Moléculas capazes de desligar genes e reduzir a expressão de proteínas, os microRNAs, parecem estar diretamente envolvidos no controle da diferenciação das células do tecido adiposo marrom. Esse é um tipo benéfico de gordura usado pelo organismo para gastar energia de modo a produzir calor e manter o corpo aquecido em períodos frios. A conclusão é de um grupo internacional de pesquisadores, entre eles biólogos moleculares da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O corpo humano é composto por pelo menos dois tipos de gordura. A mais comum é o tecido adiposo branco, um tipo perigoso que se acumula ao redor das vísceras e debaixo da pele, podendo causar obesidade e desencadear complicações metabólicas, como o diabetes tipo 2. A outra é o tecido adiposo marrom, que regula a produção de calor e, consequentemente, a temperatura corporal. Há algum tempo sabe-se que pessoas obesas têm mais tecido adiposo branco comparado com o marrom.
No estudo publicado na Nature Cell Biology, os pesquisadores utilizaram um inibidor farmacológico em camundongos obesos para tentar controlar os níveis de Bace1 (proteína que, quando expressa em grandes quantidades, impede a formação de células adiposas características do tecido adiposo marrom) no tecido adiposo marrom. O inibidor mostrou-se eficaz no controle dos níveis dessa proteína, aliviando as complicações metabólicas e reativando a função de adipócitos (células adiposas) do tecido marrom. De acordo com os autores, os animais que receberam esse tratamento tinham uma gordura marrom mais ativa e um metabolismo da glicose mais eficiente.
Além disso, foram analisadas centenas de microRNAs no tecido adiposo marrom de camundongos com obesidade induzida e os resultados detectaram baixos níveis de miR328 (tipo específico de microRNA), responsável pela supressão da proteína Bace1.
“Os resultados sugerem que o aumento anormal dos níveis de Bace1 no tecido adiposo marrom pode ser a causa de complicações metabólicas em animais obesos”, concluem os autores. “Coincidentemente, o aumento dos níveis de Bace1 também está associado a uma possível causa de Alzheimer, de modo que há algum tempo as empresas farmacêuticas têm se debruçado sobre o desenvolvimento de inibidores dessa proteína”, afirmam.
Referência (s)
Oliverio M, Schmidt E, Mauer J, Baitzel C, Hansmeier N, Khani S, et al. Dicer1-miR-328-Bace1 signalling controls brown adipose tissue differentiation and function. Nat Cell Biol. 2016; 18(3):328-36.