Estudo publicado na revista Nutrition demonstrou que a dieta cetogênica promove mudanças negativas no perfil lipídico de crianças e adolescentes com epilepsia refratária, contribuindo para risco aterogênico nesses pacientes.
A maioria das opções de tratamento para epilepsia é baseada em drogas antiepilépticas. No entanto, 20% a 30% das crianças e adolescentes com epilepsia têm crises refratárias a estas drogas. Para esses pacientes, a dieta cetogênica tem sido indicada como um tratamento coadjuvante, com o consenso a respeito de seus benefícios para o controle da epilepsia.
Para avaliar os efeitos da dieta cetogênica clássica no perfil lipídico de crianças e adolescentes com epilepsia refratária, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) recrutaram crianças e adolescentes de ambos os sexos, cuja epilepsia era refratária ao tratamento com múltiplas drogas.
Para participar do estudo, o paciente deveria estar em atendimento ambulatorial e ter indicação para o tratamento com a dieta cetogênica. No início do estudo e após 3 e 6 meses da dieta, foram avaliados perfil lipídico (colesterol total [CT], triglicérides [TG], lipoproteína de baixa densidade [LDL] e lipoproteína de alta densidade [HDL]), apolipoproteínas (apo AI e apo B), 10 subfrações de HDL, 7 subfrações de LDL, fenótipo LDL e tamanho de LDL.
Os componentes do perfil lipídico (CT, TG, LDL, HDL, apoA-I e apoB) aumentaram durante os primeiros 3 meses de acompanhamento, e mantiveram-se consistentes após 6 meses. Da mesma forma, colesterol não HDL e as razões TG/HDL, LDL/HDL, ApoB/ApoA-I, representando partículas aterogênicas, aumentaram significativamente. Em contraste, as características qualitativas das lipoproteínas mudaram progressivamente durante o período de acompanhamento. Houve aumento em pequenas subfrações de LDL, e este perfil foi relacionado com o tamanho reduzido de LDL (27,3 nm a 26,7 nm) e o fenótipo LDL tornou-se pior depois de 6 meses de dieta.
Os autores explicam que pequenas partículas de LDL migram mais facilmente para a camada subendotelial, onde são mais suscetíveis à oxidação e outras modificações, intensificando a aterogenicidade desta lipoproteína.
“O tratamento utilizando a dieta cetogênica teve um efeito negativo sobre o perfil lipídico e contribuiu para um fenótipo mais aterogênico”, concluem os autores. “No entanto, não acreditamos que a dieta deve ser contraindicada para epilepsia refratária, e sua relevância clínica deve continuar a ser incentivada. Entretanto, os resultados do presente estudo sugerem que estudos adicionais, que incluam um maior tempo de seguimento, biomarcadores de risco cardiometabólico e uma análise subclínica aterosclerótica devem ser realizados”, afirmam.
Referência(s)
Azevedo de Lima P, Baldini Prudêncio M, Murakami DK, Pereira de Brito Sampaio L, Figueiredo Neto AM, Teixeira Damasceno NR. Effect of classic ketogenic diet treatment on lipoprotein subfractions in children and adolescents with refractory epilepsy. Nutrition. 2016 [Epub ahead of print].