira ergométrica, com progressão lenta até 20-30 minutos, 3 a 5 vezes por semana.

A reabilitação respiratória na fase pós aguda é fundamental, com treino para fortalecimento da musculatura respiratória. Respiração lenta e profunda, expansão da caixa torácica com elevação dos ombros, respiração diafragmática, mobilização dos músculos respiratórios, técnicas de clareamento de via aérea e até dispositivo de pressão expiratória positiva pode ser indicado. Programa com pelo menos 2 sessões de 10 minutos de reabilitação respiratória por semana, por 6 semanas é benéfico. Respiração curta, saturação <95%, temperatura >37,20C, fadiga excessiva, dor torácica, tosse severa, cefaleia, taquicardia >100bpm, tontura, sudorese, alteração da pressão arterial devem ser monitorados e comunicados a equipe médica.

O comprometimento neuropsicológico nesses doentes é comum. Estudo chinês mostrou elevada frequência e em graus variados de desordens do sono (96%), ansiedade (93%) e ataques de pânico (90%) após a alta. Eventos neurológicos secundários podem ocorrer em 6 a 36%, e envolvem sistema nervoso central ou periférico, seja por migração cerebral do vírus ou síndrome respiratória grave com longa permanência em UTI. Destacam-se AVC isquêmico, tremores, encefalopatia, e mio e neuropatia após doença crítica, com possibilidade sequelas persistentes.

A dificuldade de deglutição pós intubação orotraqueal prolongada pode ocorrer em 50 a 90% dos casos, com indicação de mudar consistência dos alimentos ou manter a dieta por sonda enteral até completa reabilitação da deglutição ou de ingestão oral adequada. A desnutrição é frequente na fase de reabilitação, seja pela redução da ingestão oral por sintomas gastrointestinais prévios, inflamação e imobilização prolongadas ou patologias crônicas. Subestimar a importância da nutrição em pacientes com COVID-19 é um erro que pode afetar negativamente os resultados na fase aguda da doença e na reabilitação.

Ao lado da reabilitação por especialistas no domicílio ou centros de reabilitação, opções como telemonitoramento ou telereabilitação podem ser adotadas. O distanciamento social ou confinamento, ao lado de recursos médicos multiprofissionais alocados preferencialmente nos hospitais, podem comprometer a restituição da saúde aos pacientes sobreviventes da COVID-19 grave, da mesma forma que tem atrasado o tratamento das doenças como câncer, diabetes, doença cardiovascular e outras.

Estas novas questões devem merecer atenção, consideração e reflexão.

Referências e leitura recomendada

Lisa Mary Sheehy. Considerations for Postacute Rehabilitation for Survivors of COVID-19. JMIR Public Health Surveill 2020 | vol. 6 | iss. 2 | e19462 |

WANG, et al. Timely rehabilitation for critical patients with COVID-19: another issue should not be ignored. Critical Care (2020) 24:273

BRUGLIERA, et al. Nutritional management of COVID-19 patients in a rehabilitation unit. European Journal of Clinical Nutrition, 2020 may, 2

DE SIRE, et al. Systematic rapid living review on rehabilitation needs due to Covid-19: update to April 30th 2020 .European Journal of Physical and Rehabilitation Medicine, 2020 apr 15

KIEKENS, et al.  Rehabilitation and respiratory management in the acute and early post-acute phase. “Instant paper from the field” on rehabilitation answers to the Covid-19 emergency. European Journal of Physical and Rehabilitation Medicine, 2020 apr 15

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